Passados mais de 50 anos, o país dos
Alpes ainda se recusa a entrar na U.E., preferindo a adaptação unilateral das
leis europeias e o caminho das negociações bilaterais. A Suíça não faz, nem
nunca fez parte da União Europeia, embora se situe rodeada por países que
aderiram a U.E. Era crença do povo suíço que a possibilidade de adesão por
parte da Suíça ao Espaço Económico Europeu (EEE) viria a aumentar a medida que
estes compreendessem que a U.E. tinha vindo para permanecer.
Sendo em
2008 reconhecida como a 23ª economia do mundo, com um PIB de
aproximadamente 492,6 mil milhões de dólares, a Suíça apresenta uma economia
muito estável e em ascensão com um PIB per
capita superior a maioria dos países da U.E. Os fundamentais motores
económicos do país são a exportação de relógios, produtos químicos e
farmacêuticos, serviços de seguros e bancos internacionais e fornecimento de
energia elétrica aos países vizinhos, através de centrais nucleares.
Verifica-se que de todos os produtos exportados, aproximadamente 80% de todas
as trocas económicas são feitas com a União Europeia.
De acordo com Georg Kreis, a Suíça, a Grã-Bretanha e
outros países chegaram a participar num projeto de sabotagem, tentando criar
uma outra zona europeia de livre comércio com o intuito de impedir o
desenvolvimento da U.E., que acabou por lhe dar maior impulso.
Existiu em 1992 uma sondagem em
que os eleitores suíços impediram a entrada da Suíça na Comunidade Europeia. Os
restantes três membros da associação europeia de livre comércio, que se juntaram
com o intuito de preservar os interesses económicos próprios através de uma
área de comércio livre que se baseava na não sujeição a pagamento de impostos
aduaneiros pelos produtos importados de estados membros, juntaram-se à U.E.,
permanecendo na EFTA.
Realizou-se no ano de 2001 uma
nova votação nacional para que a Suíça aderisse à U.E., sendo que esta levou a
uma rejeição de 73% por parte do povo suíço, evidenciando-se deste modo o
cepticismo suíço em relação à abertura de negociações com a União Europeia.
Em 2010, a entrada da Suíça na
União Europeia era algo que permanecia como objetivo do Governo federal, tendo
sido apresentado um requerimento de adesão em Bruxelas.
Um aspeto que pode dificultar a
entrada da Suíça na Comunidade Europeia é a adopção de um sistema de democracia
direta, ou seja, no caso de solicitação de adesão à U.E., tal só se viria a
verificar no caso de aceitação por maioria de votos e Cantões através de um
referendo nacional. O melhor desfecho deste referendo seria um empate, colocando
o pedido de adesão à U.E. por mais cinco anos de lado.
Para garantir que a Suíça não
sofresse discriminação por não ser membro da U.E., a legislação suíça tem sido harmonizada
com a da Comunidade Europeia. A resposta pragmática do Governo suíço tem sido
de se comprometer em longas e complicadas conversações com a U.E. sobre uma
serie de acordos bilaterais. Desde 1998, Berna já assinou mais de 120 acordos
que complicaram o funcionamento das suas administrações. O primeiro grupo
de acordos bilaterais entre a Suíça e a U.E., que entrou em vigor em 2002, estava
relacionado com questões comerciais, laborais e de transporte. Em 2004 foi
assinado um segundo grupo de acordos bilaterais, que estava relacionado com uma
cooperação mais estreita em matéria de segurança entre os países do acordo de
Schengen.
Existem várias razões pelas quais a Suíça teme
a entrada na U.E., nomeadamente o não cumprimento dos requisitos democráticos
pelas instituições filiadas na U.E., a crise europeia que se alastrou desde o
anúncio do défice grego, a necessidade de reformas drásticas e limitações para
atender a todas as regras da U.E. pelo sistema suíço, os custos associados, na
medida em que este seria um grande contribuinte para os cofres da União
Europeia e a possível incompatibilidade da neutralidade suíça com o EEE.
Para além da falta de credibilidade das
vantagens da entrada na U.E. por parte do povo suíço, a indústria e o comércio
também não estão convencidos de surgirem benefícios com a adesão do país, uma
vez que a Suíça manteve sempre negociações com todo o mundo e as suas
exportações representam próximo de metade do rendimento do país.
Um dos maiores problemas que o Espaço
Económico Europeu vê na Suíça, é o sigilo bancário. Isto deve-se ao facto da
U.E. não compreender a distinção entre evasão fiscal e fraude fiscal adotada
pela Suíça, que dá margem a colaborar com o objetivo de punir os culpados. O
sector bancário suíço é muito importante para o país, uma vez que este é o
local de “preferência” utilizado para lavagem de dinheiro sem que ocorram
grandes penalizações para os seus depositantes. Em caso de adesão à U.E., muito
deste dinheiro poderia vir a ser perdido para outros países pela falta da
vantagem do sigilo bancário. Tal acontecimento era de facto preocupante, uma
vez que aproximadamente um quinto do PIB suíço resulta de dinheiro estrangeiro
depositado na banca suíça.
Podemos dizer que os assuntos relacionados com
a adesão do país ao Espaço Económico Europeu já não faz parte dos planos da
legislatura do governo, e que hoje o ingresso na U.E. é visto como uma mera
opção.
Em
jeito de conclusão, a entrada no EEE ou uma adesão em que se mantivesse a moeda
nacional, o franco, foi uma solução que seduziu algumas pessoas, mas mesmo
assim se verificou a aversão dos suíços à entrada na U.E.
Fernando Ricardo
Fernandes da Silva
[artigo de opinião produzido no âmbito
da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de
Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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