Ao longo das últimas 3
décadas registou-se uma melhoria soberba das condições de vida no grupo dos
“ultra-pobres”. Este upgrade pode ser explicado essencialmente por dois fatores:
um maior crescimento por parte das economias menos desenvolvidas, destacando-se
o caso da China e da India; a implementação de políticas de auxílio aos pobres
nos problemas que encaram no quotidiano. Esta melhoria nos países não
particularmente desenvolvidos pode ser refletida tanto na queda da mortalidade
infantil para metade desde a década de 90 como na taxa de mortalidade maternal
ainda para mais do que isso.
Esther Duflo é uma das pessoas que tem
procurado não ficar desigual num mundo em que as desigualdades entre indivíduos
e nações continuam a existir. O seu contributo mais recente na luta contra a
pobreza global foi alvo de atenção por parte Academia de Ciências Royal da
Suíça, que lhe atribuiu o prémio tão desejado por qualquer economista.
Mas afinal quem é Esther
Duflo? Poucos são os europeus que conhecem esta grande mulher que está agora a
revolucionar a história da economia. A francesa de 47 anos é agora a segunda
mulher a ser premiada pelo prémio Nobel da Economia e a pessoa
mais jovem a receber um prémio nesta categoria. Juntamente com o
economista indiano e também seu marido, Abhijit Banerjee, e o economista
Norte-americano Michael Kremer, foi recompensada este ano pelo seu contributo
em prol da economia do desenvolvimento com o Prémio das Ciências Económicas
(como é formalmente conhecido o prémio Nobel instituído em 1969 pelo Banco
Central da Suécia).
Apesar de ter dupla
nacionalidade, Esther Duflo nasceu e concluiu a sua formação académica em
História e Economia em França. Após concluir o seu doutoramento em 1999, foi
nomeada professora assistente no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT)
e, com 29 anos, tornou-se o membro mais novo do corpo docente do MIT (!).
Investigadora no National
Bureau of Economic Research (NBER), membro do conselho do Bureau for
Research and Economic Analysis of Development (BREAD) e diretora do
programa de economia de desenvolvimento do Center
for Economic and Policy Research são três dos presentes cargos que esta
conquistadora europeia ocupa.
A sua pesquisa
concentra-se essencialmente em questões microeconômicas no âmbito de países em
desenvolvimento, incluindo o comportamento familiar, a educação, o acesso às
finanças, a saúde e a avaliação de políticas económicas. Na sua dissertação de
doutoramento, através de uma destas abordagens experimentais, procurou explorar
os efeitos que um programa de investimento escolar implementado na década de
1970 na economia da Indonésia. As conclusões a que chegou provaram que o
aumento na educação pode, de facto, ter um efeito positivo sobre os salários
dos habitantes em países em desenvolvimento.
Na atualidade e
juntamente com Banerjee, Dean Karlan, Kremer, John A. List e Sendhil
Mullainathan, tem sido uma força motriz no avanço de metodologias baseadas em
experiências de campo como uma parte importante para descobrir e aprofundar as
relações causais entre variáveis económicas sociais.
Num contexto relativamente recente, numa
“abordagem experimental” feita com o auxílio de Abhijit Banerjee e Michael
Kremer no âmbito do estudo relacionado com formas de mitigação da pobreza,
Esther Duflo observou que, em alunos dos países estudados, a aprendizagem
marginal de um dia adicional de escola é quase nula e que as despesas com
livros didáticos não parecem estimular a aprendizagem. Além disso, no contexto
indiano, as crianças parecem aprender pouco: nos resultados dos testes de campo
na cidade de Vadodara, menos de um em cada cinco alunos da terceira classe
conseguiu responder corretamente a questões de matemática do primeiro ano. Em
resposta a essas descobertas, a equipa argumentou que os esforços para aumentar
a fração de habitantes escolarizados deveriam ser complementados por reformas
para melhorar a qualidade das instituições educativas. Este estudo foi o motivo
pela qual o Nobel deste ano lhes foi atribuído, isto é, por terem dado um
contributo importante para fazer com que a economia do desenvolvimento seja uma
área de investigação em grande expansão.
O que a maioria dos
estudos faz é uma abordagem dos efeitos de políticas implementadas no passado,
de modo a extrapolar as conclusões para o futuro. Porém, devido às mudanças
extremamente complexas que ocorrem diariamente pelo mundo, os números
fornecidos por estas estatísticas mostram-se cada vez mais incapazes de
descrever quais as melhores políticas a implementar na realidade presente.
Estes três investigadores mostraram que os problemas que são formulados no
âmbito governamental apenas são passíveis de ser respondidos com a recolha de
dados obtido pela observação direta dos efeitos das políticas aquando da sua
execução, e não através de estatísticas observadas em anos anteriores.
Na minha opinião, este
prémio foi concedido no contexto mais oportuno às pessoas mais adequadas devido
à persistência e devoção que estas três personagens mostraram ter ao longo de
todo o seu trabalho de campo. Não acha, também?
Cristiana
Gomes Gião
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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