terça-feira, 14 de junho de 2011

AS FASES RECESSIVAS E O CRESCIMENTO DE SURTOS NACIONALISTAS

Ao longo da história do velho continente temos verificado que esporadicamente e principalmente em alturas recessivas da economia, têm surgido no espectro das políticas nacionais grupos/partidos de carácter extremista e ultranacionalista. Um dos casos mais conhecidos foi indubitavelmente, a ascensão do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, vulgarmente designado por Partido Nazi. Apesar das suas origens terem sido surgido apenas em 1918, aquando da derrota da Alemanha na 1ª Guerra Mundial, só a partir 1921, altura em que Adolf Hitler se torna líder do partido, é que este partido se transformou numa organização radical e revolucionária. No entanto, só a partir de 1930 é que o Partido Nazi começou a ganhar o devido destaque no panorama político alemão.
Esta notória ascensão de um partido com uma ideologia radical, revolucionária e anti-semita, deve-se em parte à Grande Depressão originada pela Crise Mundial de 1929. Numa altura de crise mundial, em que as condições de vida da população se degradavam dia após dia, era relativamente fácil conseguir influenciar os cidadãos com este tipo ideologias. Se analisarmos as eleições para o Reichstag (parlamento) antes e após a Crise de 1929, conseguimos retirar conclusões notórias. Enquanto que na eleição de 1928, o Partido Nazi apenas conseguiu 2.6% dos votos, nas eleições de 1930 - a primeira eleição a surgir após a crise - os resultados foram completamente distintos, tendo o Partido Nazi alcançado 18.3% dos votos. Este foi sem dúvida o mote inicial para o enorme crescimento do partido, e os resultados eleitorais que se seguiram foram esclarecedores desse mesmo crescimento: 37.4% nas eleições de Julho de 1932; 33.1% nas eleições de Novembro de 1932 e 43.9% nas eleições de 1933. Gradualmente, e com uma forte liderança, Adolf Hitler tornou-se líder absoluto de uma nação, tendo em 1934 assumido as funções de Presidente, Chanceler e líder do partido. Tudo o que aconteceu posteriormente, foi o desenhar de um dos períodos mais negros da história mundial.
Após a 2ª Guerra Mundial, a adopção de ideologias nacionalistas e extremistas teve uma queda exponencial, fruto também da experiência recente que tínhamos vivido com o caso alemão. No entanto, esporadicamente iam surgindo uma ou outra voz mais radical pela Europa mas algo sempre com pouca expressão. Contudo, há medida que o processo de integração da União Europeia se foi fortalecendo foram surgindo várias vozes críticas em parte devido às consequências que a Comunidade tem originado na própria identidade dos países e das consequências dos fluxos migratórios. Por toda a Europa, vários partidos políticos com ideologias nacionalistas e extremistas têm ganho importância de uma forma considerável, que deveria certamente servir de aviso à Europa.
Vejamos a França que ainda num passado bem recente conseguiu levar a uma 2ª volta das eleições Presidenciais de 2002 Jean- Marie Le Pen, líder da Frente Nacional até 2011. Numa 1º volta alcançou uns estrondosos 16.86% perdendo apenas para Jacque Chirac que atingiu os 19.88%. É certo que na 2ª volta, os resultados foram esclarecedores, com 82.21% para Chirac e apenas 17.79% para Le Pen. No entanto, até há pouco tempo seria impensável vermos numa democracia como a França, ter uma possibilidade tão forte de ser liderada por um extremista como Le Pen. No entanto, este resultado não foi assim tão surpreendente, pois se analisarmos os resultados das anteriores Presidenciais, verificamos que a Frente Nacional até tem um peso relativamente importante no espectro da política francesa. Resultados de Le Pen nas Presidenciais de 1988, 1955, 2002 e 2007, respectivamente: 14.38%, 15%, 16.86% e 10.44%. Em 2012, teremos novas eleições Presidenciais, e face à actual situação económica e social que se vive, é de esperar que estes valores da direita radical voltem a subir.
Outro dos casos mais flagrantes que tem acontecido dentro na União Europeia, é o crescimento do partido Jobbik – caracterizado por adoptar uma ideologia radical, anti-semita, fascista e homofóbica - como 3ª força política na Hungria. Ainda recentemente nas eleições para o Parlamento de 2010, conseguiram um total de 16.67% dos votos, elegendo 26 deputados.
Por último falemos um pouco acerca do que acontece em Portugal, mais especificamente com o Partido Nacional Renovador. Trata-se de um partido fundado em 2000 que tem como ideologia principal a valorização do nacionalismo português, assumindo-se claramente como um partido da extrema-direita. Apesar de considerar que na prática este partido até possa participar com algumas ideias interessantes, a maioria delas são, no entanto, suportadas em ideias e teorias demasiado radicais para a actualidade.
Através de uma análise muito superficial do programa eleitoral para as legislativas de 2011, encontramos lá medidas como: a saída de Portugal da Zona Euro introduzindo novamente o escudo como moeda nacional; a saída de Portugal de NATO bem como a suspensão do espaço Schengen e o restabelecimento do controlo das fronteiras nacionais. Tudo isto são medidas que actualmente já não fazem qualquer tipo de sentido, parecendo que estaríamos a regredir aos períodos da ditadura. No entanto, apesar de este partido ainda continuar a representar um número total de votos algo insignificante, a verdade é que ano após ano os seus resultados tem crescido a olhos vistos. Nas primeiras eleições legislativas em que participaram em 2002, conseguiram 4712 votos, representado apenas 0.09% da totalidade de intenções de voto. Contudo, eleição após eleição o crescimento tem sido notório: 9374 votos , 0.16% ( em 2005) ; 11628 votos, 0.20% (em 2009); 17621 votos, 0.32% ( em 2011). De 2002 para 2005, verificou-se um crescimento do número de votos na ordem dos 98.94%, de 2005 para 2009 tivemos um crescimento de 24.05% e nas últimas eleições registou-se um aumento do nº de votos de cerca de 51.54%. Sem dúvida que continuam a representar resultados pouco significantes mas o crescimento tem sido notório. E o que realmente me intriga é que se trata de um Partido que praticamente não beneficia de divulgação dos media, nem o Partido tem apostado forte na sua divulgação. A partir do momento, em que tal venha a acontecer e caso a situação económica e social do país se mantenha é de esperar que este partido continue a crescer.
Portanto, a experiência tem-nos relatado que há uma relação muito próxima e directa entre a situação económica e social das economias com o surgimento de ideologias e grupos radicais e nacionalistas. E numa altura em que a Europa parece andar um pouco à deriva, estes grupos extremistas tem aproveitado essa falta de liderança que a União Europeia tem demonstrado, equacionando todos os princípios e objectivos da comunidade. Logicamente que o passado poderá ser um bom exemplo para que não voltemos a cair em erros que um dia a Europa já caiu, no entanto, face ao actual rumo que a Europa ameaça levar parece que é preciso cair novamente nos erros para que finalmente possamos aprender com eles.

Ricardo Gomes

Bibliografia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Eleições_legislativas_de_Portugal
http://en.wikipedia.org/wiki/Elections_in_France

[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. “Economia Portuguesa e Européia”, do Curso de Economia (1º ciclo) da EEC/UMinho]

1 comentário:

Ricardo Gomes disse...

Na altura em que escrevi este artigo deixei em aberto a questão sobre o que se iria passar nas eleições presidenciais francesas de 2012. Eis a passagem do artigo:

" Resultados de Le Pen nas Presidenciais de 1988, 1995, 2002 e 2007, respectivamente: 14.38%, 15%, 16.86% e 10.44%. Em 2012, teremos novas eleições Presidenciais, e face à actual situação económica e social que se vive, é de esperar que estes valores da direita radical voltem a subir"


As eleições acabaram de ocorrer e os resultados estão à vista de todos: a Frente Nacional, desta vez encabeçada por Marie Le Pen ( filha de Jean Marie Le Pen), conseguiu o melhor resultado de sempre para o partido, obtendo 17.9% das intenções de voto.

Hoje no jornal de notícias saiu um artigo precisamente a falar desta questão: "os votos extremistas e os velhos demónios..."


Aguardemos os próximos episódios desta história...mas receio que as minhas previsões continuem a bater certo....


Ricardo Gomes