No
espaço mediático, o debate austeridade versus
crescimento tem ganho bastante audiência e está fortemente relacionado com as
ideologias individuais, barrando assim o objectivo de chegar a um acordo lógico
entre os dois pontos de vista.
Num
dos lados há quem defenda que para o regresso ao crescimento económico é
obrigatório passar primeiro pela austeridade nas contas públicas, mas já por
outro lado também se defende um regresso ao crescimento económico com um
aligeiramento das medidas da Troika, atenuando os efeitos recessivos da crise.
No que diz respeito ao primeiro ponto de
vista, acreditava-se que a redução da despesa do Estado não influenciaria o PIB,
o que questiona indubitavelmente as leis matemáticas, uma vez que a fórmula do
PIB tem as duas parcelas do consumo público e do consumo privado. Logo, se o
Estado corta nas suas despesas de aquisição de bens e serviços, afecta a
primeira parcela, e se corta em salários e pensões afecta a segunda dado que as
famílias ao terem menos rendimento disponível têm directamente menos poder de
compra. Quanto às exportações, outra parcela do PIB que se pensou que iria
compensar a queda de consumo interno, mais tarde viu-se que devido à crise
financeira de 2008, à recessão de 2009 e à actual crise de confiança tal não se
reflectiu.
Relativamente
ao segundo ponto de vista, o facto de que para recuar na austeridade é
necessário ter capacidade de endividamento é claramente omitido. Assim, penso
que tal ponto de vista é extremamente complicado de optar devido à actualidade
vivida, pois o problema de confiança dos investidores é decisivo nesta
situação. Se não temos a capacidade de pedir dinheiro emprestado, temos que
ajustar as despesas às receitas e esquecer a tentativa de viver acima das
possibilidades.
Em
suma, este debate de ideologias não pode ser confrontado mas sim consolidado
pois o que é certo é que ninguém nos empresta dinheiro a troco de conversa e
como tal várias políticas têm que entrar em acção. Medidas como
a flexibilização da gestão de pessoas ou o desbloqueamento do acesso ao crédito
por parte das empresas consolida os dois pontos de vista tratados. É necessário
ter um enquadramento de recursos humanos aderente à realidade e a ideia de
utilizar 6 mil milhões de euros dos 12 mil milhões de euros para recapitalizar
a banca, para pagar as dívidas aos bancos e para que estes coloquem ao dispor
das empresas para projectos sustentáveis de forma a incrementar o crescimento
da economia parece-me bastante viável.
Temos
então de ser objectivos e proactivos e não cair na tentação da demagogia fácil,
e só assim é que podemos ultrapassar a situação dramática que nos encontramos.
Pedro
Filipe Moniz Faria
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