O sector da Construção Civil e da mediação imobiliária é muito provavelmente o sector mais castigado pela actual crise europeia e internacional, sendo este sector que mais contribui para o aumento do numero de desempregados e de falências em Portugal.
Entre o final dos anos 80 e os primeiros anos deste novo milénio, este sector viveu uma época próspera, onde proliferavam os investimentos públicos e privados, e o crescimento desta área de negócio era muito elevado.
As principais razões para o crescimento deste sector foram: a utilização de fundos estruturais comunitários para a criação e melhoramento de acessibilidades como estradas, auto-estradas, pontes, etc; políticas expansionistas por parte dos Governos que assentavam os seus Gastos em construção de Escolas (Ex: Parque Escolar), Hospitais, Edifícios Públicos como tribunais, câmaras, etc; e principalmente devido a uma maior facilidade na obtenção de crédito junto da banca, o que permitiu a aquisição de habitação própria por parte das famílias. Isto levou a um crescendo desmedido de habitações unifamiliares por todo o país.
A crise europeia e internacional desencadeou um efeito “bola de neve” que acabou por castigar fortemente o sector da construção civil e do imobiliário. O Estado parou todas as grandes obras públicas e diminuiu os seus Gastos, o que teve consequências drásticas para empresas que dependiam unicamente de obras do Estado como vias de comunicação, escolas e infra-estruturas camarárias. A nível nacional destacam-se as fortes quebras registadas em Janeiro no mercado das obras públicas, as quais comprometem a continuidade, não só da actividade, como das próprias empresas que se dedicam a este segmento da construção. Em termos homólogos, foram apurados decréscimos, em valor, de 77,1% no que respeita ao lançamento de novos concursos e de 55,3% no que concerne às adjudicações de novas obras.
No que respeita ao mercado imobiliário e à venda de habitações às famílias, as principais razões apontadas para a quebra do sector são: a crise, a queda de confiança dos consumidores e o aperto ao crédito. Isto fez com fosse criado um excesso de oferta residencial em Portugal, estimando-se que existam actualmente cerca de 350 mil casas à venda em Portugal, numero claramente superior à procura deste sector. O crédito
malparado também contribuiu em grande escala para a queda do mercado imobiliário, tendo este subido 64% entre Junho de 2007 e Julho de 2011, o que equivale a um aumento de 778 milhões de euros - passou de 1.216 milhões em Julho de 2007, para 1.994 milhões em Julho de 2011, fazendo com que os bancos fiquem cheios de casas hipotecadas aos seus clientes. Hoje em dia são entregues aos bancos 26 casas por dia por famílias que não conseguem suportar os seus empréstimos á habitação.
Toda esta quebra faz com que este sector seja o que mais contribui para o aumento do desemprego, representando um quarto do número total de novos desempregados. Desde 2002 o sector perdeu perto de 175 mil trabalhadores passando de 622 mil em 2002 para 447 mil em 2011. Outro indicador preocupante é o número de insolvências pedidas por empresas do sector aumentar ano após ano, tendo aumentado 36,8% em termos homólogos até Setembro de 2011, representando nesse período 18,4% do total de insolvências registadas para a totalidade de sectores de actividade.
Segundo José Tomaz Gomes, vice-presidente Executivo da AECOPS (Associação de Empresas de Construção e Obras Públicas), o sector precisa urgentemente de ser soluções para sair desta crise profunda que a seu ver passam pelo pagamento das dívidas às empresas de construção por parte da Administração Publica central, regional e local; rever as leis do arrendamento e do despejo; voltar a assegurar o financiamento e dinamizar a procura no mercado da habitação; promover a manutenção e reabilitação dos imóveis por parte dos seus proprietários e valorizar as cidades por parte das administrações públicas (criando fundos imobiliários de arrendamento e fundos para a promoção da reabilitação e da valorização das cidades); concentrar as opções de investimento público nas infra-estruturas de interconexão internacional e nos espaços urbanos e na dinamização dos instrumentos que possibilitem a reabilitação urbana e a competitividade das cidades (reprogramação do QREN 2011 – 2013 adaptada ao novo contexto institucional, financeiro e político) e apoiar a internacionalização das empresas de Construção.
António Coelho
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