terça-feira, 5 de novembro de 2019

Viver o presente e agora…

Nos anos 2000, vivíamos numa economia onde prevaleciam taxas de juro baixas e onde o risco era subestimado. Isto levou a que existisse uma grande procura de créditos, sendo esta favorecida pelo facto de os bancos estarem mais recetivos a realizar empréstimos a devedores com um maior risco associado. Quando este cenário se inverteu, muitos devedores não conseguiram pagar os seus empréstimos, ocorrendo assim default. Por consequência, os bancos sofreram grandes perdas, originando uma devastadora crise financeira nos Estados Unidos da América em 2008, que se alastrou à Europa.
Em Portugal, isto levou a uma deterioração da situação económica das famílias e a uma perda de confiança nos bancos, tendo-se o número de empréstimos reduzido, tanto a nível de crédito à habitação como crédito ao consumo e afins.

 


Fonte: PORDATA

  Como podemos observar no gráfico anterior, desde 2011, ano em que Portugal sofreu a intervenção e resgate da Troika, o nível total de empréstimos realizados às famílias portuguesas sofreu um decréscimo ao longo dos anos de 2012 e 2013. Contudo, a partir de 2014, quando Portugal conseguiu uma saída do programa de resgate financeiro sem recorrer a qualquer programa cautelar, os consumidores foram aumentando, lenta e gradualmente, o recurso a empréstimos bancários.
Segundo dados do Banco de Portugal, no Boletim Económico publicado no passado mês de outubro, o endividamento total dos particulares, no mês de agosto do ano corrente, subiu para o valor mais elevado dos últimos três anos (140 004 mil milhões de euros). Por oposição, no caso do crédito à habitação, este tem vindo a diminuir, tendo descido cerca de 2 milhões entre julho e agosto, de 97 971 para 97 969 mil milhões de euros. Em complemento, a taxa de juro associada a este crédito sofreu uma inversão da tendência crescente, tendo-se reduzido para 1,077%, segundo o INE. Assim sendo, o aumento da dívida total das famílias portuguesas deve-se ao crescimento do recurso ao crédito ao consumo e afins. Segundo os dados presentes no Boletim do Banco de Portugal, os portugueses têm uma dívida de 42 035 mil milhões de euros nesta categoria de crédito. É de salientar que este valor é o mais elevado desde junho de 2010.
O consumo efetivamente aumentou mas, no meu ponto de vista, considero ser importante saber quais as categorias que, com efeito, tenham padecido de um aumento. Deste modo, o seguinte gráfico apresenta o consumo dos portugueses representados por diversas categorias:


Fonte: PORDATA

  Através da observação do gráfico, verifica-se que, de forma global, todas as categorias sofreram um crescimento ao longo dos anos. Contudo, entendo ser importante salientar o caso da “Alimentação, bebidas e tabaco” ter apresentado um trajeto de crescimento pronunciado, excetuando em 2009, devido à crise da dívida. Já o conjunto “Habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis” apresentou constantemente um crescimento. Uma outra categoria que gostaria de dar especial atenção consiste na “Restaurantes e hotéis”. Através do gráfico, constatamos que esta é uma categoria que tem visto o seu peso nas despesas do consumo expandir de forma pronunciada.
Por outro lado, se nos focarmos nos níveis de poupança dos portugueses, constatamos que estes têm vindo a diminuir, estando nos 5,9%, segundo dados do INE. Estes valores são os mais baixos desde o terceiro trimestre de 2017.


Fonte: INE
 
De forma sucinta, no meu ponto de vista, as famílias portuguesas investem cada vez mais no presente, ou seja, pretendem viver o agora e usufruir do dia-a-dia e não se resguardar tanto como no passado, para possíveis contratempos que possam surgir no futuro. Daí pouparem cada vez menos, realizarem cada vez mais créditos destinados ao consumo e consumirem mais bens de usufruto imediato, que se enquadram por exemplo, na categoria “Restaurantes e hotéis”.
Relativamente a este ideário, sou apoiante de usufruirmos do presente, contudo, sempre com a idealização de que o futuro é já amanhã e, como diz a sabedoria popular, “mais vale prevenir do que remediar”.

Isabel Miranda

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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