Portugal é um país com recursos úteis para a criação de novas ideias, sobretudo ideias inovadoras, e um bom exemplo disso é a cortiça.
A Associação Portuguesa de Cortiça (APCOR) foi criada com o objetivo de promover e representar a Indústria de Cortiça Portuguesa. Esta nasceu em 1956, em Santa Maria de Lamas, e associa empresas que visam a comercialização ou exportação de produtos de cortiça.
A indústria corticeira tem diversos produtos, sendo as rolhas o produto corticeiro mais famoso, pois estas possuem diversos formatos e dimensões de forma a adequar-se às variadíssimas garrafas. Com o avanço tecnológico e com uma aposta no investimento e desenvolvimento das potencialidades da cortiça, rapidamente se concluiu que esta era útil para a construção de materiais com uso no setor automóvel, no isolamento e até no revestimento de pisos e paredes. Esta foi de tal forma explorada que acabou por atingir muitos mais setores, incluindo o setor do calçado e vestuário, onde se revelou um verdadeiro sucesso, uma vez que nos dias de hoje o material que provem da casca do sobreiro tornou-se numa imagem de moda e design. Para além disso, este produto é natural, reciclável e reutilizável, o que levou alguns países a promover a reciclagem deste produto.
Desta forma, a APCOR delineou grandes objetivos, os quais consistem em expandir o mercado a nível nacional e aumentar a sua quota nos mercados emergentes, assim como posicionar a cortiça como material de valor acrescentado, em alguns segmentos.
Existem outros países exportadores de cortiça, no entanto Portugal é um dos países mais ricos em casca de sobreiro (716 mil hectares de montado de sobro), o que faz com que seja um grande exportador e, desta forma, a atividade tem um peso significativo na economia portuguesa (70% dessas exportações são as rolhas). Os principais importadores são a França, os Estados Unidos, a Espanha, a Itália e a Alemanha. Em 2012 a exportação deste setor atingiu os 845,7 milhões de Euros e 189,3 milhares de toneladas. Ao nível de produtos para consumo final, a indústria corticeira portuguesa é a quarta maior importadora, isto é, importa matéria-prima e exporta, depois, produto final.
Não foi só a APCOR que se internacionalizou no mercado da cortiça. Também o famoso grupo AMORIM o fez, pelo que hoje é uma das maiores multinacionais empreendedoras com origem portuguesa.
A cortiça tornou-se também numa imagem de prestígio e classe por toda a Europa, visto que vários países aderiram ao seu uso das mais diversas formas. Um desses exemplos encontra-se em Amesterdão, onde a cortiça proporcionou uma imagem de luxo à discoteca ”Jimmy Woo”, uma vez que Eric Kuster (designer de interiores holandês) diz que “com a cortiça é possível criar uma imagem que respira luxo, sem comprometer as qualidades robustas e naturais do produto.” Também os designers Alzira Peixoto e Carlos Mendonça criaram, em 2004, a Simple Forms Design, e ficaram conhecidos como "designers da cortiça" após a coleção "Cork” (criação de objetos de cortiça para casas de banho) que valeu o prémio Red Dot Design Award, em 2008. Esta empresa sente-se condicionada pela crise económica na Europa e como tal também aposta em mercados emergentes, como a Ásia.
É de um aproveitamento eficiente dos recursos naturais de que dispomos que surgem as “ideias brilhantes” como o aproveitamento da cortiça, no entanto estas mesmas ideias podem deixar de o ser, daí ser importante adquirir novas linhas e procurar mercados que ajudem ao crescimento. Um bom exemplo disso é o facto de antes a cortiça se associar a rolhas e hoje a cortiça ser também sinónimo de design. Assim, com uma aposta na investigação e desenvolvimento este mercado foi crescendo e originando novos projectos, entre eles a" Rolha 'inteligente'” (desenvolvida na Universidade de Aveiro), que nos permitirá saber se um vinho é bom ou mau.
Adam Smith dizia que “o verdadeiro valor das coisas é o esforço e o problema de as adquirir”. Mas é exactamente com este esforço na produção de novos e inovadores produtos com qualidade que muitas vezes se abre um caminho para a internacionalização, e surge a possibilidade de gerar mais emprego e promover o I&D (investigação e desenvolvimento). Desta forma o importante não é apenas a criatividade, mas sim tomar a iniciativa.
Ana Isabel Lamas Nunes
Referências:
Expresso
Diário de Notícias
APCOR
AMORIM
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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