A economia têxtil portuguesa assume uma elevada importância em Portugal pois exporta cerca de 70% daquilo que produz. As exportações da indústria têxtil portuguesa cresceram 10% nos primeiros 7 meses do ano 2014, face ao mesmo período de 2013. De destacar ainda o crescimento de 11,4 % na venda de produtos têxteis e, especialmente, a subida de 19% nas categorias de artigos correspondentes aos têxteis técnicos.
Por países, os principais clientes dos têxteis portugueses fortaleceram as suas posições, com Espanha a importar mais 14,7% dos seus fornecedores lusos, enquanto a subida em França foi de 12,9% e no Reino Unido atingiu os 11%. Mas há outros países na rota dos têxteis made in Portugal, como Angola (mais 20,9%) ou Noruega (56,6%), o que vem animar as perspetivas do sector em recuperar valores de exportação já atingidos no passado.
Até ao final da década, a pretensão do sector é atingir os 5 mil milhões de euros de exportações, igualando o valor que foi registado em 2001, antes dos anos da crise, com menos empresas e menos postos de trabalho do que nessa altura, mas com mais valor acrescentado, serviço e crescimento de margens. Para isso, a indústria têxtil contará com um Plano Estratégico, esboçado para reunir estratégias e linhas de ação até 2020. Design, inovação e tecnologia são pilares deste plano, considerando que a fileira, nos últimos anos, emagreceu em dimensão, mas ganhou flexibilidade, competitividade e força exportadora.
Relativamente a cenários, a instabilidade vivida nos últimos anos leva o Plano Estratégico a considerar três quadros: ouro, prata e chumbo, preparando, assim, o sector para o melhor e o pior, até porque o seu futuro estará mais dependente de fatores externos do que internos, visto que é um sector em que reina a exportação. No quadro mais pessimista, ou "cenário chumbo", cabe a desintegração da fileira para agregar menos de duas mil empresas "extremamente frágeis", com dificuldades competitivas, incapazes de gerar mais de três mil milhões de euros de negócios. As exportações seriam, então, inferiores a dois mil milhões de euros. Por outro lado, a visão mais otimista ou "cenário ouro", compatível com o quadro atual, revela uma fileira ativa e dinâmica, potenciada por fusões e aquisições, para obter escala e massa crítica. Haverá uma aposta na inovação tecnológica em produtos e processos, com capacidade de diferenciação face à concorrência, "impondo o Made in Portugal" e um conjunto de marcas de origem nacional "fortemente internacionalizadas".
Eu, pessoalmente, vivo numa zona em que reina a indústria têxtil, sendo a mais conhecida a empresa Riopele, que constitui uma das empresas portuguesas de referência no setor têxtil e uma das grandes exportadoras nacionais, e é um exemplo real da utilização destas estratégias. Esta empresa, por volta de 2009, face à crise instalada no país, viu-se obrigada a fazer uma reestruturação e, como consequência, reduziu significativamente o número de empregados. Apesar de ter diminuído o número de trabalhadores, a verdade é que a produção tem aumentado de ano para ano, tendo até, no ano 2013, registado lucros, algo que já não era possível há alguns anos. Este facto deve-se, sobretudo, à aposta firme na inovação e investigação no desenvolvimento de novos produtos e à maior competitividade e flexibilidade no local de trabalho. Como prova da aposta na inovação, foi criado, recentemente, o "Çeramica Clean", um tecido ecológico, suave ao toque, respirável e que evita as nódoas, e está, também, a ser instalado um departamento exclusivo para inovacão e investigação num dos pavilhões da empresa.
De salientar, ainda, que cerca de 98% da produção desta têxtil destina-se ao mercado de exportação, espalhado por mais de 30 países de todo o mundo. Por outro lado, discordo com a aposta na subcontratação, algo muito usual hoje em dia, quer na Riopele, quer nas empresas em geral. Apesar de ter algumas vantagens, penso que as pessoas subcontratadas provocam perda de flexibilidade no local de trabalho e poderá haver conflito de interesses entre a empresa e a empresa subcontratada, pois esta pode prestar os mesmos serviços a empresas concorrentes.
Em síntese, penso que este Plano Estratégico tem tudo para resultar, pois o setor têxtil soube reestruturar-se atempadamente para enfrentar novos desafios, sendo agora um setor mais pequeno, mas relevante estrategicamente em termos da economia nacional. Com efeito, este setor terá vantagens competitivas que estão relacionadas diretamente com a qualidade, com o know-how na produção industrial, com a existência de centros de competência que apoiam a engenharia do produto e nos colocam na linha da frente, com a penetração em mercados sofisticados e com a proximidade cultural dos mercados.
Tiago Machado
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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