sábado, 10 de novembro de 2018

Portugal e o investimento em tecnologia

As empresas portuguesas têm vindo a aumentar o seu investimento em tecnologia, embora de forma gradual. Com a comprovação da importância da tecnologia para o desenvolvimento e inovação, os entraves colocados ao investimento foram perdendo força e, atualmente, a maioria das empresas afirma estar a investir mais nas TIC. Estas, estão conscientes de que a transformação digital dos negócios já se iniciou, mas consideram que o fenómeno ainda se encontra numa fase inicial. Além disso, os investimentos das empresas portuguesas concentram-se sobretudo em tecnologias mais consolidadas, sendo que há uma menor aposta em tecnologias com maior potencial disruptivo. Estes investimentos, muitas vezes, não se integram no planeamento estratégico das empresas, pelo que toda esta atividade pode ser “supérflua” ou mesmo um “desperdício”.

Com a implementação destas novas tecnologias, existe um foco acrescido na eficiência operacional, isto é, numa gestão que permita atingir os objetivos usando menos recursos, não implicando assim diminuir os investimentos, mas aplicá-los de forma inteligente. Desta forma, os custos iniciais do investimento em tecnologia serão compensados pela poupança a longo-prazo dos restantes recursos.

O último estudo desenvolvido pela Ricoh acerca do local de trabalho digital, que incluiu 1608 diretores de PME, incluindo 77 portugueses, concluiu que metade dos diretores de PME europeias (51%) está a introduzir novas tecnologias no trabalho, com o objetivo de responder com mais brevidade às tendências e oportunidades do mercado. Portugal está acima da média da Europa. Cerca de 60% dos líderes das PME portuguesas procede, atualmente, à introdução de novas tecnologias no ambiente laboral.
A maioria dos diretores das PME europeias (86%) afirma estar focada na melhoria da agilidade empresarial. Em Portugal, 82% dos líderes das organizações afirma que existe esta preocupação no seio do trabalho. Para 52% das PME europeias, a ausência de renovação das tecnologias e a sua inadaptabilidade às necessidades atuais poderão conduzir a um fracasso no local de trabalho no prazo máximo de cinco anos. No caso português, 61% dos diretores das PME concorda com a projeção Europeia.
Os decisores responsáveis das PME dão prioridade à tecnologia que aborda diretamente as necessidades básicas dos colaboradores. As PME portuguesas consideram que a automatização (69%), a análise de dados (70%), a gestão de documentos (74%) e os sistemas de videoconferência (65%) são os fatores que terão um impacto mais positivo na empresa.
O estímulo à produtividade e à inovação leva à adoção de tecnologias mais inteligentes no local de trabalho, sendo este um fator considerado primordial para o sucesso empresarial. De acordo com a realidade laboral de 68% dos inquiridos portugueses, a tecnologia situa-se no centro da capacidade da sua organização, evidenciando a importância que as PME atribuem à digitalização das empresas. Os departamentos de Finanças (57%), Marketing (49%) e de Operações (42%) são os que consideram prioritária a introdução de novas tecnologias.
Numa segunda fase do estudo identificam-se três questões que estão a bloquear o desenvolvimento tecnológico das PME, sendo estas: a rigidez dos processos regulamentares; a hierarquia dentro da empresa; e a tecnologia insuficiente.
No caso, da rigidez dos processos regulamentares, os diretores queixam-se da excessiva regulação dos governos e dizem que o excesso de precaução leva a que prestem menos atenção aos processos internos (2 em cada 5 diretores das PME europeias afirmam que os governos que regulam a indústria atuam como uma barreira em numerosas ocasiões). No que à hierarquia dentro da empresa diz respeito, 35% das pessoas consultadas afirmaram que a estrutura interna da empresa muitas vezes impede a capitalização das alterações do mercado. Já no que à tecnologia insuficiente afeta, as PME consideram que a tecnologia que têm à disposição em alguns casos é insuficiente, sendo que 37% das empresas fala da falta de recursos para investir em novas tecnologias, o que as obriga a selecionar os investimentos de forma mais inteligente.
A título ilustrativo, conclui-se que, em 2021, mais de metade da economia global irá derivar da economia digital. As operações, vendas e relações empresariais com base na digitalização vão aumentar o crescimento em todas as indústrias. Presume-se ainda que, em 2020, os investidores vão focar-se na utilização de ecossistemas, no valor dos dados e na métrica da relação com os consumidores para avaliar as empresas e os negócios. Já num futuro próximo, em 2019, a expectativa é de que a despesa com capital para a transformação digital chegue aos 1,7 biliões de dólares, um aumento de 42% face a 2017.
Não obstante, podemos constatar que Portugal ainda está aquém quando comparado com outros países, sendo que as TI das empresas portuguesas estão entre 4 a 5 atrasadas. Segundo os dados da IDC, apenas 37% das organizações nacionais têm uma estratégia de transformação digital alinhada com a estratégia de negócio. Nos Estados Unidos, a percentagem é de 50%. Estima-se que em 2021 mais de metade da economia mundial esteja digitalizada, sendo que, em Portugal, na mesma altura, apenas 30% das empresas estará. Tal deve-se sobretudo ao facto de grande parte das organizações portuguesas não conseguirem compreender a transformação digital de uma forma transversal, como a capacidade de repensar os processos, a experiência do ecossistema e o desenvolvimento de novos produtos e serviços com base nas tecnologias da terceira Plataforma e Aceleradores de Inovação.
Portanto, conclui-se que Portugal ainda tem um longo caminho a percorrer no que ao desenvolvimento e adoção tecnológica diz respeito. Os entraves que se opõem ao investimento falam mais alto, principalmente em épocas de crise económica. Porém, verificamos que nos encontramos num período de transição e, de uma forma generalizada, já se começa a observar o aumento do investimento nas TIC, que tem tendência a continuar. Isto terá consequências positivas na eficiência operacional e no crescimento económico do país, devendo ser, portanto, esta uma preocupação generalizada.
Assim, é de evidenciar que o futuro é tecnológico, sendo este um tipo de investimento que cria uma riqueza sustentada e fundamental para o crescimento do país. Contudo, estamos numa fase inicial. No entanto, a continuar assim, o futuro adivinha-se risonho.
Luís Silva
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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