Não é só a
geografia que une Espanha e Portugal. As relações económicas entre os dois
países são de longa data. Os mercados estão a castigar Espanha em todas as
frentes. Se os mercados internacionais continuarem a pressionar a economia
espanhola, os impactos no nosso país serão inevitáveis. A recessão nacional
poderá ser mais longa e mais intensa e, com esse agravamento, todo o programa
da “troika” fica em risco.
Más notícias que prometem agudizar ainda mais a recessão de
Portugal em 2012. Pelo menos tão importante como isto parece ser a sistemática
revisão em baixa das perspetivas de crescimento e que resultam, pelo menos em
parte, do reforço da austeridade para dar resposta aos desvios encontrados nas
contas. Seja qual for o motivo, de uma coisa ninguém tem dúvida: a agudização
das perspetivas económicas de Espanha não vai deixar Portugal intacto.
Os
laços entre os dois países - desde a importância do mercado ibérico para as
exportações nacionais, ao peso do Investimento Direto Estrangeiro na Balança
Financeira portuguesa – são demasiado grandes para pensarmos que não vai haver
problemas adicionais. A “turbulência” no país vizinho, aliás, já foi uma das
principais razões invocadas pela “troika” para rever as previsões
macroeconómicas. As consequências mais óbvias são na taxa de crescimento do PIB
e na evolução das exportações. Estas serão as mais importantes e preocupantes,
pois delas resultará a maior parte das outras em que possamos pensar. Destas
decorrem maior dificuldade em atingir as metas orçamentais, tanto pelo efeito
da redução do PIB como pela pressão extra colocada do lado da despesa, que
corresponde a mais gastos sociais, e do lado da receita que, por sua vez,
corresponde a menos contribuições e impostos coletados. Se a tudo isto se
juntar o “contágio” que a subida dos juros em Espanha pode ter nos mercados que
transacionam títulos portugueses, então estão reunidas as condições para que o
regresso do nosso país aos mercados tenha de ser adiado para lá de 2013. O que
obrigará também, e a meu ver, a um novo empréstimo da “troika” a Portugal.
A
manter-se este cenário, a crise espanhola poderá materializar um dos riscos que
o FMI assinalou como sendo fatais para o cumprimento do pograma de ajustamento
da “troika”. Se não nos conseguimos distanciar da Grécia não nos vamos
conseguir distanciar de Espanha. O regresso de Portugal aos mercados depende
das circunstâncias externas, como o que acontece à zona euro, como um todo, à
crise do euro ou à economia mundial. Além do efeito de contágio, temos que
contar com o impacto direto sobre a economia real.
Os
dados do comércio internacional mostram que, no ano passado, Espanha comprou um
quarto de todos os bens que o nosso país vendeu lá fora. Se a recessão
espanhola for mais profunda, as empresas lusas terão mais dificuldade em vender
os seus produtos dado que a Espanha é o maior destino para as exportações
portuguesas. O que é mais preocupante para nós é que parece que Espanha está a
caminhar para passar pelo mesmo que passaram Grécia e Portugal.
No atual contexto, recordemo-nos que
as vendas ao exterior são a única esperança das empresas nacionais e o que
verificamos é que o mercado doméstico está cada vez mais deprimido. O que nos
questionamos frequentemente é se a Espanha conseguirá escapar à crise sem ajuda
internacional. A situação da Espanha
assusta por causa da iminência da revolta popular, podendo atingir os mesmos
níveis da conturbada Grécia. A economia portuguesa depende bastante da economia
espanhola. Dada a grande ligação entre as duas economias, neste momento em que
a economia lusa está fragilizada, o pior que poderia acontecer seria a queda da
Espanha.
Elsa Lopes
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