sábado, 9 de novembro de 2019

Estudar para ser (in)feliz?

Enquanto jovem, finalista de uma licenciatura, o futuro é algo que me preocupa. Como serão os meus dias após terminar este ano? Será que devo continuar a estudar ou ingressar no mercado de trabalho? O meu país tem o emprego que eu quero? Será que vou ser feliz com as minhas escolhas? Progredir no grau vale a pena? Estas são algumas das minhas preocupações, que creio que sejam semelhantes às de muitos outros jovens que estejam na mesma situação que eu.
Numa perspetiva pessoal, considero que nós, estudantes, trabalhamos diariamente para vermos o nosso esforço refletido numa vida com qualidade. Ou seja, além de todos os clichés, aquilo que realmente pretendemos é ter um salário que seja proporcional ao esforço de todos os anos que investimos na nossa formação. Basicamente, queremos saber se os anos passados no ensino superior, quer na licenciatura, mestrado ou mesmo o doutoramento, valeram a pena.
Portugal, já há bastantes anos que apresenta fragilidades nas suas qualificações. Em termos cronológicos, podemos destacar o 25 de abril como um marco, tanto para a democracia como para a escolaridade dos portugueses.  Em 1974, 25% da população não sabia ler nem escrever. Aquilo que se verificou foi uma melhoria significativa, contudo, Portugal continuava afastado dos níveis de escolaridade de alguns países europeus e, ainda hoje, isso é algo que se verifica. Apesar de tudo isto, são de realçar alguns progressos, tal como o facto da escolaridade ter sofrido bastantes melhorias, tanto ao nível da sua qualidade como ao nível da sua introdução no quotidiano dos portugueses. Hoje em dia, por exemplo, verifica-se que é muito mais comum um jovem prosseguir para o ensino superior.
De uma forma geral, e de consenso comum, aquilo que podemos começar por defender é qu quanto melhor for a escolaridade de um país mais formadas serão as gerações futuras e, porventura, melhor preparadas estarão para apoiar a aprendizagem das que as sucedem. Assim, aquilo que se espera é que tudo isto culmine num ciclo de sucesso e com um final feliz, o que é maioritariamente avaliado pelo prémio salarial.
Ao nível da organização do ensino, podemos facilmente elaborar uma escala, em que o mínimo corresponde ao ensino obrigatório, segue-se o ensino secundário, e o máximo é o ensino superior. De forma mais detalhada, podemos ainda dividir o ensino superior em três grandes níveis, a licenciatura, o mestrado e o doutoramento, sendo este último o auge da aprendizagem académica. Posto isto, aquilo que se pretende é perceber se seremos mais felizes quanto mais avançarmos nestes níveis, partindo do pressuposto que esta felicidade se resume a um salário mais elevado.
Tendo em conta os dados da OCDE, Education at a Glance, de 2015, em Portugal, aproximadamente 60% da população com o nível de ensino secundário estava satisfeita com a sua vida. Em relação à população com o nível de ensino superior, os valores são díspares. Verificou-se que 90% das pessoas que ingressam no ensino superior estão satisfeitas com a sua vida. Logo, destes dados apresentados, que seguem a tendência dos restantes países da OCDE, da UE e da média do G20, concluímos que, claramente, as pessoas que ingressam no ensino superior não se arrependem disso e tal reflete-se na satisfação com o seu estilo de vida, ou melhor dizendo, da sua posição proficiente no mercado de trabalho. A estes dados podemos também acrescentar que, por exemplo, um licenciado entre os 25-34 anos recebe 50% mais do que um jovem sem formação superior e, embora estes dados sejam já bastante agradáveis, na faixa etária entre os 45-54 anos, os licenciados ganham, aproximadamente, o dobro dos restantes trabalhadores.
Na minha opinião, tudo isto está intimamente relacionado com as caraterísticas económicas de um país e pode, por isso, ser interpretado duplamente. Ou seja, num país com uma economia mais formal, desenvolvida, ter mão-de-obra mais qualificada é só mais uma componente essencial. Nestes casos, as pessoas com mais formação, entenda-se por isso com mais estudos, vão ter um maior sucesso, no sentido em que existem postos de trabalho específicos para eles e, por isso, vão poder usar todo o seu investimento no presente, garantindo salários mais elevados e promovendo a felicidade do futuro. Por outro lado, nem sempre esta mão-de-obra qualificada encontra espaço para si no mercado de trabalho e tal é fruto de uma economia mais frágil, que não está de todo preparada para receber este tipo de pessoas. Nestas situações, aquilo que se verifica é que o tempo e dinheiro investidos nos estudos não foi bem canalizado e assim, de facto, não se confirma a relação de proporcionalidade direta entre educação e satisfação com a vida. A isto chamamos um desfasamento entre a procura e a oferta, ao nível das qualificações.
Em jeito de conclusão, diria que estudar tem benefícios individuais e coletivos. A primeira parte diz respeito a cada um de nós - aquilo que fazemos diariamente vai ter consequências futuras, que se esperam que sejam as melhores possíveis tendo em conta também a conjuntura económica em que estamos inseridos. Por outro lado, pessoas mais formadas trazem proveito para a sociedade. Isto significa que teremos melhores profissionais, com perspetivas de vida mais empolgantes, que defenderão os seus valores em prol do seu sucesso. Estes fatores são as externalidades que vão afetar todos nós.
Assim, e principalmente em Portugal, tendo mais uma vez em conta os dados da OCDE, Education at a Glance de 2019, estudar é mesmo a melhor opção para uma vida pessoal e profissional mais feliz.

Diana Martins

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Sem comentários: