segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Hoje, o turista quer uma experiência criativa?

“Existe uma grande diferença entre uma viagem apenas para se lembrar e outra realmente marcante, para nunca mais se esquecer”. Então pergunto: O que é verdadeiramente fundamental para os viajantes quando escolhem os seus destinos?
Perante a realidade de que os turistas são cada vez mais informados, exigentes e aventureiros, a meu ver, estes procuram experiências únicas, genuínas, altamente personalizadas e enriquecedoras. Atualmente, existe uma nova vertente de turismo: o turismo criativo, que oferece experiências culturais e humanas autênticas, envolvendo a participação dos turistas com a população local.
Fazer turismo hoje em dia é muito mais do que visitar os pontos turísticos, e o turismo em Portugal está longe dos dias em que os turistas vinham procurar apenas sol e praia. Portugal distingue-se dos outros países não só pela qualidade do clima e praias, história, cultura e tradições, natureza, gastronomia, mas principalmente pelas pessoas e experiências oferecidas, tornando a viagem inesquecível. No final, o que dá sentido à viagem é a conexão com as pessoas, e com os locais visitados. Como viajante, não quero somente “ir a” mas sentir que, por alguns dias, faço “parte de”.
Existem várias formas para aprofundar a experiência criativa do turista que lhe permite descobrir a cultura local, como workshops, cursos de culinária, ateliers, experiências de degustação, novas formas de alojamento, fabrico de artesanato, itinerários culturais e paisagísticos, ambientes e espaços criativos. A co-criação é enriquecedora visto que leva o turista a participar na experiência bem como a fazer parte do processo de criação, ocorrendo a partilha de conhecimentos, tradições e cultura.
Mas como é que Portugal têm vindo a desenvolver o turismo criativo? Os responsáveis pelo desenvolvimento territorial e os operadores cada vez mais aventuram-se nesta área, pois sabem que a criatividade lhes permite acrescentar valor aos destinos e aos produtos culturais, criar novos produtos e facilitar a sustentabilidade.
Alguns exemplos, no nosso país, são a empresa Douro-Wellcome, que têm iniciativas como o Fim-de-Semana à Lareira, em que se tenta recriar um serão na aldeia, com direito a confecionar compota e bolos e ouvir histórias. Outras propostas da empresa são os Caminhos do Pastor, onde se pode acompanhar o pastor e o seu rebanho por um dia, ou os Caminhos do Pão, em que o turista vai "meter a mão na massa" e acompanhar o processo da produção de pão cozido.
A Cerdeira Village oferece alojamento criativo e de qualidade, na Serra da Lousã, aliado a uma vasta oferta de actividades, workshops e retiros criativos. No Porto, também existem múltiplas ofertas, desde “passear e azulejar”, tratando-se de um passeio cultural pelos azulejos do Porto e um workshop para pintar o seu próprio azulejo, conhecer e aprender a fazer a arte da Filigrana Portuguesa, entre outros.
Para além disto, existem os ambientes e espaços criativos, desde o espaço Maus Hábitos, um espaço interessante do Porto de intervenção cultural, abrangendo um restaurante, residência artística e salas para exposições e conferências, à Capital Europeia da Cultura em Guimarães (2012), etc.
Sendo assim, o turismo criativo é sustentável, uma vez que dá a oportunidade de diversificar a oferta turística de um destino, atraindo um turismo de qualidade, dando relevância ao património construído e imaterial. Além do mais, permite o combate à sazonalidade, possibilitando atividade turística durante todo o ano.
O interesse inferior dos turistas pelas “atracções turísticas” colabora para uma distribuição populacional mais equilibrada da área geográfica de destino e sua curiosidade pela cultura, em geral, e a do destino, especialmente, influência positivamente a autoestima da população local, sendo que também contribui para a imortalização e valorização de tradições. Por último, considera a preocupação ambiental, contrariamente ao turismo de praia, que produz bastante lixo.
Em suma, na minha perspetiva, o turismo criativo está na moda porque os turistas procuram cada vez mais esta forma de turismo, detendo uma postura diferente quanto à oferta. Porém, igualmente quem oferece um produto único tem de possuir uma atitude diferenciada. A criatividade é o fator de distinção nos destinos turísticos, logo Portugal precisa de apostar em novas ofertas turísticas criativas, em cidades mais pequenas e no espaço rural para potenciar estas zonas, e é importante atrair os turistas “certos”, aqueles que têm propensão a gastar mais.

Ana Catarina Freitas da Costa

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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