domingo, 6 de maio de 2012

Produtividade em Portugal

Portugal encontra-se a atravessar umas das mais graves crises de que há memória. Nos últimos 11 anos, ou seja, entre 2000 e 2011, o PIB português cresceu, em média, 0,76%. Para este mesmo período, a Grécia apresentou um valor de 1,68%, a Irlanda 2,94%, a Espanha 2,22% e a média da EU-15 foi de 1,42%. Contudo, este valor ultrapassa o verificado no caso de Itália, cerca de 0,70% (dados OCDE).
Muitas têm sido as opiniões que se têm feito ouvir sobre qual será a melhor forma, a mais eficaz para que Portugal consiga ultrapassar esta crise que está a deixar muitos portugueses sem emprego, sem casa, sem comida. Apesar das diversas fórmulas que têm vindo a ser apresentadas, todas têm um denominador comum: a produtividade. Há muito tempo que se vem falando desta variável mas nunca as suas consequências foram tão visíveis quanto agora. Portugal tem um dos níveis mais baixos níveis de produtividade da União Europeia.
Segundo dados da OCDE, relativos ao ano de 2010, por ano, os portugueses trabalham, em média, 1714 horas (mais 150 horas do que a média da zona Euro, 174 horas relativamente aos irlandeses e 40 horas relativamente aos nossos vizinhos espanhóis). Contudo, de entre países como Itália, Grécia, Espanha e Irlanda, Portugal apresenta a produtividade mais baixa. Nós produzimos, por hora, cerca de 54,3% do que é produzido nos EUA no mesmo período de tempo, ao passo que os países referenciados anteriormente produzem 74,4%, 57%, 80,1% e 107,9%, respectivamente. Estes são dados preocupantes e que nos devem despertar a atenção. De facto, Portugal tem um nível de produtividade 30 pontos percentuais abaixo da média da zona Euro e sem melhorar esta variável, será muito difícil inverter a actual situação económica que atravessamos.
Não é fácil explicar aos portugueses um congelamento salarial. Aliás, esta medida poderá ser até entendida como um ato completamente reprovável do ponto de vista social. Contudo, e graças ao nosso baixo nível de produtividade, os salários dos portugueses, em termos relativos, têm necessariamente de diminuir. Aliás, esta é uma ideia defendida por Paul Krugman (Prémio Nobel da Economia em 2008). Numa recente entrevista ao Jornal de Negócios, Krugman afirmou que os salários relativos portugueses aumentaram graças a “entradas de capital muito grandes que não vão continuar”, razão pela qual defende que “tem de ser feito um ajustamento”.
No entanto, os nossos problemas não se resolvem apenas com esta medida. Portugal tem de aumentar a sua produtividade ou verá os seus salários relativos constantemente reduzidos. Este aumento da produtividade depende da qualidade do fator trabalho, do capital e investimento existente na economia portuguesa e de fatores como o ambiente da atividade económica, a eficiência das organizações e a atitude das pessoas.
Portugal tem apresentado um elevado gasto público no que diz respeito à educação. Aliás, este foi há em vários anos superior ao da média comunitária, tendência invertida durante o ano de 2008. Contudo, o número de estudantes e a sua preparação deixa muito a desejar. Graças ao programa “Novas oportunidades”, o número de estudantes tem aumentado substancialmente desde 2006. Mas este “sucesso” não se reflete nas qualidades intelectuais dos alunos uma vez que, segundo dados PISA 2009, Portugal encontra-se sempre na metade mais mal classificada do ranking da OCDE.
No que respeita ao capital, a formação bruta de capital fixo real tem diminuído desde 2008, tendência acompanhada pela entrada de investimento direto estrangeiro (IDE), já que a saída de IDE tem estado sempre abaixo dos níveis de 2004, aproximando-se deste valor apenas em 2006. Ora o ciclo do investimento é de difícil resolução uma vez que sem crescimento económico os investidores privados não têm confiança na economia e, consequentemente, não investem. Desta forma, o estado não consegue fazer com que o seu défice diminua e, assim, também não tem capacidade para, ele próprio, investir na economia, estimulando o seu crescimento.
Apesar de todos este fatores económicos, o problema da produtividade em Portugal não deixa de estar relacionado com a crise que se vive em termos mundiais, uma vez que somos uma pequena economia aberta, muito dependente de economias como a de Espanha e acabamos por sentir os choques económicos de forma muito mais intensa, aparte a atitude das pessoas face a esta mesma crise – aliás, esta pode explicar o porquê de trabalhadores com qualidade equiparada apresentarem diferentes níveis de produtividade média.
Desta forma, resolver o problema da produtividade em Portugal não é tarefa fácil, até porque qualquer medida poderá ter consequências muito graves para a sociedade. Contudo, é preciso apostar na qualificação dos recursos humanos, dotando-os de conhecimentos técnicos suficientemente bons para que, no mínimo, estes se encontrem em pé de igualdade como os formados dos outros países. Para tal é necessário que o investimento na educação superior não abrande e que os programas de qualificação de pessoas prezem pela exigência e excelência. Será também necessários desburocratizar muitos dos processos económicos em Portugal, tornando a Justiça mais célere e fiável. Aliás, estes são alguns dos fatores que mais afastam os potenciais investidores em Portugal.
Assim, devemos aprender com os erros e perceber que aumentar a nossa produtividade é fundamental para sejamos capazes de ultrapassar as dificuldades e não estejamos tão vulneráveis perante crises que continuarão a existir.

Ana Rita Machado


[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

1 comentário:

Unknown disse...

muito bom parabéns