sábado, 16 de novembro de 2019

O retorno do papel

Com a chegada da era dos computadores e smartfones, muitas mudanças ocorreram na sociedade, na forma como nos comunicamos e trocamos informações de forma rápida e eficiente, mas também nos recursos que usamos para atingir essa disseminação de informação. É de se esperar que, com a substituição dos jornais, livros e fax pelos aparelhos eletrônicos de hoje, a demanda de papel caia. Com isso não é difícil imaginar que a indústria estaria em decadência, porém esse não é o caso.
Ao contrário do que se imagina, a demanda por papel vêm crescendo por todo o mundo. Isso ocorre devido à demanda por papéis diferentes do papel gráfico usado em jornais e livros. De fato, com a crescente preocupação de vários países com o meio-ambiente e a poluição que é causada, o plástico usado diariamente aos poucos vai sendo substituído, sendo o papel um dos principais concorrentes para tomar o seu lugar. Com muitos países como o Canada, Índia e a União Europeia movendo-se em direção ao banimento do uso de plásticos descartáveis, muitas empresas planejam substituí-los por produtos de papel.
A crescente demanda de papel vem em resultado do desejo de sustentabilidade e proteção ao meio ambiente, mas ao mesmo tempo traz mais desafios para serem enfrentados, tanto para a sustentabilidade da indústria quanto no respeitante aos danos que ela pode causar ao meio ambiente. O processo da produção do papel é de extrema complexidade, indo do corte das árvores para os processos químicos e o clareamento. E com todos esses processos, muitos gastos ambientais acompanham, em todas as etapas.
O primeiro e mais óbvio problema vem do desmatamento necessário para alimentar a indústria pelo mundo, o que leva a maiores emissões de carbono e perda de biodiversidade nas florestas com grande importância ecológica, as quais por vezes são usadas. Além disso, problemas vindos das outras etapas do processo produtivo incluem o alto nível de consumo de energia, além do alto nível do consumo de água. Não bastasse isso, ainda há a poluição causada pela água tóxica que surge do processo, com dificuldades técnicas surgindo para dispor dela.
Mas a indústria já avança para enfrentar tais problemas. Empresas nos Estados Unidos e na Europa se movem para reduzir o desperdício de água, sendo algumas capazes até de reciclar toda a água usada, como é o caso de uma fábrica no Novo México. Para o uso de energia, novas tecnologias ajudam a aumentar a eficiência com um aumento menos do que proporcional nos gastos energéticos. E, por fim, temos a sustentabilidade do corte das árvores, que foi abordada através de políticas que obrigam a plantação de novas árvores em áreas desmatadas.
Possivelmente, o maior instrumento para a virada da indústria do papel foi a reciclagem. Os produtos reciclados viram um crescimento estável da sua demanda nos últimos anos. Além disso, países europeus mantiveram a maior taxa de reciclagem do mundo, como, por exemplo, na Itália, onde cerca de 57% dos materiais usados para a produção vêm de papéis reciclados. Porém, até mesmo nesse ponto existem desafios a serem abordados, como o problema na reciclagem de papéis sujos. Uma alternativa sendo explorada vem de empresas desenvolvendo papéis comportáveis para ajudar na reciclagem.
Com uma onda de preocupação com o meio ambiente tomando conta do cenário global, uma indústria de onde se esperava a decadência teve uma nova oportunidade para tomar espaço no mercado. Enquanto as facetas mais intuitivas ao se pensar na indústria do papel, como o papel gráfico, vêm a cair, novos caminhos aparecem devido à substituição do plástico e da importância da reciclagem. Tanto países da União Europeia quanto das Américas e da Ásia são altamente afetados por mudanças em sua demanda, participando de diversas partes do seu processo produtivo, e consumindo. Com o uso do papel crescendo em inúmeros pontos da vida do homem, das embalagens das comidas até seu uso nos banheiros, essa se faz uma indústria para se ficar atento na virada da década.

Pedro Antônio Rocha Giuffrida


[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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