sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Poupança e os Portugueses

         Entendemos por poupança a ação de não gastar hoje para gastar no futuro. No entanto, os portugueses são dos principais na União Europeia a não gostarem muito de o fazer. O presente é algo tangível e concreto e, portanto, estarmos a restringir o nosso consumo hoje para apenas gastar no futuro, que é algo incerto e subjetivo. Tal não parece fazer muito sentido para os portugueses.
         Daí, e com base em dados do Eurostat, Portugal tem a mais baixa taxa de poupança entre os membros da União Europeia, com as famílias a dedicarem apenas 4% dos seus rendimentos para esse fim. Porém, é importante realçar que a preocupação com a poupança aumentou no meio dos portugueses. No primeiro semestre deste ano, 33,7% dos residentes no continente possuíam uma conta deste tipo, contra 31,6% no ano anterior. A questão levanta-se: faz sentido os portugueses pouparem mais e serem os que menos poupam na EU? Claro que sim!
         Primeiro, os portugueses poupam mais porque, cada vez mais, Portugal é um país caraterizado por constantes alterações cíclicas na economia. Ora estamos a crescer e vivemos momentos de prosperidade, ora estamos a ultrapassar uma crise cheia de cortes salariais e aumento dos impostos. Esta inconstância tornou-se tão real para os portugueses que eles próprios se tornaram mais precavidos. Comprovamos isto ao observar que, num ambiente onde faria sentido que os portugueses não poupassem, estes vão contra a história e aumentam a sua poupança. Aliás, 68% dos portugueses afirmam que o seu principal motivo de poupança são as despesas inesperadas que possam surgir.
         Segundo, estes são dos que menos poupam porque não existem incentivos para que isso aconteça. Com a taxa de poupança em mínimos históricos, o montante dos depósitos praticamente a zero e a taxa de imposto sobre as aplicações de aforro das mais elevadas da zona euro, os consumidores não têm razões para poupar. É importante acrescentar ainda que a descida da taxa de poupança é justificada pelo aumento do consumo, cujo ritmo de crescimento superou o aumento do rendimento disponível. A despesa de consumo final aumentou 0,9%, enquanto o rendimento disponível cresceu 0,7%.
         Em suma, mesmo que a consciência dos portugueses comece a ter algum peso aquando da decisão de poupar ou não, o Estado tem de criar incentivos para que a poupança aumente. É do conhecimento geral que poupar tem um peso gigantesco no investimento. Assim, é essencial que a entidade pública incentive o povo português a poupar para que depois estes possam investir, fomentando o crescimento económico.

Mafalda Rebelo

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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