As Propostas de
Lei n.º 100/XIII-Aprova o Orçamento do Estado para 2018 e n.º 99/XIII-Aprova
as Grandes Opções do Plano para 2018 foram entregues dia 13 de
outubro, pelo Ministro das Finanças, ao Presidente da Assembleia da República.
Estas iniciativas referidas (Orçamento do Estado para 2018 e Grandes Opções do
Plano para 2018) foram aprovadas, esta sexta-feira à tarde, no Parlamento, na
sua generalidade, com os votos a favor de PS, BE, PCP e PEV, a abstenção do PAN
e os votos contra de PSD e CDS-PP. O desenvolvimento do processo orçamental
encerra com a votação final global, a 27 de novembro, a que se segue a
fixação da redação final, até 15 de dezembro, e, por fim, os Decretos da
Assembleia da República são enviados para promulgação pelo Presidente da
República.
Este documento visa a incisão mais
prioritária no alívio de impostos e no descongelamento de carreiras na Função
Pública que, segundo a proposta, este último, irá iniciar-se no dia 1 de
janeiro de 2018 e terá um período de dois anos de execução em vez dos quatro
anos previstos, uma vez que o seu pagamento é faseado. Na verdade, as medidas
presentes no Orçamento de Estado 2018 assentam na recuperação dos rendimentos
das famílias, na criação de emprego, no apoio ao investimento das empresas, na
inovação e também na promoção da proteção social e da valorização das pessoas.
O ministro das Finanças, Mário
Centeno, sublinhou ainda o crescimento do investimento público e defendeu que tal
irá continuar, na medida em que, “do ponto de financeiro, [o OE 2018] conjuga o
crescimento económico com a consolidação orçamental, que permitiu ao país sair
do Procedimento por Défice Excessivo”, e que “este é um orçamento que sustenta
os níveis de crescimento económico dos últimos trimestres e a rota de convergência
com a União Europeia”. “É um Orçamento que tem uma noção de continuidade
face aos Orçamentos anteriores (…), de rigor, de redução do défice público, de
forte redução da dívida pública”, acrescentou.
De
facto, soube-se que o Governo pretende fazer com que os salários até €925 não
estejam sujeitos ao imposto sobre o rendimento de pessoas singulares (IRS), o
que deverá beneficiar 1,6 milhões de agregados familiares. Em termos
globais, a carga fiscal deverá sofrer uma pequena redução ao nível da
tributação direta que incide sobre os rendimentos das pessoas singulares,
justificado pelo alargamento do número de escalões do IRS, que passa dos atuais
cinco para sete escalões, e pela confirmação de que deixará de se aplicar em
2018 a sobretaxa do IRS. Contudo, manter-se-á a taxa adicional de IRS, de 2,5%
para rendimentos entre 80 mil euros e 250 mil euros e de 5% para rendimentos
acima dos 250 mil euros. Por outro lado, há que considerar o agravamento a que
as pessoas singulares poderão estar sujeitas pelo fim da isenção da tributação
em IRS dos Vales Educação e pelas novas regras de determinação do rendimento
tributável, a serem aplicadas ao abrigo do regime simplificado de
tributação.
A
receita deste ano será o alívio fiscal do IRS, que irá entregar mais dinheiro
aos contribuintes em 2018, mas o Governo volta a subir os impostos indiretos, similarmente
como fez em 2017 com a tributação sobre as bebidas açucaradas, voltando
assim a ter a fiscalidade como a intenção de influenciar os hábitos de consumo
dos cidadãos, uma vez que a proposta de criação do imposto tem
a incidência sobre os produtos com alto teor de sal.
Efetivamente, estes impostos tiveram, nos últimos anos, um contributo decisivo no
cumprimento das metas orçamentais e ainda continuam a representar a maior fatia
dos impostos arrecadados em Portugal. Ainda assim, o impacto parece
ser positivo para as famílias.
O
enquadramento macroeconómico apresentado pelo Governo prevê um crescimento
económico de 2,2% do PIB, uma desaceleração face aos 2,6%
projetados para este ano, e um défice orçamental com uma redução para 1%. Para
alcançar estas metas, é necessário e expectável um crescimento do emprego de
0,9% em 2018, uma redução da taxa de desemprego média para os 8,6% da população
ativa, uma subida do saldo primário para 2,6% do PIB e o investimento total da
economia deverá progredir 5,9%. Estas previsões mantêm o nosso país numa
estratégia de consolidação orçamental e de cumprimento dos compromissos
internacionais, antecipando que possa ser alcançada em 2018 a maior redução da
dívida das últimas duas décadas, onde o corte da dívida de 2016 para 2018 é o sexto mais forte da zona euro.
De facto, “a conjugação do
crescimento e da redução do défice tem permitido que o país se coloque
numa trajetória de redução da dívida pública”, afirmou o Ministro das Finanças.
“É uma redução muito significativa, que deve ser mantida e, por isso, a
projeção para 2018 é que a dívida se coloque no final do ano [de 2018] em
123,5%”, como está previsto no orçamento de estado para 2018. Deste modo, este número
surge depois de se estimar conseguir baixar este rácio dos
130,4% de 2016 para 126,2% de 2017.
São assim,
no espaço de dois anos, menos 6,9 pontos percentuais do PIB de redução da
dívida pública. Como já tinha sido referido por Mário Centeno, este “é
um Orçamento que tem uma noção de continuidade face aos Orçamentos anteriores
(…), de rigor, de redução do défice público, de forte redução da dívida
pública”.
O resultado
deste documento é uma fatura de quase mil milhões de euros em 2019. Nas contas
gerais do Governo, as progressões e o alívio do IRS custariam 400 milhões de
euros em 2018, porém, com os 211 milhões de euros do
descongelamento das carreiras, a que se adicionam 230 milhões de euros de
alívio no IRS, tal fez com que existisse um
aumento de 41 milhões de euros. Por sua vez, este aumento não se deve só às
cedências feitas pelo governo em sede de negociação política. Aliás, a estas
duas medidas soma-se uma terceira que não estava prevista: a atualização
extraordinária das pensões, que aumenta o valor em 35 milhões de euros. Logo, o
seu custo total ficaria 476 milhões de euros.
Em
2019, estes custos irão mais do que duplicar para 962,2 milhões de euros. Em
2020, estas três decisões totalizam o montante de 1.084,4 milhões de euros, uma
vez que o atual Governo apresentou sempre medidas com custos faseados, ou seja,
os custos das medidas vão fazer sentir-se em força em 2019 e uma parte ainda em
2020.
Por fim, a questão subjacente é então
o facto de como se pagam as decisões, o que, na minha opinião, é uma questão
fulcral. No Governo há a ideia que, se a
economia estiver a crescer, estas medidas vão acabar por se pagar sozinhas, uma
vez que as medidas do lado da receita fiscal, por exemplo com o imposto
indireto sobre o consumo e as cativações, são compensadas pela queda esperada
na despesa com juros e ainda uma certa contenção de despesa e, desta forma,
estas medidas deixam de ser tão pesadas. Porém, já se verificou que não será
assim uma resolução tão linear quanto o Governo dá a parecer. Talvez, também
por ser em percentagem do PIB, que é como as regras orçamentais da Europa são
avaliadas, há ainda menos probabilidade de serem um problema. Tanto é assim que
o Governo mantém a meta de 1% do PIB para o défice orçamental no próximo ano e
consegue uma redução do saldo estrutural visando com tal que Bruxelas aceite o Orçamento,
na ordem dos 0,44% do PIB.
Na verdade, na análise preliminar
feita anteriormente à proposta de Orçamento do Estado para 2018 e às suas
medidas, estas “podem vir a ser consideradas insuficientes” para a Comissão
Europeia, em Bruxelas, que “terá subjacente a necessidade de medidas de
consolidação que se estima poderem atingir entre 0,6 e 0,9% do PIB”, pela
opinião dada pela Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO). No entanto, com uma opinião completamente
oposta, o governo acredita ter “todas as condições” para cumprir as exigências
de Bruxelas e o secretário de Estado Adjunto e das Finanças (Mourinho
Félix) afirmou que não está “particularmente preocupado” com a análise
da UTAO e está “convencido” de que Portugal “tem todas as condições para
cumprir o que lhe é exigido”, e que muito possivelmente faltaria “alguma
informação” à mesma.
Inês Isabel Carvalho
Garcia Pinto Pereira
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário