segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Exportações: o “Atlas” da economia portuguesa

Durante o assentar das cinzas provocadas pela devastadora crise que assombrou Portugal nos últimos anos, foi necessário reconstruir a estrutura económica portuguesa (ou o que sobrava dela). Para que tal fosse possível, determinados setores da economia desempenharam papéis fundamentais, não só pela forma como mantiveram a economia à tona, mas também pela forma como servem/poderão vir a servir de rampas de lançamento para o presente e futuro da economia portuguesa.
As exportações portuguesas assumiram a responsabilidade partilhada de ser um dos pilares da economia portuguesa durante este período conturbado e contribuíram de modo vital para a sustentabilidade económica. O papel foi ainda engrandecido pela necessidade de colmatação dos danos causados pelo declínio do consumo interno e do investimento. Apesar da contínua diminuição do PIB em Portugal, em termos reais, entre os anos de 2011 e 2013, as exportações registaram um aumento na ordem dos 6,4%, em termos absolutos. Com a retoma da economia, que começou em 2014, o crescimento das exportações acelerou e atingiu o máximo registado desde o início deste período marcado pelo surgimento da crise da dívida soberana.
Após o crescimento da relevância das exportações para a economia portuguesa (de cerca de 27% em 2009), este setor económico parece ter assentado a sua relevância na casa dos 40% do PIB. As exportações portuguesas são caraterizadas pela sua concentração no mercado europeu. Em 2016, cerca de 60% das exportações nacionais concentravam-se em 5 países europeus (Espanha, França, Reino Unido, Alemanha e Holanda, por ordem de relevância para as exportações portuguesas). Esta caraterística deriva, naturalmente, da proximidade geográfica e da afinidade cultural de Portugal com estes países. A quota de mercado portuguesa nas importações de cada um destes países tem, de um modo geral, registado valores continuamente superiores, apesar das diferentes flutuações económicas de cada país.
Embora uma parte relevante deste aumento possa ser explicado pelo crescimento da procura do turismo em Portugal, que é contabilizado como exportação de serviços, também a exportação de bens e serviços, em geral, melhorou consideravelmente. De 2009 a 2016, registou-se um aumento de cerca de 63% na exportação de serviços. Durante o mesmo período, as exportações de bens cresceram cerca de 57,7 %. A maior robustez que a exportação de bens pode representar, comparativamente à exportação de serviços, advém da volatilidade que o setor do turismo possui.
Portugal está na “moda” para os turistas. Algumas das razões para este fenómeno são a segurança em termos de ameaça terrorista (comparando aos maiores destinos mundiais e particularmente europeus), a relativa acessibilidade económica dos custos turísticos e um clima apelativo.
Segundo os dados BP e PORDATA, em 2016, as exportações portuguesas foram constituídas por, aproximadamente, 66% de bens e os restantes 34% distribuídos por serviços. Dentro da fatia pertencente aos serviços, as exportações relativas ao turismo representam 48%. Ao analisarmos estes números apercebemos da importância do turismo na dinâmica económica portuguesa. As preferências turísticas, exceto para destinos turísticos como Paris ou Londres, alteram-se rapidamente, e uma diversificação preventiva das prioridades pode ser benéfica de forma a evitar futuros choques económicos. Com isto não se pretende desincentivar os contínuos esforços no setor do turismo, que tanto valeram durante os momentos críticos de crise, e que agora contribuem para o crescimento do país, mas sim alertar para os perigos de uma economia parcialmente dependente do setor turístico.

Simão Oliveira Abreu

https://www.pordata.pt/Portugal/Exporta%C3%A7%C3%B5es+de+bens+total+e+por+tipo-2327

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]  

Sem comentários: