quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Indústria 4.0: um desafio ou uma oportunidade?

Após atravessarmos a Primeira Revolução Industrial no século XVIII, a Segunda Revolução Industrial na transição do século XIX para o século XX e, mais recentemente, na segunda metade do século XX, a Terceira Revolução Industrial, da computação e da internet, eis que surge, nos dias de hoj, a Quarta Revolução Industrial, também conhecida como “Indústria 4.0”, que está a transformar economias, empregos, e até a própria sociedade. Trata-se da revolução da digitalização massiva, da “Internet of Things”, da aprendizagem automática (machine learning) e da robotização, como também da nanotecnologia e dos novos materiais, e da biotecnologia. Ou seja, estamos nesta ocasião a atravessar um período marcado pelas tecnologias que fundem os mundos digital, físico e biológico. A quarta revolução industrial terá um impacto monumental na economia global, sendo que todas as grandes variáveis macroeconómicas, como o PIB, investimento, consumo, emprego, comércio, inflação, etc., serão afetadas.
Assim como as revoluções que a precederam, a Quarta Revolução Industrial tem o potencial de aumentar os níveis de rendimentos globais e melhorar a qualidade de vida das populações em todo o mundo. Até hoje, aqueles que mais ganharam foram os consumidores capazes de pagar e aceder ao mundo digital. A tecnologia tornou possível a criação de novos produtos e serviços que aumentam a eficiência e a satisfação das nossas vidas pessoais. Tarefas como chamar um táxi, marcar um voo, comprar um produto, fazer um pagamento, ouvir música ou ver um filme, hoje em dia, podem ser feitas remotamente.
No futuro, a inovação tecnológica irá também levar a um “milagre” do lado da oferta, com ganhos de longo prazo na eficiência e na produtividade. Os custos de transporte e comunicação irão cair, as cadeias de oferta globais e de logística tornar-se-ão mais eficientes, e os custos do comércio irão diminuir, fazendo com que surja a abertura de novos mercados, levando ao crescimento económico.
Simultaneamente, esta revolução pode também gerar maior desigualdade, particularmente dado o seu potencial para extinguir certos mercados de trabalho. À medida que a automação substitui a mão-de-obra ao longo da economia global, a substituição dos trabalhadores pelas máquinas pode exacerbar a lacuna entre os retornos do capital e os retornos do trabalho.
Neste momento, não é possível prever qual é o cenário que tem maior probabilidade de emergir. No entanto, estou convencida que, no futuro, o talento, mais do que o capital, irá representar o fator crítico da produção. Isto irá dar origem a um mercado de trabalho cada vez mais diferenciado em “low-skill/low-pay” e “high-skill/high-pay”, o que irá levar a um aumento das tensões sociais.
Este crescimento da automação está associado à contínua pressão da concorrência no contexto da globalização. As empresas estão a ser fortemente pressionadas para atingirem níveis mais elevados de produtividade e reduzirem os custos. A concorrência impulsiona as empresas e o setor de investigação e desenvolvimento (I&D) a procurar novas tecnologias de produção com vista a criar oportunidades para que as empresas aumentem a sua produtividade e competitividade.
As mudanças tecnológicas deram origem a ganhos de produtividade enormes que, até à data, têm agravado a desigualdade a nível do rendimento. Dado que o risco económico e político do aumento da desigualdade é desde já evidente, a forma de abordar o desafio a nível da distribuição dos ganhos de produtividade constituirá um elemento importante para moldar o futuro do trabalho e da sociedade.
Nem a tecnologia, nem a separação que está associada a ela, vêm como uma força exógena sobre a qual os humanos não têm controlo. Todos nós somos responsáveis por guiar a evolução da tecnologia, nas decisões que tomamos no dia-a-dia como cidadãos, consumidores e investidores. Portanto, devemos aproveitar a oportunidade e o poder que temos para dar forma à Quarta Revolução Industrial e direcioná-la para um futuro que reflita os nossos valores e objetivos comuns. É necessário moldar um futuro que funcione para todos nós, colocando as pessoas em primeiro lugar e capacitando-as. No cenário mais pessimista e desumano, a Indústria 4.0 pode efetivamente “robotizar” a humanidade. Todavia, pode ser um complemento às melhores partes da natureza humana – criatividade, empatia, organização – levando a humanidade a uma nova consciencialização.

Inês Azevedo

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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