27 de Outubro de 2017 é uma data que fica para a história
devido à declaração unilateral de independência por parte da Catalunha. Esta
medida foi aprovada pelo parlamento da Catalunha com 70 votos a favor, 10
contra e 2 em branco, numa votação secreta em urna. No entanto, esta declaração
coincide com a da autorização concedida pelo Senado ao Governo espanhol no
sentido de suspender a autonomia catalã, conforme o previsto no artigo 155, ou
seja, as autoridades governamentais de Espanha e da Catalunha “embateram de
frente”.
Para evitar esta possível suspensão da autonomia, Carles
Puigdemont, presidente do governo autonómico da Catalunha, poderia ter optado
por convocar eleições. No entanto, não optou por esta via alegando “falta de
garantias de Madrid” em como as eleições decorreriam normalmente. Assim,
Mariano Rajoy destituiu Puigdemont e também os restantes membros do governo
catalão, tendo Madrid passado a controlar todas as instituições da região.
Apoiado pelos socialistas do PSOE, o maior partido da oposição, o Executivo de
Mariano Rajoy dissolveu ainda o Parlamento regional, convocando eleições na
Catalunha para 21 de dezembro. Há a possibilidade da Catalunha boicotar estas
eleições, embora seja um risco, porque iria enfraquecer a ala soberanista
representada no próximo parlamento.
O desfecho
do processo independentista é assim imprevisível, podendo as eleições
autonómicas de 21 de Dezembro, marcadas esta sexta-feira por Madrid, reforçá-lo
ou enfraquecê-lo. Talvez mais do que nunca, o futuro da Catalunha vai também
jogar-se nas ruas, com manifestações pró e anti independência.
Esta
possível independência catalã traria grandes mudanças a vários níveis: sociais,
económicas, políticas e até mesmo no desporto. A primeira consequência desta
possível independência é a saída imediata da União Europeia, segundo a ministra
dos Assuntos Europeus francesa, Nathalie Loiseau. Segundo Terra Friedrich Budini,
coordenadora do curso de Relações Internacionais da PUC-SP, caso a Catalunha se
torne independente, o novo país teria de fazer acordos políticos com as
principais potências europeias para subsistir a relação até agora mantida no
seio da UE. A coordenadora antevê ainda que, caso a independência não fosse
consensual entre Espanha e Catalunha, dificilmente a União Europeia aceitaria a
adesão da Catalunha, entrando em conflito com Espanha.
Outra
possível consequência seria política: uma grande instabilidade política por
toda a Europa, com várias regiões a querer “seguir o exemplo” e a reclamarem a
independência.
Com apenas
7,5 milhões de habitantes (16% da população total), a Catalunha produz um
quinto do PIB nacional, exporta um quarto dos bens e serviços produzidos no
país e acolhe metade das startups e
do novo investimento que anualmente desponta no território espanhol. Estes
dados permitem-nos ter noção do impacto económico desta possível separação. Um
estudo feito em 2014, pelo economista catalão e catedrático de Economia na
Universidade de Edimburgo, José Vicente Rodríguez Mora, conclui que a nova
realidade administrativa teria um impacto sobre o PIB de 2 a 2,5% para Espanha
e de 10% para a Catalunha. José Vicente explica que todas as redes de
distribuição de mercadorias teriam que ser reorganizadas, o que levaria a uma
revolução nas cadeias de valor espanholas. “São duas economias muito
integradas. Há empresas que operam em várias autonomias e que têm as suas redes
e cadeias de valor distribuídas por todo o território”, acrescentou.
Além disso,
com a Catalunha afastada da União Europeia, e consequentemente do euro, pelo
menos nos tempos logo a seguir à independência, novos impostos e taxas
alfandegárias teriam de ser lançados, tornando os produtos catalães mais caros
e levando a uma perda de competitividade por parte da Catalunha. A livre
circulação de pessoas seria igualmente posta em causa, afetando os serviços,
com efeitos sobre o mercado de trabalho e o nível dos salários. Atualmente, a
taxa de desemprego na Catalunha ronda os 13%, mas poderia aumentar.
Como é
possível perceber por estes estudos, a possível separação seria prejudicial
tanto para Espanha como para a Catalunha, embora ainda mais para a Catalunha.
No entanto, a língua, a cultura, a identidade catalã e o sentimento independentista
levam a todas estas manifestações e que, apesar das desvantagens, 41,1% dos
catalães defenda a independência, segundo o último inquérito realizado pelo
governo regional da Catalunha.
Renato Ruas Fontainhas
Lopes
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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