segunda-feira, 5 de novembro de 2018

“AGEING SUMMIT”, PORQUÊ?

Não é novidade para os portugueses que a população do nosso país está a tornar-se cada vez mais envelhecida. Surge assim, pela primeira vez, março de 2018, o “Ageing Summit”, em Serralves, Portugal. Tratou-se de uma cimeira sobre o envelhecimento populacional português, onde estiveram presentes vários nomes de grande importância, conhecidos nacional e internacionalmente, tais como Nelson Machado, John Farrell e Javier Ganzarain.
O evento, constituído por 4 conferências, começou por abordar o envelhecimento demográfico, ou seja, a reconfiguração demográfica e os desafios e as políticas públicas e sociais. De seguida, questionou-se como se pode proporcionar um envelhecimento ativo e saudável para que posteriormente se possa falar sobre inovação e investimento. Por último, temas como a gestão de reformas e realidade e ainda as tendências do consumo sénior foram também tratadas.
Assim sendo, fazendo uma análise mais detalhada, o índice de envelhecimento é a relação existente entre o número de idosos e a população jovem numa certa região, concretamente, é o número de residentes com 65 anos (ou mais) por 100 residentes com menos de 15 anos. Os últimos dados do INE - Instituto Nacional de Estatística - demonstram Portugal como um país desequilibrado e envelhecido.
Vários estudos são realizados todos os dias de modo a aumentar a esperança média de vida. Neste seguimento, um estudo iniciado em 2011 em Espanha, com o objetivo de prolongar a esperança média de vida a quem sofre de doenças associadas ao envelhecimento prematuro (atualmente sem cura), permitiu aumentar em 65% a esperança média de vida de ratos de laboratório devido a duas moléculas experimentais (epz-5676 e epz-4777).
Será possível que isto seja aplicado em seres humanos? Quase de certeza que sim. No futuro, poderá ser possível tratar doenças ligadas ao envelhecimento precoce. Sendo que, atualmente, as moléculas já estão a ser testadas em seres humanos com leucemia mieloide crónica. O médico responsável pela investigação afirma que nos ratos saudáveis também se verificou um efeito rejuvenescedor, o que poderia significar uma esperança média de vida até aos 135 anos. Será isto uma boa novidade para Portugal em termos económicos?
Para Portugal, entre 2000-2050, as projeções revelam que o envelhecimento da população vai continuar devido ao aumento da esperança média de vida e também devido a uma taxa de natalidade baixa. Esta pode vir a ser atenuado com a verificação de saldos migratórios positivos, no entanto, não vai evitar que tal fenómeno aconteça.
Por volta de 2030, a população de Portugal vai ficar abaixo do limiar de 10 milhões de pessoas. No seguimento disto, entre 2015-2080, o número de jovens diminuirá de 1,5 para 0,9 milhões e o número de idosos passará de 2,1 para 2,8 milhões. Assim sendo, o índice de envelhecimento vai duplicar, ou seja, para cada 100 jovens em vez de 147 idosos passarão a ser 317, em 2080.
É de salientar que a população em idade ativa diminuirá de 6,7 para 3,8 milhões de pessoas. Assim sendo, o índice de sustentabilidade poderá diminuir de forma acentuada, devido a esse decréscimo. Este índice passará de 315 para 137 pessoas em idade ativa, por cada 100 idosos.
Vendo desta perspetiva, as expectativas para Portugal não são favoráveis e o mesmo acontece noutros países desenvolvidos, visto que a taxa de natalidade é baixa e a esperança média de vida tem vindo a aumentar. Assim, o envelhecimento demográfico traduz alterações na distribuição etária da população, sendo as idades mais avanças em maior proporção. É ainda possível afirmar, segundo o INE, que no conjunto dos 28 Estados Membros, Portugal apresenta o 3º valor mais baixo quando se fala no índice de renovação da população em idade ativa e o 5º valor mais alto para o índice de envelhecimento. Para além disso, é o 3º país que apresenta um maior aumento da idade mediana entre 2003 e 2013. Portugal, Malta, Eslováquia e Croácia são os países que vão assistir com uma maior rapidez à pressão efetuada por este acontecimento.
Este fenómeno trará um desafio aos serviços públicos de saúde e de Segurança Social. Assim sendo, para a avaliação orçamental, vai ser cada vez mais importante como os Governos adaptam os seus sistemas de cuidados com a saúde ao envelhecimento populacional.
Na minha opinião, as descobertas feitas pelos médicos-cientistas são positivas na perspetiva dos seres humanos. No entanto, enquanto estudante de Economia, tenho que ser realista ao ponto de afirmar que podem ser más notícias para a economia portuguesa, visto que trará desafios devido à queda do número de pessoas em idade ativa e ao aumento do número de pessoas em idade não ativa. Deste modo, acho que iniciativas como o “Ageing Summit” bastante importantes porque ajudam a perceber e colmatar problemas futuros.

Francisca Nogueira da Cunha

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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