sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Mais do que um país de futebol, um país de desporto

“Portugal é um país de futebol” - esta é certamente uma ideia que já assentou na mentalidade tanto de muitos portugueses quanto de estrangeiros. Claramente, quando se junta simultaneamente as palavras desporto e Portugal, associa-se imediatamente ao futebol, que efetivamente merece destaque, sendo uma atividade com muito dinamismo e com um enorme impacto na sociedade portuguesa, quer seja pelo contínuo sucesso da seleção nacional ou pelo facto de termos imensos prodígios da área, não faltando a memória o Cristiano Ronaldo, nomeado melhor jogador do mundo.
Porém, os atributos do país no desporto vão para além do futebol e das incontestáveis qualidades e talentos dos nossos desportistas, sendo possível enumerar diversos desportos nos quais Portugal também se destaca pelas próprias particularidades e caraterísticas do país. Com mais de 800 quilómetros de costa, Portugal destaca-se também em diversos desportos marítimos, como o surf, que em 2017 em somente 11 dias gerou 14 milhões de euros para a  economia local, com uma taxa de ocupação de quase 100% nos hotéis e restaurantes devido à concretização do mundial de surf, em Peniche. Não obstante, as qualidades não residem somente no Mar português. A beleza das paisagens únicas de Portugal, aliadas a um clima ameno, deram ao país o título de Melhor Destino Mundial de Golf nos World Golf Awards, entre 2014 e 2018, atraindo anualmente cerca de 300 mil golfistas de todo o mundo, com uma receita de 120 milhões de euros.
As peculiaridades de Portugal por si só são suficientes para tornar o país um destino sublime para o turismo, o que justifica o contínuo crescimento deste setor, que continua a ser menosprezado relativamente a outros segmentos. A enorme relevância de Portugal na área do desporto é certamente um motivo de ostentação, contribuindo para o destaque e valorização do país enquanto destino turístico. Assim, da aliança entre o turismo e o desporto surge o Turismo de Desporto, que retrata o conjunto de práticas onde estes segmentos se tornam complementares, podendo subdividir-se em turismo de prática desportiva ou turismo de espetáculo desportivo, sendo que o turista atua de forma ativa como praticante ou de forma passiva como espetador, respetivamente.
Dada a abrupta força do desporto enquanto mobilizador de público, considero que o sucesso em diversas áreas desportivas é, de forma direta ou indireta, uma excelente estratégia de marketing, dado que, para além de permitir uma maior visibilidade do país perante o estrangeiro, atrai pessoas de todos os recantos como praticantes de turismo desportivo. Um ótimo exemplo é o Euro 2004, realizado em Portugal, que, para além das receitas diretas que proporcionou, contribuiu da mesma forma para a promoção do país no exterior. Adicionalmente, o turismo desportivo, quando aliado a uma oferta turística de qualidade, permite acrescer o fluxo turístico, visto que pode suscitar nos turistas o desejo de voltar a Portugal no intuito de revisitar e aprofundar o conhecimento sobre o património, a cultura e tradição portugueses. Torna-se relevante enfatizar a qualidade dos produtos de turismo desportivo, bem como de outros complementares, como o alojamento, os acessos, a gastronomia e até a animação turística.
Na minha perspetiva, o dinamismo do turismo de desporto tem simultaneamente impactes positivos e negativos para a economia e para a sociedade envolvente. Primeiramente, um dos aspetos positivos que pode surgir é o uso eficiente do excedente territorial, de tal forma que permite tirar proveito de espaços sem uso ou até abandonados, além de possibilitar o desenvolvimento e melhoria da construção de infraestruturas, nomeadamente de complexos desportivos, e também de espaços naturais. Adicionalmente, tem também um efeito benéfico para a identidade e espírito da comunidade afetada, permitindo a propagação da cultura e tradição da população local.
O turismo desportivo tem também um contributo económico para o desenvolvimento local, não só pela capacidade de marketing, como supramencionado, mas também por permitir a manutenção e criação de emprego, contribuindo para a redução do desemprego. No entanto, é necessário sublinhar que esta atração de oportunidades de emprego pode conduzir à destruição das comunidades tradicionais e perturbar o equilíbrio da economia local. Além disso, tanto a proximidade de infraestruturas desportivas importantes como a realização de eventos pode conduzir à inflação dos preços, o que por sua vez pode causar uma certa pressão financeira sobre os residentes locais.
No que diz respeito ao âmbito sociocultural, pode causar a perda da identidade cultural e de património. Adicionalmente, eventos desportivos tendencialmente dão origem a desordem, incitada pelas multidões, podendo em determinados casos estar relacionado com tensões sociais e, consequentemente, criar conflitos de teor violento, o que incita uma preocupação com a criminalidade e implica a necessidade de um maior controlo de segurança de forma a combater este possível desfecho.
Em suma, em Portugal, o turismo de desporto reúne as condições essenciais para um bom desenvolvimento económico e social. Desta forma, este mercado assume extrema relevância, não só pela capacidade de atração de turistas de forma direta assim como forma de promoção, fornecendo visibilidade a um determinado destino ou contexto turístico. Porém, é crucial reconhecer e usufruir eficientemente dos recursos do país, de forma retirar o maior aproveitamento dos mesmos e, para tal, é necessário aliar esse uso à qualidade da oferta dos produtos, que possibilitem a ascensão do segmento do turismo desportivo e promovem o destino em si, sem perturbar a identidade cultural e patrimonial do país.

Daniela Araújo Azevedo

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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