Portugal
encontra-se a atravessar umas das mais graves crises de que há memória. Nos
últimos 11 anos, ou seja, entre 2000 e 2011, o PIB português cresceu, em média,
0,76%. Para este mesmo período, a Grécia apresentou um valor de 1,68%, a Irlanda
2,94%, a Espanha 2,22% e a média da EU-15 foi de 1,42%. Contudo, este valor
ultrapassa o verificado no caso de Itália, cerca de 0,70% (dados OCDE).
Muitas
têm sido as opiniões que se têm feito ouvir sobre qual será a melhor forma, a
mais eficaz para que Portugal consiga ultrapassar esta crise que está a deixar
muitos portugueses sem emprego, sem casa, sem comida. Apesar das diversas
fórmulas que têm vindo a ser apresentadas, todas têm um denominador comum: a
produtividade. Há muito tempo que se vem falando desta variável mas nunca as
suas consequências foram tão visíveis quanto agora. Portugal tem um dos níveis
mais baixos níveis de produtividade da União Europeia.
Segundo
dados da OCDE, relativos ao ano de 2010, por ano, os portugueses trabalham, em
média, 1714 horas (mais 150 horas do que a média da zona Euro, 174 horas
relativamente aos irlandeses e 40 horas relativamente aos nossos vizinhos
espanhóis). Contudo, de entre países como Itália, Grécia, Espanha e Irlanda,
Portugal apresenta a produtividade mais baixa. Nós produzimos, por hora, cerca
de 54,3% do que é produzido nos EUA no mesmo período de tempo, ao passo que os
países referenciados anteriormente produzem 74,4%, 57%, 80,1% e 107,9%,
respectivamente. Estes são dados preocupantes e que nos devem despertar a atenção.
De facto, Portugal tem um nível de produtividade 30 pontos percentuais abaixo
da média da zona Euro e sem melhorar esta variável, será muito difícil inverter
a actual situação económica que atravessamos.
Não
é fácil explicar aos portugueses um congelamento salarial. Aliás, esta medida
poderá ser até entendida como um ato completamente reprovável do ponto de vista
social. Contudo, e graças ao nosso baixo nível de produtividade, os salários
dos portugueses, em termos relativos, têm necessariamente de diminuir. Aliás,
esta é uma ideia defendida por Paul Krugman (Prémio Nobel da Economia em 2008).
Numa recente entrevista ao Jornal de Negócios, Krugman afirmou que os salários
relativos portugueses aumentaram graças a “entradas de capital muito grandes
que não vão continuar”, razão pela qual defende que “tem de ser feito um
ajustamento”.
No
entanto, os nossos problemas não se resolvem apenas com esta medida. Portugal
tem de aumentar a sua produtividade ou verá os seus salários relativos
constantemente reduzidos. Este aumento da produtividade depende da qualidade do
fator trabalho, do capital e investimento existente na economia portuguesa e de
fatores como o ambiente da atividade económica, a eficiência das organizações e
a atitude das pessoas.
Portugal
tem apresentado um elevado gasto público no que diz respeito à educação. Aliás,
este foi há em vários anos superior ao da média comunitária, tendência
invertida durante o ano de 2008. Contudo, o número de estudantes e a sua
preparação deixa muito a desejar. Graças ao programa “Novas oportunidades”, o
número de estudantes tem aumentado substancialmente desde 2006. Mas este
“sucesso” não se reflete nas qualidades intelectuais dos alunos uma vez que,
segundo dados PISA 2009, Portugal encontra-se sempre na metade mais mal classificada
do ranking da OCDE.
No
que respeita ao capital, a formação bruta de capital fixo real tem diminuído
desde 2008, tendência acompanhada pela entrada de investimento direto
estrangeiro (IDE), já que a saída de IDE tem estado sempre abaixo dos níveis de
2004, aproximando-se deste valor apenas em 2006. Ora o ciclo do investimento é
de difícil resolução uma vez que sem crescimento económico os investidores
privados não têm confiança na economia e, consequentemente, não investem. Desta
forma, o estado não consegue fazer com que o seu défice diminua e, assim,
também não tem capacidade para, ele próprio, investir na economia, estimulando
o seu crescimento.
Apesar
de todos este fatores económicos, o problema da produtividade em Portugal não
deixa de estar relacionado com a crise que se vive em termos mundiais, uma vez
que somos uma pequena economia aberta, muito dependente de economias como a de
Espanha e acabamos por sentir os choques económicos de forma muito mais
intensa, aparte a atitude das pessoas face a esta mesma crise – aliás, esta
pode explicar o porquê de trabalhadores com qualidade equiparada apresentarem
diferentes níveis de produtividade média.
Desta
forma, resolver o problema da produtividade em Portugal não é tarefa fácil, até
porque qualquer medida poderá ter consequências muito graves para a sociedade.
Contudo, é preciso apostar na qualificação dos recursos humanos, dotando-os de
conhecimentos técnicos suficientemente bons para que, no mínimo, estes se
encontrem em pé de igualdade como os formados dos outros países. Para tal é
necessário que o investimento na educação superior não abrande e que os
programas de qualificação de pessoas prezem pela exigência e excelência. Será
também necessários desburocratizar muitos dos processos económicos em Portugal,
tornando a Justiça mais célere e fiável. Aliás, estes são alguns dos fatores
que mais afastam os potenciais investidores em Portugal.
Assim,
devemos aprender com os erros e perceber que aumentar a nossa produtividade é
fundamental para sejamos capazes de ultrapassar as dificuldades e não estejamos
tão vulneráveis perante crises que continuarão a existir.
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
1 comentário:
muito bom parabéns
Enviar um comentário