A supervisão bancária em Portugal (Banco de Portugal e a Comissão do
Mercado de Valores Mobiliários - CMVM) não tem sido eficaz, como pudemos
verificar recentemente com alguns bancos acusados de agir de forma
irresponsável, tendo-se averiguado muitas situações de crédito mal parado,
esquemas de incentivos corruptos e comportamentos imprudentes onde a auditoria
não conseguiu exercer um controlo adequado, observando-se condutas imprudentes
e sinais de má governação na conceção e implementação de um sistema regulador
financeiro eficiente.
No sentido de contrariar esta tendência, a supervisão bancária em
Portugal tem que ter um papel mais interventivo, idóneo e credível, pois só
assim é possível evitar os problemas financeiros, como os casos do Banco
Privado Português (BPP), do Banco Português de Negócios
(BPN) e, mais recentemente, do Banco Espírito Santo (BES).
As crises financeiras dos casos BPP e BPN, que exibiram indícios de
vários tipos de crime, como corrupção, lavagem de dinheiro e tráfico de
influências, levando ao fim do BPP em 2010 e à nacionalização do BPN em 2011,
não foram suficientes para que as entidades reguladoras financeiras começassem
a agir de um modo mais eficaz.
No caso do BES, as consequências não foram tão catastróficas já que não
levaram à instabilidade geral do sistema financeiro, embora não tendo evitado as
consequências que neste momento esta instituição bancária está a
atravessar.
Se analisarmos mais de perto o caso BES, verificamos esta ineficácia
através dos enormes prejuízos que este vinha apresentando desde 2011. Bastava
estar atento à sua “engenharia financeira”, que num curto espaço de tempo
lançou obrigações perpétuas que, passado um ano, foram convertidas em ações, e,
passados seis meses, houve um aumento de capital, terminando em junho deste ano
com novo aumento de capital. Tudo isto são sinais de alerta que passaram ao
lado da supervisão, e o mais grave é que foi esta que autorizou que tudo isto
acontecesse. Como foi possível autorizarem um aumento de capital (27/05 a
09/06) com o prospeto publicitário “Participe no Futuro” e passados dois meses
este banco deixar de existir, defraudando todos os acionistas que foram ao
aumento de capital e que posteriormente compraram mais ações?
Foi com o desenrolar destes acontecimentos e do banco ter apresentado
elevados prejuízos semestrais que, em agosto deste ano, o Banco de Portugal
tomou o controlo do BES, anunciando a separação da instituição em duas
entidades distintas: o banco mau, onde ficaram concentrados os ativos e
passivos tóxicos do BES; e o banco bom (Novo Banco), onde ficaram os ativos e
passivos considerados não problemáticos. Podemos assim dizer que no caso do BES
a supervisão bancária, embora tardia, conseguiu atuar de modo a evitar o
colapso do banco e efeitos de contágio.
O Presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, disse que
"O que poderia ter sido um incidente sistémico é agora um incidente
restringido aos donos do banco", elogiando a atuação das autoridades
portuguesas e da Comissão Europeia nesta crise do BES, considerando que evitaram
uma possível crise sistémica, estancando efeitos de contágio no sistema
financeiro português e nos mercados europeus.
Draghi disse ainda que "O BCE disponibilizou à entidade
supervisora [Banco de Portugal] melhores padrões (…) formulando melhores
critérios de análise e foi graças a esses melhores padrões que a autoridade de supervisão
portuguesa pôde identificar os problemas no BES". Podemos então concluir que é urgente aumentar
a credibilidade do sistema financeiro português e estabilizar os níveis de
confiança, pois só assim é possível ter um sistema financeiro funcional, idóneo
e credível.
Esta mudança, tão urgente, espero que aconteça a partir de novembro
deste ano, no âmbito do Mecanismo Único de Supervisão (MUS), onde o BCE, em
cooperação com as autoridades nacionais competentes dos Estados-Membros da
União Europeia participantes, vai assumir a supervisão direta dos principais
bancos europeus, que em Portugal serão a Caixa Geral de Depósitos, o BPI, o BCP
e o Novo Banco. Já os supervisores nacionais ficam com a competência da
supervisão das instituições mais pequenas, mas sob o controlo do BCE.
De momento, o BCE está a avaliar o balanço dos cerca de 130 bancos que
supervisionará diretamente e que representam 80% dos ativos da Zona Euro, e realizará
também testes de stress. O presidente
do BCE disse ainda, no dia 22 de Setembro, na Comissão de Assuntos Económicos e
Monetários do Parlamento Europeu, em Bruxelas, que poderá obrigar os principais
bancos da Zona Euro a cortar nas remunerações dos administradores e nos
dividendos e a usar os lucros para reforçarem a sua base de capital.
Sendo assim, temos aqui indicadores promissores, que vaticinam uma
mudança no sistema de supervisão bancário e que esperamos que seja eficaz.
Marta Sofia
Lemos Marques Rodrigues
Referências:
Negócios
Banco Central Europeu
https://www.ecb.europa.eu/ssm/html/index.pt.html
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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