Tem-se
vindo a falar de uma redução do desemprego e dos “sinais” de retoma da
economia, registando-se, efetivamente, uma redução da taxa de desemprego
oficial. Mas será assim tão certo que estamos perante uma maior empregabilidade
e uma diminuição real da taxa de desemprego?
Podemos
começar por decifrar o que não entra para o cálculo da taxa de desemprego. Há
uma franja da população que estando desempregada não conta, no entanto, para a
taxa de desemprego, nomeadamente os desempregados que não procuram um emprego (“inativos
desencorajados”), todos os desempregados inseridos num curso de formação
profissional e programas de emprego (que não se traduzem na integração direta
no mercado de trabalho), mais conhecidos como “desempregados ocupados” e a
população emigrada.
Nos
últimos anos, o Governo incentivou a formação profissional e foi criando vários
programas com o objetivo da integração dos desempregados, resultando toda esta
“integração” numa diminuição do desemprego, o que não corresponde totalmente à
verdade. Será que um desempregado que seja inserido num programa para formação
ou estágio profissional estará realmente “empregado”?
Quanto
à primeira questão, as diversas ofertas formativas de pequena (Formação
Modular), média (Formação Profissional Qualificante) e longa duração (Formação
de dupla Certificação – escolar e profissional) têm vindo a crescer
significativamente nos últimos anos, em consonância com o aumento do
desemprego. A população envolvida nestas formações não é considerada
desempregada durante o percurso formativo, sendo designada como colocada.
Apesar destes não estarem efetivamente empregados são dados como ocupados,
tendo este número aumentado significativamente de 2009 a 2014. Dados do
Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) confirmam este crescimento,
registando-se atualmente 160.647 ocupados (média mensal), em comparação com
31.479 no ano 2009. Desta forma, uma parte significativa de desempregados foge
às estatísticas.
No
que respeita aos estágios profissionais, a resposta não é totalmente positiva,
pois apesar dos estágios oferecerem uma oportunidade de experiência prática em
contexto de trabalho, que pode ser bastante interessante para jovens que
procuram o seu primeiro emprego e nunca tiveram contacto com o mundo do
trabalho, não garante um emprego futuro e desta forma, no curto prazo, permite
mascarar os números do desemprego. De acordo com o IEFP, em setembro de 2014
estavam abrangidos 57.716 indivíduos na medida estágios emprego.
Também
os emigrantes, empurrados em busca de novas oportunidades, rejeitando o futuro
incerto que teriam de enfrentar em Portugal e tentando melhorar a sua qualidade
de vida, contribuem para estes “bons resultados” que o Governo gosta de
proclamar. Entre 2008 (quando se iniciou a crise) e 2012, o fluxo de emigrantes
mais do que duplicou, subindo nestes 4 anos 155%. Esta tendência de crescimento
da emigração continuou, registando-se um aumento de 51.958 emigrantes
permanentes em 2012 para 53.786 em 2013, segundo o Instituto Nacional de
Estatística (INE). Estes emigrantes, na sua maioria, tentaram enfrentar o
mercado de trabalho, o que se torna difícil nas condições que Portugal
atualmente apresenta, acabando por fazer parte da elevada taxa de desemprego. A
sua saída do país alivia desta forma os números do desemprego.
Podemos
então concluir que esta redução de desemprego não advém, apenas e só, de uma “retoma”
do crescimento da economia decorrente do “sucesso do ajustamento”, como o
Governo gosta de fazer transparecer, mas tem por trás diferentes causas que
passam muito ao lado de um “sucesso” do ajustamento ao qual Portugal esteve (e
ainda está!) a ser sujeito. Arriscaria até dizer que se trata do oposto, pois
um ajustamento que leva as pessoas a não terem alternativa senão deixar o seu
país e família, viver em constante mudança e sobressalto, mudando de curso
profissional em curso profissional, sem ter boas perspetivas para o futuro, não
é um ajustamento feliz. Pode até ter resultado numa diminuição dos valores
oficiais da taxa de desemprego, mas não numa real redução do desemprego.
Francisca Braga
Bibliografia:
Instituto Nacional de Estatística: www.ine.pt
Diário de Notícias: http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=4001825
Instituto do Emprego e Formação
Profissional: www.iefp.pt
“Mercado
de Emprego”- Estatísticas Mensais, Agosto 2014: https://www.iefp.pt/documents/10181/747525/Relatorio+de+Execu%C3%A7%C3%A3o+Financeira+agosto+2014.pdf/5c5c7a14-4924-4db7-addc-937a78ba9643
“Informação Mensal do Mercado de Emprego”, Setembro 2014:
“Relatório de Execução Física e Financeira”, Setembro
2014:
https://www.iefp.pt/documents/10181/747525/Relatorio+de+Execu%C3%A7%C3%A3o+Financeira+setembro+2014.pdf/5649afcd-bec5-4397-8bfc-7f062b98d71d
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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