domingo, 6 de maio de 2012

OS PREÇOS DOS COMBUSTÍVEIS

A evolução dos preços dos combustíveis em Portugal tem sido alvo de muita discussão, sendo um tema debatido desde uma conserva entre amigos, passando pela comunicação social, até ao debate político em Assembleia da República. Muitas são as vozes que se levantam dizendo que Portugal tem um dos combustíveis mais caros da União Europeia. Não menos são as que sugerem soluções para que esta situação se modifique para bem dos consumidores.
Se observarmos a evolução dos preços do gasóleo e da gasolina sem chumbo 95, percebemos que estes têm seguido uma tendência crescente desde 1999, tendo atingido um máximo no ano de 2008, que foi ultrapassado pelas recentes subidas já no ano de 2012. A verdade é que os preços dos combustíveis em Portugal seguem precisamente a mesma tendência que os outros países da EU, o que sugere que existem fatores, como o preço do petróleo que influenciam o preço final ao consumidor e contra o qual nos encontramos muito limitados. Aliás, a volatilidade do preço desta matéria-prima está muito relacionada com a instabilidade política que se vive em grande parte dos países exportadores de petróleo. Por exemplo, em 2010, a Nigéria foi o principal mercado de origem das importações petrolíferas portuguesas (14,7%), logo seguida da Líbia (13,8%). Ambos países apresentam fortes fragilidades políticas, com relatos recentes de guerras civis, onde, não raras vezes, o petróleo é a principal causa de conflitos.
Contudo, esta não é a única componente do preço dos combustíveis. Também a carga fiscal é uma parte muito significativa destes. Aliás, o imposto sobre produtos petrolíferos (ISP) tem sido apontado como grande justificação para os elevados preços dos combustíveis em Portugal, tendo já o Presidente da ANAREC sugerido ao Governo a flexibilização deste imposto sempre que o preço dos combustíveis aumente para que o consumidor não seja tão afetado. Contudo, quando observamos os dados de Fevereiro de 2012 relativos ao preço sem taxas, percebemos que Portugal tem o terceiro gasóleo e a quarta gasolina mais cara da EU-15. Acrescentando a esta informação o facto de Portugal praticar um dos ISP mais baixos do mesmo conjunto de países, podemos afirmar que o problema não se encontra na carga de imposto, até porque Portugal é um dos países onde o peso das taxas por litro de combustível é mais baixo, representado a carga fiscal (IVA e ISP) cerca de 44% do preço por litro do gasóleo (terceira mais baixa da EU-15) e 55% por litro de gasolina sem chumbo 95 (quinta mais baixa).
Estes dados sugerem o que parece ser de censo comum: a Autoridade da Concorrência, enquanto reguladora do mercado, e o Estado, enquanto supervisor da atividade desenvolvida pela anterior, não estão a cumprir as suas obrigações. Aliás, recentemente a Autoridade da Concorrência foi chamada a prestar esclarecimentos na Assembleia da República, onde o regulador afirmou que não existe qualquer tipo de problema no mercado e que os elevados preços se devem à pesada carga fiscal, fazendo a comparação que todos fazem, ou seja, comparando Portugal com Espanha. No que diz respeito à justificação apresentada para os elevados preços, penso que os dados acima referidos servem de suporte para refutar a teoria defendida pelo regulador. Já quando se trata da comparação com Espanha, esta tarefa torna-se mais complicada. De facto, o único país com que Portugal faz fronteira pratica um dos ISP mais baixos da EU-15, sendo o mais baixo no caso do gasóleo e o segundo mais baixo no caso da gasolina. Se acrescentarmos o facto de o IVA espanhol aplicado aos combustíveis estar 5 pontos percentuais abaixo do português, torna-se fácil explicar a diferença do peso das taxas no preço por litro de gasóleo e gasolina sem chumbo 95 (2 p.p. e 8 p.p., respetivamente).
Contudo, não me parece razoável o pedido do Presidente da ANAREC para flexibilizar o ISP. Sê-lo-ia caso estivesse assegurada a concorrência no mercado dos combustíveis, garantindo aos consumidores a maximização do seu bem-estar, o que os dados comprovam que não acontece. Assim, seria necessário que a Autoridade da Concorrência atuasse por forma a garantir os direitos dos consumidores, fazendo respeitar a lei. No entanto, isto só acontecerá quando esta entidade admitir que a existência de conluio no mercado dos combustíveis ou, pelo menos, a falta de concorrência é uma realidade. Aqui também o Estado está a falhar uma vez que não supervisiona o trabalho da Autoridade da Concorrência. Aliás, o Estado pode estar a sair lesado desta situação uma vez que o ISP é um montante fixado por cada litro de combustível vendido. Ora, apesar deste tipo de procura e oferta serem relativamente inelásticas, os portugueses começam a pensar bem antes de encherem o depósito das suas viaturas e as receitas com ISP, que representam uma parte muito significativa das receitas fiscais totais, tem vindo consecutivamente a diminuir desde 2007.
Concluo sublinhando o facto de Portugal apresentar um dos preços de venda ao público dos combustíveis mais elevados da EU-15 e dos mais baixos quando retiramos as taxas por litro de combustível, o que claramente remete para a falta de regulação do setor. O problema é que enquanto as entidades responsáveis não decidem atuar, os grandes prejudicados são os portugueses e as empresas que precisam dos combustíveis para continuar a sua atividade, como o setor dos transportes, por exemplo, existindo muitos postos de trabalho em risco.

Ana Rita Machado

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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