segunda-feira, 28 de maio de 2012

A necessidade de reforma do Estado Português

A desordem da economia portuguesa é tal que existem défices públicos incomportáveis associados a endividamentos astronómicos por parte de famílias e empresas. Uma vez que estas não arranjam forma de poupar gera-se um problema aquando da necessidade de investimento o que se traduz numa enorme dependência de capitais estrangeiros. Em termos de crescimento económico, Portugal apresenta um valor bastante reduzido (abaixo de 1%/ano nos últimos 10 anos) e no que toca à produtividade representa apenas 70% da média europeia. Assim a sustentabilidade do tecido empresarial português, a angariação de receita fiscal essencial para o saneamento orçamental, a atracção de investimento estrangeiro e ainda, naturalmente, a construção de perspectivas futuras para as famílias e empresas estão muito dificultadas.
Se nos cingirmos à questão das medidas de estímulo económico, corremos o sério risco de perder a confiança dos nossos credores. Porém, se procurarmos apenas controlar as finanças públicas arriscamo-nos a que o país entre num caminho perigoso de perda contínua de receita fiscal, sacrificando-se alguns anos de potencial crescimento. É então essencial actuar-se nestas duas frentes sabendo-se, todavia, da necessidade de se efectuarem sacrifícios.
Ao colocar a iniciativa privada como principal solução no desenvolvimento económico, obriga-se a uma revisão constitucional que lhe dê mais importância, em detrimento da intervenção activa do Estado na economia. Esta revisão tenderá, portanto, a promover a igualdade entre agentes económicos mas a reduzir o grau de intervenção do Estado, conseguindo-se assim atingir a concorrência leal entre as empresas e a existência de funções regulatórias eficazes.
Para tal, é necessário que se verifique um reforço da credibilidade do Estado, sendo este a dar o exemplo com a redução do número de deputados na Assembleia da República e dos benefícios dos seus funcionários. É igualmente importante reduzir-se o papel do Estado na economia, cortando-se os elevados gastos que tem com institutos públicos, estudos de consultadoria e excesso de colaboradores, aliando a tudo isto uma melhor afectação dos recursos no sentido de se atingir a maximização da eficiência dos serviços básicos do Estado; para além disso, era necessária a redução dos impostos para se estimular a economia, o emprego e a atracção de investimento externo. Devia-se ainda promover a igualdade de direitos entre sectores público e privado, eliminando-se os benefícios em termos de segurança social, garantia de trabalho e progressão de carreira do sector público.
Todas as empresas e serviços do Estado deveriam tornar-se auto-sustentáveis e deveriam ser estabelecidas metas de controlo orçamental na constituição a fim de se limitar muitas megalomanias estatais de retorno altamente duvidoso e se controlar os gastos das autarquias. Seria ainda necessária a adequação do estado social cujas preocupações se deviam centrar na estimulação do emprego e da natalidade. O Estado teria ainda uma função reguladora forte e independente, atribuindo um papel mais relevante, como já vimos, à iniciativa privada.
Assim, não podemos tomar decisões que comprometam o nosso futuro sem que haja responsáveis; não se podem proclamar reformas que no final fiquem aquém dos objectivos estipulados; e, muito importante, não devemos prometer hoje o que não podemos cumprir amanhã. O Estado somos todos nós e as nossas decisões devem ser ponderadas, realistas e com a margem de segurança suficiente que nos permita construir expectativas futuras positivas que justifiquem os sacrifícios necessários do presente.

Ema Costa

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3.º ano do curso de Economia (1.º ciclo) da EEG/UMinho]

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