segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Ser licenciado fica caro…

O debate do Orçamento do Estado fez despertar novamente o tema do valor das propinas em Portugal. De acordo com a Comissão Europeia, Portugal é um dos países onde ter um diploma é relativamente caro. O dia 17 de novembro, dia Internacional dos Estudantes, é uma data onde muitos estudantes reforçam, através de manifestações, a sua posição sobre quanto custa estudar em Portugal, e todas as dificuldades que ultrapassam para se conseguirem formar e melhorar as suas perspetivas de futuro. Para além dos elevados preços dos quartos alugados a estudantes, surge também o debate em torno do valor das propinas, tendo sido defendido pelas associações de estudantes que esse valor deveria sofrer uma forte redução.
O Orçamento do Estado de 2019 aborda esta causa, e propõe uma descida de 200 euros na propina máxima. A medida a aplicar a partir do ano letivo 2019/2020 pretende "reforçar o ingresso de jovens no ensino superior". O ministro Manuel Heitor defendeu recentemente que “O ensino superior é de facto uma obrigatoriedade e o seu acesso deve ser livre, sobretudo ao nível da formação inicial”, explicando que o propósito de redução gradual e até mesmo a eliminação total da propina não é conseguido de forma imediata, mas tem de ser encarado como um “processo de convergência com a Europa”.
Mesmo que esta medida seja aprovada, a redução nas propinas não é suficiente, e por isso Portugal continuará no grupo dos países com propinas elevadas, de acordo com o novo estudo feito pela Eurydice. Atualmente, os valores anuais mais elevados de propinas correspondentes a cerca de 10.000 euros, e são cobrados aos alunos em Inglaterra. No caso português, as bolsas cobrem em parte ou na totalidade do valor da propina. Noutros países, é também possível a concessão de empréstimos bancários.
Na Europa, Portugal não é, evidentemente, o único país onde se pagam propinas. A nós, juntam-se as universidades espanholas, holandesas, suíças, italianas e irlandesas, cujo o valor vai desde os 1001 euros aos 3000 euros.  A França, Luxemburgo, Bélgica, Áustria e a Croácia são exemplos de países onde as propinas são mais baratas, nunca ultrapassando o teto de 1000 euros. Em países como a Alemanha, Grécia, Finlândia, Suécia e Noruega não existem propinas e os alunos conseguem uma licenciatura de forma gratuita. Assim, não é de todo estranho que a Finlândia, a Noruega e a Suécia tenham uma elevada percentagem da população com ensino superior, cerca de 43%. Portugal apresenta um valor muito inferior, e de acordo com os dados do Eurostat, apenas 24% da população tem um curso superior. Para Júlio Pedrosa, autor do estudo “Educação Superior em Portugal: uma nova perspetiva”, a atual realidade portuguesa reflete “uma carência de licenciados em vários domínios de formação”.
Apesar de ser benéfica para as famílias e para os estudantes a redução proposta no valor das propinas, e até mesmo uma possível eliminação total desse valor, é importante considerar que o Estado deve compensar as universidades pela perda das propinas. Desta forma, o Governo deverá compensar estas instituições fazendo uma transferência diretamente do Orçamento do Estado. De acordo com o que o Governo transmitiu durante as negociações, esta medida terá um custo entre os 40 e os 50 milhões de euros.
É relevante referir que os impostos são um recurso que Governo pode utilizar para angariar a receita necessária para atribuir às universidades. Contudo, esses impostos podem em muitas situações serem regressivos e prejudicarem os cidadãos mais carenciados e, numa perspetiva mais ampla, aqueles que não possuem familiares no ensino superior serão ainda mais afetados.


Patrícia Daniela Ribeiro Fertuzinhos




[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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