quarta-feira, 13 de novembro de 2019

O acordo de uma década

Terminou, recentemente, mais uma edição da Web Summit. No caso de ter passado despercebida, a Web Summit trata-se da maior conferência de tecnologia da Europa. Num curto espaço de tempo reúnem-se no mesmo local CEOs e fundadores de start-ups com um conjunto alargado de pessoas do panorama tecnológico. Originalmente, este evento ocorria em Dublin, mas em 2016 o cenário mudou. Esta conferência, a partir desse ano, passou a realizar-se em Lisboa. Depois de 2 anos em que este evento se realizou no nosso país, o governo Português e a organização oficializaram um acordo por mais 10 anos – de 2018 até 2028.
Numa espécie de rescaldo do evento, é sempre interessante abordar a sua importância. A meu ver, um fenómeno deste género a ocorrer em solo nacional acarreta consequências positivas para a nossa Economia, nos mais diversos setores, sendo exemplos destes os setores do Turismo, Transporte e Restauração. O Estado também retira os seus benefícios sobre a forma de receitas fiscal. E, acima de tudo - que é o interesse principal deste meeting –, a aproximação de pequenos iniciantes no ramo e os potenciais investidores, que, dada a localização geográfica, os portugueses passam a obter uma certa vantagem.
Sobre este assunto encontrei um trabalho publicado pelo ministério da Economia, em novembro de 2018, realizado pelo professor da Universidade do Minho João Cerejeira. Trata-se de uma análise aos às 3 edições ocorridas e prolonga-se numa projeção sobre os anos seguintes do acordo. Não muito surpreendentemente, os dados referentes às edições dos 3 primeiros anos corroboram que este acordo teve um impacto positivo na economia e perspetivava-se que, já a partir da edição do presente ano, os valores continuassem a aumentar progressivamente.
Os valores obtidos em 2016 já em muito foram ultrapassados. A despesa efetuada pelos participantes afetou o nível de produção dos mais diversos setores. No ano passado, o evento teve um impacto positivo de 211 milhões de euros no PIB, e estima-se que este ano o peso rondasse os 270 milhões, fazendo esquecer os 159 milhões de 2016. Neste contexto mais geral, agradavelmente, espera-se que em 2028 atinja os 380 milhões. As boas notícias não se ficam por aqui uma vez que a saúde fiscal do Estado pode também ficar contente: estima-se que nas últimas 3 edições as receitas fiscais cheguem quase aos 100 milhões - mais do dobro do que se verificou em 2016 (apenas 28 milhões).
Nos setores de atividades antes enunciados, os valores seguem também esta tendência crescente. Os transportes são os que retratam variações menores, tendo sido observado que nos 3 primeiros anos os valores estiveram entre os 3 e os 4 milhões, esperando-se que este ano se atinjam os 5,5 milhões. O setor turístico esperava obter este ano 46 milhões, assim como na restauração se previa um impacto de 17 milhões, distanciando-se dos valores de 2016, de 27 milhões e 10 milhões, respetivamente.
Outra questão que interessa abordar é a essência do meeting, isto é, a cativação de investidores por parte de pequenos empreendedores para os seus projetos. Interessa nesta temática analisar como tem variado o investimento em pesquisa e desenvolvimento tecnológico.
Do meu ponto de vista, o facto de a cimeira se realizar em Portugal fazia-me acreditar que beneficiaria a pesquisa e o desenvolvimento português, apesar de se tratar de um evento internacional onde vêm pessoas de toda parte. Consultando os dados da OCDE, desde 2008 até 2015, os valores têm vindo a cair até aos 3,5 mil milhões, muito abaixo do valor médio de 13 mil milhões da União Europeia. Contudo, a partir de 2016, coincidência ou não, no exato ano em que a Web Summit começa a realizar-se em Portugal, toda esta vertente do investimento em I&D altera-se para uma rota positiva, chegando a verificar-se, no ano passado, um investimento de 4 mil milhões, fazendo notar-se uma tentativa de recuperação do setor.
Efetivamente, não estou a atribuir todo o protagonismo desta melhoria à recolocação da Web Summit em Portugal, mas uma coisa não posso negar: um evento assim a decorrer no nosso país coloca Portugal e os portugueses numa posição de destaque, e certamente que influenciou nessa mudança.
Para finalizar, não posso deixar de reiterar a importância que acontecimentos desta magnitude têm devido aos efeitos que transportam para a Economia do país organizador, e tal como foi feito e bem feito pelo governo, mais iniciativas assim e em diversas áreas devem ser trazidas.

Daniel Andrade

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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