quarta-feira, 20 de novembro de 2019

O Nobel!

Ao longo das últimas 3 décadas registou-se uma melhoria soberba das condições de vida no grupo dos “ultra-pobres”. Este upgrade pode ser explicado essencialmente por dois fatores: um maior crescimento por parte das economias menos desenvolvidas, destacando-se o caso da China e da India; a implementação de políticas de auxílio aos pobres nos problemas que encaram no quotidiano. Esta melhoria nos países não particularmente desenvolvidos pode ser refletida tanto na queda da mortalidade infantil para metade desde a década de 90 como na taxa de mortalidade maternal ainda para mais do que isso.
 Esther Duflo é uma das pessoas que tem procurado não ficar desigual num mundo em que as desigualdades entre indivíduos e nações continuam a existir. O seu contributo mais recente na luta contra a pobreza global foi alvo de atenção por parte Academia de Ciências Royal da Suíça, que lhe atribuiu o prémio tão desejado por qualquer economista.
Mas afinal quem é Esther Duflo? Poucos são os europeus que conhecem esta grande mulher que está agora a revolucionar a história da economia. A francesa de 47 anos é agora a segunda mulher a ser premiada pelo prémio Nobel da Economia e a pessoa mais jovem a receber um prémio nesta categoria. Juntamente com o economista indiano e também seu marido, Abhijit Banerjee, e o economista Norte-americano Michael Kremer, foi recompensada este ano pelo seu contributo em prol da economia do desenvolvimento com o Prémio das Ciências Económicas (como é formalmente conhecido o prémio Nobel instituído em 1969 pelo Banco Central da Suécia).


Apesar de ter dupla nacionalidade, Esther Duflo nasceu e concluiu a sua formação académica em História e Economia em França. Após concluir o seu doutoramento em 1999, foi nomeada professora assistente no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e, com 29 anos, tornou-se o membro mais novo do corpo docente do MIT (!).
Investigadora no National Bureau of Economic Research (NBER), membro do conselho do Bureau for Research and Economic Analysis of Development (BREAD) e diretora do programa de economia de desenvolvimento do Center for Economic and Policy Research são três dos presentes cargos que esta conquistadora europeia ocupa.
A sua pesquisa concentra-se essencialmente em questões microeconômicas no âmbito de países em desenvolvimento, incluindo o comportamento familiar, a educação, o acesso às finanças, a saúde e a avaliação de políticas económicas. Na sua dissertação de doutoramento, através de uma destas abordagens experimentais, procurou explorar os efeitos que um programa de investimento escolar implementado na década de 1970 na economia da Indonésia. As conclusões a que chegou provaram que o aumento na educação pode, de facto, ter um efeito positivo sobre os salários dos habitantes em países em desenvolvimento.
Na atualidade e juntamente com Banerjee, Dean Karlan, Kremer, John A. List e Sendhil Mullainathan, tem sido uma força motriz no avanço de metodologias baseadas em experiências de campo como uma parte importante para descobrir e aprofundar as relações causais entre variáveis económicas sociais.
 Num contexto relativamente recente, numa “abordagem experimental” feita com o auxílio de Abhijit Banerjee e Michael Kremer no âmbito do estudo relacionado com formas de mitigação da pobreza, Esther Duflo observou que, em alunos dos países estudados, a aprendizagem marginal de um dia adicional de escola é quase nula e que as despesas com livros didáticos não parecem estimular a aprendizagem. Além disso, no contexto indiano, as crianças parecem aprender pouco: nos resultados dos testes de campo na cidade de Vadodara, menos de um em cada cinco alunos da terceira classe conseguiu responder corretamente a questões de matemática do primeiro ano. Em resposta a essas descobertas, a equipa argumentou que os esforços para aumentar a fração de habitantes escolarizados deveriam ser complementados por reformas para melhorar a qualidade das instituições educativas. Este estudo foi o motivo pela qual o Nobel deste ano lhes foi atribuído, isto é, por terem dado um contributo importante para fazer com que a economia do desenvolvimento seja uma área de investigação em grande expansão.
O que a maioria dos estudos faz é uma abordagem dos efeitos de políticas implementadas no passado, de modo a extrapolar as conclusões para o futuro. Porém, devido às mudanças extremamente complexas que ocorrem diariamente pelo mundo, os números fornecidos por estas estatísticas mostram-se cada vez mais incapazes de descrever quais as melhores políticas a implementar na realidade presente. Estes três investigadores mostraram que os problemas que são formulados no âmbito governamental apenas são passíveis de ser respondidos com a recolha de dados obtido pela observação direta dos efeitos das políticas aquando da sua execução, e não através de estatísticas observadas em anos anteriores.
Na minha opinião, este prémio foi concedido no contexto mais oportuno às pessoas mais adequadas devido à persistência e devoção que estas três personagens mostraram ter ao longo de todo o seu trabalho de campo. Não acha, também?

Cristiana Gomes Gião

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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