A actividade profissional e a família são os dois pilares fundamentais na vida de qualquer indivíduo. Só através das relações estabelecidas com a família é que o indivíduo é capaz de se realizar do ponto de vista afectivo e relacional, mas é com a actividade profissional que este alcança determinado estatuto social, tornando-se esta a sua fonte de rendimentos e de realização pessoal. Estas traduzem-se assim em duas dimensões da vida pessoal, inerentes à própria existência humana, mas que por vezes entram num conflito relacionado com a questão da gestão do tempo feita pelos indivíduos, entre a família e o emprego. Esta problemática, além de ter consequências a nível pessoal, coloca algumas questões à dimensão do próprio país, uma vez que tem repercussões nas taxas de natalidade, níveis de bem-estar, e produtividade dos próprios indivíduos. Desta forma surge aqui um espaço onde é importante que existe alguma actuação do Estado, como forma de facilitar e promover o processo de conciliação entre a actividade profissional e a vida pessoal dos indivíduos.
A consciencialização da dimensão desta questão, ganhou maior relevo a partir do momento em que a mulher largou o papel de dona de casa, e passou a estar totalmente inserida no mercado de trabalho, em condições praticamente iguais às dos homens. Este facto levou ao desaparecimento de uma figura permanente no lar, obrigando a um esforço por parte dos indivíduos para conseguir construir e manter uma estrutura familiar. O processo de mudança foi acompanhado por uma conquista de direitos por parte dos trabalhadores, que os permitia dispor das condições necessárias à conciliação do emprego com a família. Contudo verificam-se diversas situações em que estes direitos são esquecidos e não são respeitados pelas entidades empregadoras e muitas vezes pelos próprios trabalhadores. A necessidade que as empresas têm de ser competitivas, leva a que estas exigem a máxima dedicação do trabalhador à sua actividade, reduzindo a capacidade do mesmo se dedicar a actividades extra trabalho. É importante salientar também, a relação existente entre esta problemática e a questão da desigualdade entre géneros: segundo o Instituto Nacional de Estatística, as mulheres trabalham em média menos duas horas semanais do que os homens, contudo fazem em média, mas 16 horas semanais de trabalho não remunerado, relacionado com a família.
A importância desta questão ainda é por vezes marginalizada, e muitas vezes não se alcança a verdadeira dimensão da mesma. Apesar da enorme importância que a vida profissional deve assumir na vida de um indivíduo, é importante ter consciência de que o trabalhador tem direitos relacionados com a sua vida pessoal, e estes não devem ser descuidados. É desta forma fundamental que as entidades empregadoras desempenhem um papel de promoção e apoio à conciliação da vida pessoal com o trabalho, enquanto vector da responsabilidade social. Esta questão deve também assumir uma extrema importância na condução das políticas sociais, sendo que o poder governamental deve garantir mecanismos que permitam aos indivíduos desenvolver a sua carreira profissional, não tendo que para isso abdicar dos seus processos de socialização e encargos familiares. É assim necessária a criação de formas mais flexíveis de emprego e condições de trabalho que permitam um maior ajustamento dos ritmos de trabalho às necessidades e expectativas dos indivíduos.
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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