domingo, 17 de novembro de 2019

Desemprego jovem: problemas escondidos

Tendo em conta os últimos dados do INE, a taxa de desemprego desceu para 6,3%, o valor mais baixo dos últimos 16 anos. Excelente notícia claro, uma vez que se nos lembrarmos dos 17,5% em março de 2013. Este valor, já abaixo dos 7%, era então impensável. Isto para não falar, claro, que, neste momento e de acordo com os últimos dados, apresentamos uma taxa de desemprego inferior a países como a França. Contudo, nem tudo é um sinal positivo. Para além do facto da taxa de desemprego estar a diminuir neste momento a ritmos menores, a situação do desemprego jovem não é de todo aconselhável. Neste momento, os jovens (indivíduos com menos de 25 anos) enfrentam uma taxa de desemprego situada nos 20,3%, ou seja, entre o meu grupo de 10 colegas, já consigo prever que 2 de nós não vamos ter sucesso na procurar de emprego. Sabendo que os jovens são o futuro de qualquer sociedade, é muito importante discutir esta dura realidade e tentar resolvê-la.
Não tomando posição por qualquer partido político, o governo e a respetiva coligação parlamentar “adoram” exibir os dados estatísticos publicados, no intuito de ganhar apoiantes e promovendo a ideia de que conseguiram tirar o país da austeridade e da depressão. Por outro lado, os partidos da direita reclamam estes resultados para eles próprios, afirmando que foram as políticas por eles promovidas que possibilitaram a existência destes novos valores (refiro-me à taxa de desemprego, no global, que se situa nos 6,3% - dados da PORDATA).
Agora, acontece que nem a direita nem a esquerda estão com ideias de assumir o desemprego jovem e a realidade assustadora associada ao mesmo. Isto é, não sendo nós capazes de assegurar um futuro próspero no mercado de trabalho para os jovens, quem é que nos vai assegurar um futuro próspero para o nosso país? Independente do que os partidos digam relativamente aos valores mais recentes da taxa de desemprego, o que é certo é que este problema existe. Em maio deste ano (dados PORDATA), por exemplo, tínhamos uma taxa mais elevada face à média da União Europeia (cerca de 4 p.p.).
Num âmbito geral, é certo que o desemprego diminuiu e, consequentemente, também o desemprego jovem diminuiu. Esta diminuição deveu-se essencialmente à recuperação económica nos últimos anos a nível europeu. No entanto e apesar desta descida, o problema persiste (com menor gravidade mas ainda assim merecedor de muita atenção): há uma preocupante falta de espaço para os jovens no mercado de trabalho. E as causas para que tal aconteça são várias. Desde a desadequação entre a formação que um indivíduo tem e aquilo que o mercado precisa (talvez a principal causa) ao facto de ser preciso experiência para trabalhar. É um paradoxo enorme um jovem, que quer trabalhar (e como tal, quer ganhar experiência no mercado de trabalho) estar sujeito a uma oferta de trabalho que restringe um perfil de candidato àqueles que já têm experiência. Então, como vai um jovem ter essa experiência se não lhe é dada uma oportunidade?
Os números que nos apresentam em época eleitoral não são suficientes para nos satisfazer. Não chega criar estímulos à contratação. Antes de tudo, há que resolver este problema a montante (ou seja, há que providenciar uma preparação adequada dos jovens para o mercado de trabalho) e só depois poderemos passar para jusante: resolução definitiva do problema.
E, pior ainda, é que só discuti uma face do problema dos jovens, que é a dificuldade de encontrar emprego. Agora, e aqueles que lá conseguem arranjar um emprego? Afinal, porque considero eu isso a outra face do problema? Pois, para estes que conseguem arranjar um emprego existe um problema a ser enfrentado: os baixos salários. Raras são as exceções mas, por norma, para quem entra no mercado de trabalho, os custos associados à prestação do serviço (tais como o custo de transporte ou a habitação, que tem vindo a aumentar exponencialmente os preços) para o qual se é contratado é mais elevado do que os benefícios salariais. Ou seja, o mercado de trabalho tem mais um paradoxo: temos jovens qualificados que gastam valores absurdos para se formarem (bem, só em propinas, são acima de 2000€) e temos as empresas que, apesar de apenas oferecem empregos mal pagos, exigem estas qualificações dispendiosas.
Como tal, a proposta de haver incentivo fiscais para os emigrantes recentes que regressarem torna-se ainda mais “caricata”. Não digo que eles não devam regressar. , devem. Mas, sinceramente, a opção de emigrar é, na maior parte dos casos, o único caminho para estes jovens, que ou enfrentam salários irrisórios ou enfrentam o desemprego, estando sempre aliada a loucura do mercado de habitação. Assim, os jovens, ao verem-se confrontados com a falta de trabalho ou de condições (minimamente decentes) de trabalho, deduzem que as alterações que se verificaram no país são mínimas (são insuficientes), sendo difícil, senão mesmo impossível, construir um futuro próspero em Portugal.
No fundo, não posso senão concluir que o Governo, talvez sem se aperceber disso, fez o raciocínio ao contrário. Antes de tomar medidas que visem o regresso dos jovens emigrantes, importa primeiro compreender o porquê dos jovens procurarem outros países e evitar que eles tenham essas razões e a necessidade do fazer.

Pedro Sousa

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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