Vivem-se agora mais do que nunca,
dias de incerteza na Europa quanto ao futuro da moeda única. A crise económica
mundial condicionou as economias mais frágeis da Zona Euro: Grécia atravessa
uma crise inédita, mostrou-se incapaz de honrar os seus compromissos e teve que
obter um perdão parcial da dívida externa; Portugal enfrenta níveis de
desemprego elevadíssimos, nomeadamente para os mais jovens e adoptou medidas
ditas por muitos demasiado austeras e anti-crescimento; Espanha tem neste
momento uma taxa de desemprego de quase 25% ou seja, 5,6 milhões de
trabalhadores, um quarto da sua população activa; e ainda a Irlanda, cuja
dívida externa se situa nos 145% do PIB e que pode decidir a qualquer momento
que não é capaz de a pagar.
Todos estes casos eram do nosso
conhecimento há já algum tempo, e os líderes europeus têm feito um esforço para
os minimizar, afirmando que conseguem vislumbrar uma saída, através da austeridade
e do controlo fiscal e da união entre os países. Todavia, esta união e
estabilidade têm sido postas em causa por acontecimentos recentes e por aquilo
que deles pode resultar. O primeiro, a demissão do primeiro-ministro da Holanda,
o partido da oposição com o qual existia uma frágil coligação, recusou-se a aceitar
medidas de austeridade extra, vetando assim o Orçamento de Estado e não
deixando nenhuma alternativa que não a demissão. Apesar de se afirmar que se
tratou de uma jogada política para chegar ao poder, a verdade é que as
sondagens pré-eleitorais apontam para uma vantagem do partido anti-UE e que 57%
dos Holandeses consideram as medidas impostas pela Europa excessivas. Se um
país como a Holanda levanta barreiras às medidas de austeridade, o que impede a
Grécia, Espanha e Portugal, estes países sim verdadeiramente afectados, de
atirarem a toalha ao chão e abandonarem o Euro?
Mas o maior perigo para a União Europeia
advém das eleições em França e da possibilidade, apoiada pelas sondagens, da
vitória de François Hollande e tudo o que daí resultará. Como sabemos, a França
e a Alemanha, Sarkozy e Merkel, têm sido os grandes defensores das medidas de
austeridade na Europa, como forma de contrariar a crise internacional, e
impedir um aumento irrecuperável das dívidas externas dos países membros. Caso
Sarkozy perca as eleições, como tudo indica, esta coligação deverá terminar, isto
porque Hollande, na sua campanha eleitoral, prometeu lutar para alterar o pacto
fiscal assinado em Março pelos ministros europeus como forma de evitar outra
situação como a grega, apontando um tecto para a dívida externa. Hollande,
contrariamente a Sarkozy, defende uma redução controlada da austeridade como
forma de incentivar a economia francesa e europeia e estimular o crescimento. Assim
sendo, a Alemanha ficará só na defesa da austeridade, e ainda que isso possa
ser benéfico, estimulando o investimento e o crescimento das economias, as
agências de rating não vão gostar, os
juros vão subir e adivinha-se um apressar do fim da moeda única.
Qual é então o futuro da Zona Euro? A
verdade é que dos possíveis rumos a seguir nenhum parece dar muita esperança,
sejam eles, continuar como até aqui com elevadas medidas de austeridade,
excluir os países em dificuldades do Euro ou reduzir a austeridade e incentivar
o crescimento. Analisando um a um, continuar com as restrições e com as fortes
medidas de austeridade prejudicará muito o crescimento dos países membros e
continuará a verificar-se um aumento das taxas de desemprego. Tem sido aplicado
até agora e não parece estar a resultar. Caso se opte por excluir os países
periféricos do Euro, a moeda irá fortalecer-se, o que prejudicará as
exportações de países como a França e a Alemanha, além de que estes teriam que
compensar financeiramente os bancos que foram por eles “encorajados” a comprar
dívida soberana. A opção que falta é a de reduzir a austeridade, e apoiar
medidas de incentivo ao crescimento e ao investimento. Isto resultaria numa
maior união entre os países, pois acabaria com a oposição que se verifica
presentemente. Ainda assim, esta medida seria problemática, na medida em que
dificilmente seria dado o tempo necessário para que os incentivos dessem
frutos. As agências de rating, que detém
um poder desmesurado, sem austeridade para controlar as dívidas externas, iriam
ver o risco dos empréstimos crescer, aumentando assim os juros cobrados,
levando os países a situações de incumprimento e vendo-se forçados a abandonar
o Euro.
Por todos estes motivos, o futuro da Zona
Euro não se adivinha muito risonho. Parece não haver uma solução credível para
a situação actual e muito do futuro imediato da mesma se decidirá nas eleições
de França, Holanda e Irlanda.
André Silva
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