terça-feira, 5 de novembro de 2019

OS ROMANOS CHORAM

Datando do século IV e construídas originalmente pelos romanos, as termas flavienses representam um enorme marco da história portuguesa e europeia, principalmente devido à sua exclusividade. Quando descobertas, em 2006, pareciam ser o complemento perfeito para o grande turismo termal da pequena cidade de Chaves, no nordeste do país. No entanto, 13 anos e 3,5 milhões de euros mais tarde, a sua reabertura ainda não foi possível, o que se deve a consecutivos erros arquitetónicos e intermináveis burocracias.
As suas temperaturas de cerca de 70ºC, fator que as torna únicas na Europa, foram também aquilo que matou o projeto aquando da sua construção, uma vez que não foram tidas em conta as consequências das águas bicabornatadas e a humidade extrema nos materiais de construção.
Inicialmente, o projeto custaria 1,9 milhões de euros, sendo financiado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER). No entanto, foram necessários fundos do cofre municipal (no montante de 200 mil euros) para serem possíveis as alterações ao projeto impostas pela Direção Regional de Cultura do Norte. Com o intuito de finalizar a obra e não obtendo qualquer sucesso, foi feita uma candidatura ao projeto “Musealização das Termas Romanas de Chaves”, ao abrigo do Norte 2020, sendo este financiado, novamente, pela FEDER, no montante de 1,1 milhões de euros.
Corretamente, alguns alegaram que as termas se encontraram abertas num certo momento. Porém, é necessário reforçar que este período foi de 1 semana e as condições eram de tal ordem que quem teve a oportunidade de visitar a obra por inteiro afirma que, devido ao calor excessivo, qualquer um sufocava lá dentro.
Já em 2018, e desta vez com a intenção de as restaurar, durante a presidência de Nuno Vaz, pôde ler-se o seguinte na proposta de orçamento do referido ano: “Conclusão imediata da obra do Museu das Termas Romanas, ao mais baixo custo, a fim de poder ser valorizado o seu espólio”. Ou seja, de acordo com o mesmo, pretendia-se abrir novamente as portas no primeiro trimestre de 2019. Desta vez, tendo em conta o ambiente dentro do complexo, tentou-se implementar um novo sistema de ventilação, cujo objetivo seria fazer circular de forma artificial o ar vindo do exterior, uma vez que a ventilação inicialmente idealizada não foi eficiente.
No entanto, quase no fim de 2019, as promessas continuam a acumular-se. E porquê? Se esta descoberta fosse feita numa grande metrópole, como em Lisboa ou no Porto, talvez o problema já estivesse resolvido. No entanto, apesar de Chaves (592,2 km²) ter uma área quase 6 vezes maior do que, por exemplo, Lisboa (100,1 km²), estas têm, respetivamente, 68 e 6000 habitantes por km². Deste modo, é possível entender a falta de interesse intrínseca ao problema.
Uma vez que o turismo é o serviço com maior relevância no equilíbrio da balança corrente portuguesa, a 1ª Musealização Termal da Europa teria, quase de certeza, um impacto não só para o turismo mas também para comércio local e regional.
Em 2018, o valor de comércio e turismo de Chaves foi de 3.226.846,10 €, o que corresponde a cerca de 6% do valor total do orçamento do município (48 585 606,13 € ), sendo um valor relativamente alto. Consta também neste mesmo orçamento, datado de 2019, que 1.137.530,22 € dos cerca de 20 milhões disponíveis para investimentos correspondem à “Musealização das Termas Romanas de Chaves”, com recurso a fundos do FEDER.
Tudo isto faz-nos pensar em como é que é possível que existam gastos constantes num local que se encontra na mesma situação há vários anos, sendo estes gastos bastante avultados para um município como Chaves. Da mesma forma, faz qualquer um questionar como é que umas termas que foram utilizadas há 17 séculos e se encontram preservadas até hoje não é possível atualmente mantê-las abertas durante mais do que 1 semana.

Ana Barroso

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