quinta-feira, 16 de junho de 2011

´Habitats` e animais empresariais

Os tradicionais balanços contabilísticos têm cada vez menos utilidade na avaliação do desempenho e da potencialidade das empresas. Estes são de certa forma incompletos pois não conseguem medir nem avaliar diversos activos que podem fazer a diferença nem mostram o valor do capital intelectual, da marca, métodos de produção e acima de tudo a cultura empresarial.
A cultura empresarial é formada por valores éticos e morais, princípios, crenças, padrões de comportamento, formas de relacionamento, normas, regulamentos, costumes, políticas internas e externas e pelo clima organizacional (entre outros), compondo as regras que todos os membros da organização devem seguir e adoptar como directrizes e premissas para orientar o seu trabalho.
Está associada a elementos intrínsecos à empresa que determinam a forma e as prioridades das decisões e directamente ligada à mensagem incutida na sua missão. Uma adequada cultura empresarial ajuda a construir uma identidade própria e pode revelar-se como a chave do sucesso da organização. Sem dúvida alguma, que a cultura é um dos principais activos da empresa.
A cultura de uma empresa é também vincadamente marcada pelo tipo de indústria, sociedade e país onde se insere. Para as empresas, é absolutamente fundamental entenderem a cultura vigente no ambiente externo onde se enquadram, pois aquilo que pode eventualmente funcionar numa, não funciona na outra, com especial relevo na deslocalização.
As dificuldades que muitas empresas encontram quando se instalam noutros países ou regiões e adquirem ou se fundem com outras empresas advêm, muitas das vezes, dessas diferenças culturais que impedem o seu bom funcionamento. Neste aspecto destacam-se os europeus, dada a enorme riqueza cultural que possuímos.
Existem diversas funções que a cultura pode exercer dentro de uma organização. Ela define os limites, a coerência nos actos, dá aos trabalhadores uma sensação de identidade, o de pertencer a algo grande, amplo e sério, trazendo motivação e compromisso colectivo. Funciona até como um vínculo entre os colaboradores e a empresa, mas a sua principal função é a de distinguir uma organização de outra, com as suas marcas muito próprias.
Além de tudo isso, a cultura também ajuda na resolução de problemas internos, diminui conflitos e diferenças, faz o controle da gestão, e desenvolve uma imagem positiva da organização. Uma desvantagem que a existência de uma cultura organizacional pode vir a trazer é se ela puder, de alguma forma, impedir que a empresa progrida, colocando obstáculos a mudanças e a diversidade.
A cultura empresarial, como a gestão das organizações altera-se/transforma-se com o tempo, já que sofre influência do ambiente externo e das próprias mudanças na sociedade. Contudo, a cultura de uma organização também pode influenciar essa mesma sociedade.
Acho também importante salientar que, para além da cultura dominante/principal existem também subculturas, que podem ou não estar relacionadas entre si e que podem inclusivamente concorrer umas com as outras.
Agora numa época de especial consideração é essencial que as empresas saibam que é possível superar épocas de crise e que precisam de uma cultura empresarial inovadora e que lhe permita enfrentar as situações mais agrestes com confiança. É fundamental incrementar a comunicação interna, a atitude positiva, desafiar os conceitos, permitir o erro e a sua superação, encorajar e aceitar novas ideias e implementar uma gestão por objectivos.
Num ambiente de crise afectam-se primeiramente as pessoas, pois é delas que partem as expectativas, o empenho, o trabalho, para a sua superação um apoio nas pessoas e incentivos ao trabalho, ao optimismo, à comunicação empresarial e à mudança são fundamentais, pois é o capital humano, que dá valor à empresa.
No seio da União Europeia, várias acções e planos foram tomados e postos em prática com o objectivo de contribuir para a criação de uma cultura empresarial, para incentivar e estimular o espírito empresarial na Europa.
Estes planos comunitários propõem acções ao nível de ajudar os empresários a realizar as suas ambições, desde que exequíveis, proporcionar um ambiente favorável ao desenvolvimento das empresas, novos regimes de segurança, maior orientação, apoiar o desenvolvimento das relações entre empresas, atingir progressos ao nível da educação e das técnicas de trabalho e dinamizar o desempenho criativo e competitivo.
Como se num ambiente selvagem se tratasse, temos de entender melhor os “animal spirits” que nos influenciam e nos rodeiam, e elevar e libertar o potencial comercial em Portugal e na Europa.

Marco António Machado Carneiro

[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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