Com crescente consistência nos últimos anos, a emigração é cada vez mais uma via a que muitos jovens recorrem em busca de trabalho. É frequente no café, na escola ou na rua ouvirmos pessoas próximas falarem dos seus planos para sair do país. O pior de tudo é não se tratar de uma opção pessoal, mas sim de uma obrigação de quem viu o seu país não lhe conceder uma oportunidade no mercado de trabalho.
Portugal é um país com história no que diz respeito à emigração. No entanto, a emigração do passado é muito distinta da atual. Nos anos 60, as pessoas que emigravam vinham de meios rurais, eram analfabetas ou muito próximas disso, não tendo qualquer habilitação específica. Procuravam fugir à pobreza, tendo sempre a esperança de no estrangeiro conseguirem juntar dinheiro para um dia regressar.
Hoje em dia não é assim. A emigração atual caracteriza-se pela juventude, bem como pela qualificação. O emigrante de hoje vai com o objetivo de construir uma carreira, vai à procura de uma oportunidade de brilhar num país que lhe dê o devido valor e não à procura de dinheiro para posteriormente regressar. Este emigrante, apesar de jovem, é competente e apresenta qualificações, nomeadamente licenciatura ou mestrado. Assim, estamos perante uma fuga de cérebros.
Olhando para os dados, é possível verificar que no ano de 2012 emigraram 121 418 portugueses, enquanto no ano passado o número de emigrantes foi de 128 108. De todos estes emigrantes portugueses, em 2012, 42 171 pertenciam à faixa etária dos 20 aos 29 anos. Assim, é possível comprovar que os jovens estão a sair de Portugal numa proporção maior do que os outros grupos.
Focando-nos agora nos dados sobre as qualificações dos emigrantes portugueses, podemos concluir que, atualmente, os licenciados nascidos em Portugal mas residentes noutro país representavam 20% do total de licenciados em Portugal. Em 2001, o número de emigrantes portugueses com diploma académico era de 77 790, passando para mais de 145 mil em 2011, o que corresponde a um aumento de cerca 87% numa década. Assim, podemos concluir que, atualmente, 10% das pessoas que emigram têm curso superior, enquanto em 2001 esse valor não ultrapassava os 6%.
Para estes portugueses que emigram, especialmente para os mais jovens, uma das consequências da crise económica que o país atravessa é o desemprego e a ausência de perspetivas de futuro. Isto porque, embora a taxa de desemprego tenha vindo a diminuir, a taxa de desemprego jovem tem vindo a aumentar, situando-se nos 35,6%, no segundo trimestre deste ano. Com isto, facilmente se percebe o motivo pela qual os jovens emigram. Preferem trabalhar no estrangeiro do que estarem desempregados. Em muitos casos, estes jovens eram mal pagos e apresentavam qualificações superiores ao que o trabalho que desempenhavam exigia.
O Governo português todos os anos gasta cerca de 4% do PIB em educação. Ora, sendo o Estado a financiar a maior parte do ensino dos portugueses, se estes emigram qual é o retorno que dão ao país? O capital humano é o recurso mais valioso que um país possui, pois este promove a inovação, o empreendorismo e a qualidade das instituições e da democracia. No entanto, face à exportação portuguesa de jovens qualificados, Portugal tornar-se-á um país envelhecido, desqualificado e pouco competitivo a nível internacional, podendo mesmo não crescer economicamente. Para além disso, isto terá um efeito negativo no equilíbrio demográfico do país, na sustentabilidade da segurança social, na capacidade de inovação e no futuro do país. Mas o grande problema disto é que, através dos impostos que recebe, Portugal subsidia a educação dos seus cidadãos, no entanto, se estes emigrarem, quem beneficia do seu capital humano são os países de destino, sem terem gasto nada com a sua formação.
Para contornar isto, o governo deve, na minha opinião, alterar o seu modelo de desenvolvimento, apostando na competitividade através da qualificação dos seus trabalhadores. Assim, os emigrantes podem ter incentivo ao regresso, regresso esse que só trará benefícios, visto que os indivíduos trarão consigo mais conhecimentos, maior experiência. Com isto, a economia portuguesa pode tirar proveito da emigração. No entanto, o governo tem de apostar na diversificação da estrutura produtiva, na diminuição dos interesses instalados na economia portuguesa e na construção de políticas que ajudem ao retorno dos emigrantes e à sua reintegração na sociedade. Só assim conseguirá dar lugar ao capital humano português.
Para além disso, o governo português deve também continuar a apostar na formação dos seus cidadãos, porque se assim não for Portugal voltará ao passado, isto é, a ser um fornecedor de mão-de-obra desqualificada e talentos por formar.
Rui Filipe Alves Barbosa
Referências:
- http://www.dn.pt/inicio/default.aspx
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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