sábado, 5 de maio de 2012

O envelhecimento da população portuguesa e impacto na despesa pública

O envelhecimento da população na União Europeia é um facto preocupante sendo até apelidada de “Europa idosa”. As taxas de natalidade têm diminuido na maioria dos seus  países e a esperança média de vida tem aumentado consideravelmente.  Portugal não é excepção e o mesmo se verifica. 
Foram inúmeros factores que nos conduziram a uma queda da natalidade e aumento da população envelhecida, dando ênfase ao avanço da medicina, melhoria de condições de vida, maior participação da mulher na vida activa, casamentos tardios, redução da fecundidade e motivos económicos.
O envelhecimento populacional e o seu agravamento colocam graves problemas, sobretudo ligados ao aumento da despesa pública, em pensões de saúde e velhice, e ao aumento da dependência dos idosos perante a população activa. Ao longo das décadas tem-se verificado uma alteração dos níveis de dependência dos jovens e dos idosos sobre a população. Se, antigamente eram os jovens que colocavam mais encargos sobre a população activa, hoje verifica-se que com o aumento do índice de envelhecimento há uma inversão progressiva da tendência, constatando-se que são os idosos que mais encargos e pressões colocam sobre a população activa, prevendo-se um agravamento desta situação no futuro.
Ao analisarmos a estrutura da população empregada constatamos que a população em idade activa tem vindo a envelhecer de 2002 a 2008, notando-se um acréscimo de 2,7% de activos com 45 e mais anos, enquanto a percentagem de activos entre 15 e 24 anos de idade decresceu 3,3%. Estas percentagens demonstram que é maior a população que está mais próxima da reforma do que a população que vai entrar em actividade. Assim, um número cada vez menor de indivíduos em actividade vai ter que suportar o peso crescente do número de pensionistas.
Em Portugal, espera-se que a população total aumente até 2035 e se mantenha ate 2060. Mas a percentagem de populção com 65 ou mais anos aumente em 2035 para 24.9% comparando aos 17.4% de 2008 e, em 2060, aumente para cerca de 30.9%.
O aumento do número de idosos vai ter repercussões a nível das despesas públicas com prestações sociais. Com o avanço da idade, verifica-se a uma necessidade crescente de cuidados de saúde e assistência a idosos, reflectindo-se num aumento das despesas sociais relacionadas com a saúde e com a velhice. Em 2007, as despesas com a saúde, a velhice e sobrevivência constituíam o grosso dos encargos com prestações sociais, representando 20,7% do PIB (sobre um total de 23,4% do PIB).
Ao nível das pensões, de acordo com um estudo baseado nos dados e projecções do Eurostat, prevê-se que a despesa pública com pensões aumente de 11,1% do PIB, em 2004, para 20,8% em 2050; e que o total das despesas relacionadas com a idade passe de 23,8% para 33,4%, durante o mesmo período, constituindo uma forte ameaça para sustentabilidade a longo prazo das finanças públicas, podendo agravar o défice orçamental.
Como já foi referido, o envelhecimento coloca grande pressão sobre a sustentabilidade do sistema de segurança social. Deste modo, para combater o enfraquecimento do sistema, o Governo e os Parceiros Sociais propuseram um conjunto de medidas que visavam, por um lado, o aumento das receitas e, por outro, a diminuição das despesas. O mais recente relatório da Comissão Europeia, sobre o impacto orçamental do envelhecimento (2009), revê em baixa as estimativas do seu relatório de 2006 que colocava Portugal como um país de risco elevado. Para a alteração do cenário contribuíram as medidas levadas a efeito pelo governo Português. Desta forma, a Comissão considera que o impacto orçamental do envelhecimento será moderado em Portugal.
Perante este cenário de envelhecimento populacional, uma das soluções poderia incidir sobre a promoção de políticas natalistas e incentivos sociais, uma vez que, num contexto económico desfavorável, por muito que os casais desejem ter filhos os encargos que acarretam são elevados o que não permite que tal desejo se realize.

Ana Margarida Pereira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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