quarta-feira, 13 de novembro de 2019

A aprendizagem, o chumbo e a educação: para onde caminhamos?

O governo de António Costa assumiu no fim do passado mês de outubro a premissa clara de estabelecer um programa de não retenção dos alunos do ensino básico. A estatística aponta para que, em Portugal, a taxa de retenção e desistência neste nível de ensino seja cerca de 5,1%, mas o objetivo passará então a que seja zero. No entanto, é válido questionarmo-nos como se procede a uma mudança neste tipo de indicador: irão os professores entrar magicamente na cabeça das crianças que tenham dificuldades? Ou vamos aceitar que elas não aprendam o definido no programa? Nada disso.
Passemos a alguns dados relevantes que enquadram o problema: Portugal é um dos países da OCDE com taxas de reprovação mais elevadas, e estas atingem na sua maioria alunos que padecem de dificuldades socioeconómicas. Assim, surge a questão da eficácia da cultura do chumbo, que se acentua quando olhamos para países como, por exemplo, a Finlândia, em que não são chumbados quaisquer alunos e mesmo assim se obtêm resultados de excelência em testes internacionais. Assim, chegamos à chave do nosso problema: é necessário trabalhar individualmente e de forma intensiva com os alunos que sintam maior dificuldade.
Maria Emília Brederode Santos, presidente do Conselho Nacional de Educação, afirma mesmo que “há muitas maneiras diferentes de aprender” e que se devem “incitar os alunos a gostarem de aprender, a saberem aprender e a poderem aprender”. Na minha opinião, só uma escola inclusiva, que olhe para os alunos como indivíduos únicos, com personalidades, gostos e motivações individuais é que conseguirá oferecer uma educação ideal.
Através da minha experiência pessoal, sendo que os meus pais são professores do ensino básico e cresci em diferentes escolas, de diferentes ambientes socioeconómicos e condicionantes culturais, pude observar que o sistema de ensino atual está demasiado formatado e regulado. Neste momento, os professores são obrigados a cumprir certas quotas de horários, sucesso escolar e planeamento de aulas. As turmas estão sobredimensionadas e a carga de horas é demasiado elevada. As crianças que já não tiverem uma predisposição para aprender e gostar da escola encontram nela um conjunto de entraves e, se não se adaptarem a ela, ela não se adaptará nunca a eles. Um aluno que chumbe tem uma enorme tendência a entrar num ciclo vicioso de insucesso: é retirado da beira dos amigos que fez para ser recolocado noutra turma, que no ponto de vista de uma criança é considerada inferior, em que terá de ouvir novamente todos os conceitos que não conseguiu aprender à primeira, muitas vezes sem a possibilidade de ter acesso a apoio individual. Este atrito cria uma visão negativa do que é a escola e o aprender, e faz com que os alunos se afastem do caminho do conhecimento.
Há vários métodos que podem, e são já utilizados em algumas instituições, para combater a cultura de retenção e o marasmo do sistema de ensino português, em geral. Um ótimo exemplo de como a pedagogia pode ser desafiada com sucesso é a Escola da Ponte, em Santo Tirso. Lá os alunos têm a liberdade de aprofundar os seus conhecimentos consoante os seus interesses e tempos de aprendizagem, sendo munidos de todas as ferramentas – livros, dicionários, internet, etc. – e da orientação de professores que servem como mentores. Não há campainhas mesmo havendo horários a cumprir e não há testes – com a exceção dos Exames Nacionais que são obrigatórios. O sucesso desta escola é comprovado nas avaliações externas – tirou Muito Bom em todos os parâmetros na sua última – e dá a quem faz do ensino a sua paixão a esperança de um horizonte diferente.
Atualmente, a classe profissional está envelhecida: apenas 1% tem menos de 30 anos e 41% tem mais de 50. Este número prevê então uma mudança iminente que poderá ser a resposta ao nosso dilema: uma renovação geracional promete, com a irreverência dos jovens e a experiência que os professores mais velhos lhes deixarão, uma renovação na escola como a conhecemos. Estes novos profissionais terão novas formas de ver o ensino, novas estratégias não-tradicionais, que se afastarão dos chumbos e dos testes, mas precisam que, como sociedade, acreditemos e apostemos no investimento na formação dos professores do futuro, que por sua vez serão timoneiros na educação das nossas crianças e das gerações que virão.

Ângela Monteiro

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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