sábado, 5 de maio de 2012

Austeridade versus crescimento: o falso paradoxo!

          No espaço mediático, o debate austeridade versus crescimento tem ganho bastante audiência e está fortemente relacionado com as ideologias individuais, barrando assim o objectivo de chegar a um acordo lógico entre os dois pontos de vista.
Num dos lados há quem defenda que para o regresso ao crescimento económico é obrigatório passar primeiro pela austeridade nas contas públicas, mas já por outro lado também se defende um regresso ao crescimento económico com um aligeiramento das medidas da Troika, atenuando os efeitos recessivos da crise.
 No que diz respeito ao primeiro ponto de vista, acreditava-se que a redução da despesa do Estado não influenciaria o PIB, o que questiona indubitavelmente as leis matemáticas, uma vez que a fórmula do PIB tem as duas parcelas do consumo público e do consumo privado. Logo, se o Estado corta nas suas despesas de aquisição de bens e serviços, afecta a primeira parcela, e se corta em salários e pensões afecta a segunda dado que as famílias ao terem menos rendimento disponível têm directamente menos poder de compra. Quanto às exportações, outra parcela do PIB que se pensou que iria compensar a queda de consumo interno, mais tarde viu-se que devido à crise financeira de 2008, à recessão de 2009 e à actual crise de confiança tal não se reflectiu.
Relativamente ao segundo ponto de vista, o facto de que para recuar na austeridade é necessário ter capacidade de endividamento é claramente omitido. Assim, penso que tal ponto de vista é extremamente complicado de optar devido à actualidade vivida, pois o problema de confiança dos investidores é decisivo nesta situação. Se não temos a capacidade de pedir dinheiro emprestado, temos que ajustar as despesas às receitas e esquecer a tentativa de viver acima das possibilidades.
Em suma, este debate de ideologias não pode ser confrontado mas sim consolidado pois o que é certo é que ninguém nos empresta dinheiro a troco de conversa e como tal várias políticas têm que entrar em acção. Medidas como a flexibilização da gestão de pessoas ou o desbloqueamento do acesso ao crédito por parte das empresas consolida os dois pontos de vista tratados. É necessário ter um enquadramento de recursos humanos aderente à realidade e a ideia de utilizar 6 mil milhões de euros dos 12 mil milhões de euros para recapitalizar a banca, para pagar as dívidas aos bancos e para que estes coloquem ao dispor das empresas para projectos sustentáveis de forma a incrementar o crescimento da economia parece-me bastante viável.
Temos então de ser objectivos e proactivos e não cair na tentação da demagogia fácil, e só assim é que podemos ultrapassar a situação dramática que nos encontramos.

Pedro Filipe Moniz Faria 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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