quinta-feira, 24 de maio de 2012

Portugal e Espanha caminham lado a lado

Não é só a geografia que une Espanha e Portugal. As relações económicas entre os dois países são de longa data. Os mercados estão a castigar Espanha em todas as frentes. Se os mercados internacionais continuarem a pressionar a economia espanhola, os impactos no nosso país serão inevitáveis. A recessão nacional poderá ser mais longa e mais intensa e, com esse agravamento, todo o programa da “troika” fica em risco. Más notícias que prometem agudizar ainda mais a recessão de Portugal em 2012. Pelo menos tão importante como isto parece ser a sistemática revisão em baixa das perspetivas de crescimento e que resultam, pelo menos em parte, do reforço da austeridade para dar resposta aos desvios encontrados nas contas. Seja qual for o motivo, de uma coisa ninguém tem dúvida: a agudização das perspetivas económicas de Espanha não vai deixar Portugal intacto.
Os laços entre os dois países - desde a importância do mercado ibérico para as exportações nacionais, ao peso do Investimento Direto Estrangeiro na Balança Financeira portuguesa – são demasiado grandes para pensarmos que não vai haver problemas adicionais. A “turbulência” no país vizinho, aliás, já foi uma das principais razões invocadas pela “troika” para rever as previsões macroeconómicas. As consequências mais óbvias são na taxa de crescimento do PIB e na evolução das exportações. Estas serão as mais importantes e preocupantes, pois delas resultará a maior parte das outras em que possamos pensar. Destas decorrem maior dificuldade em atingir as metas orçamentais, tanto pelo efeito da redução do PIB como pela pressão extra colocada do lado da despesa, que corresponde a mais gastos sociais, e do lado da receita que, por sua vez, corresponde a menos contribuições e impostos coletados. Se a tudo isto se juntar o “contágio” que a subida dos juros em Espanha pode ter nos mercados que transacionam títulos portugueses, então estão reunidas as condições para que o regresso do nosso país aos mercados tenha de ser adiado para lá de 2013. O que obrigará também, e a meu ver, a um novo empréstimo da “troika” a Portugal.
A manter-se este cenário, a crise espanhola poderá materializar um dos riscos que o FMI assinalou como sendo fatais para o cumprimento do pograma de ajustamento da “troika”. Se não nos conseguimos distanciar da Grécia não nos vamos conseguir distanciar de Espanha. O regresso de Portugal aos mercados depende das circunstâncias externas, como o que acontece à zona euro, como um todo, à crise do euro ou à economia mundial. Além do efeito de contágio, temos que contar com o impacto direto sobre a economia real.
Os dados do comércio internacional mostram que, no ano passado, Espanha comprou um quarto de todos os bens que o nosso país vendeu lá fora. Se a recessão espanhola for mais profunda, as empresas lusas terão mais dificuldade em vender os seus produtos dado que a Espanha é o maior destino para as exportações portuguesas. O que é mais preocupante para nós é que parece que Espanha está a caminhar para passar pelo mesmo que passaram Grécia e Portugal.
No atual contexto, recordemo-nos que as vendas ao exterior são a única esperança das empresas nacionais e o que verificamos é que o mercado doméstico está cada vez mais deprimido. O que nos questionamos frequentemente é se a Espanha conseguirá escapar à crise sem ajuda internacional. A situação da Espanha assusta por causa da iminência da revolta popular, podendo atingir os mesmos níveis da conturbada Grécia. A economia portuguesa depende bastante da economia espanhola. Dada a grande ligação entre as duas economias, neste momento em que a economia lusa está fragilizada, o pior que poderia acontecer seria a queda da Espanha.

Elsa Lopes

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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