quinta-feira, 2 de novembro de 2017

A falta de crédito às empresas (versão revista)

O crédito bancário consiste na modalidade de empréstimo de capital, neste caso em relação às empresas, assente na confiança.
Relativamente a Portugal, o valor dos empréstimos concedidos ao setor empresarial assume, atualmente, o mínimo histórico. Durante os primeiros 7 meses do ano corrente, os bancos atribuíram 16.478 milhões de euros às empresas, segundo os dados do Banco de Portugal. Este montante descreve o pior arranque de ano desde que há registo. Menos 8% face ao período homólogo de 2016.
A falta de financiamento por parte da banca nacional justifica-se por numerosos e variados motivos, sendo que o desajustamento entre a oferta e a procura de crédito, de acordo com Filipe Garcia, é o predominante. Conforme o economista da IMF, “Os bancos querem emprestar a empresas com melhor saúde financeira, que têm estado a desalavancar ou que não encontram projetos interessantes para investir. Pelo contrário, as empresas que precisam de crédito não têm encontrado vontade dos bancos em aumentar o envolvimento. Ou seja, as empresas a quem os bancos querem emprestar não precisam de crédito e às empresas que precisam de crédito os bancos não querem emprestar”.
As grandes empresas têm sido as maiores lesadas no que toca ao acesso ao crédito. Estas coletaram 6.570 milhões de euros durante os primeiros 7 meses de 2017. Comparativamente ao mesmo período do pretérito ano, ocorreu um decréscimo de 13,1%. As pequenas e médias empresas, por sua vez, conquistaram 9.908 milhões de euros entre janeiro e junho do presente ano, um montante que significa uma queda de 4,5% face a 2016. Se as empresas, principalmente as pequenas e médias, revelam dificuldades em aceder ao crédito, problemas futuros surgirão. Estas necessitam de capital para investir e, desta forma, potenciar o seu produto.
Não obstante as operações se situarem em mínimos, Filipe Garcia acredita que esta é uma preferência por parte dos bancos, já que se encontram mais criteriosos nas suas decisões. A abertura para a concessão de créditos existe, embora com maior facilidade em relação às famílias. No que concerne às empresas, os bancos optam por

selecionar ponderadamente quem querem, ou não, financiar de modo a não correrem riscos exorbitantes.
         Embora exista a consciencialização de que os bloqueios existentes ao financiamento do setor empresarial são um problema, previsões de 6 dos maiores bancos a operar em Portugal mostram que o crédito às empresas irá continuar em declínio até 2019. É preciso, portanto, encontrar um conjunto de alternativas que promovam o financiamento, já que este continua a ser uma prioridade, principalmente para as pequenas e médias empresas.
          A linha Capitalizar, lançada em janeiro deste ano, consiste num plano estratégico estimulado pelo Governo, que tem a finalidade de apoiar a capitalização das empresas, a retoma do investimento e o relançamento da economia. O Ministério da Economia espera que esta linha de crédito venha a suportar 20 mil empresas. Para além desta possibilidade, também outras medidas devem ser tidas em conta: criar condições para que o setor empresarial possa reduzir a sua dependência face à banca; abrir o mercado de capitais às médias empresas; entre outras. Sem estes passos, as empresas continuarão em recessão, o que constitui um sério travão ao investimento em Portugal.
No meu ponto de vista, é fundamental que os bancos, mesmo com todas as suas reticências, se mostrem predispostos a emprestar quando possível, pois só desta forma as empresas poderão recuperar a sua atividade e gerar números que sejam positivos para a economia nacional. Em consequência do bom funcionamento da atividade empresarial, surgirão novos postos de trabalho, o que fomentará, por exemplo, o consumo interno. Posto isto, as condições necessárias para a economia florescer passam pela restauração do crédito, embora existam alternativas a que as empresas podem recorrer.

Diana Esteves Antunes 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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