terça-feira, 12 de novembro de 2019

´Green Finance`: investir no futuro

As alterações climáticas são uma das principais preocupações da nossa sociedade, sendo, por isso, um dos principais motivos de debate entre os agentes políticos e foco de atenção de muitos governos. No entanto, cada vez mais, os mercados financeiros têm um impacto sobre esta matéria, através da “Green Finance”.
O termo “Green Finance” refere-se ao processo de ponderar aspetos ambientais e sociais na tomada de decisões de investimento, levando a um aumento do investimento em atividades sustentáveis com externalidades positivas. Assim, abrange todas as iniciativas tomadas por agentes públicos e privados no desenvolvimento, promoção, implementação e apoio a projetos com impactos sustentáveis, através de instrumentos financeiros.
De acordo com o relatório de 2018 da Global Sustainable Investment Alliance, em todo o mundo, cerca de 30,7 biliões de dólares eram mantidos em investimentos sustentáveis, o que representa um aumento de 34% em relação a 2016. Na Europa, este tipo de investimento representa mais de 50% do total de ativos financeiros. No entanto, ao contrário do que acontece nas outras regiões observadas neste relatório, na Europa esta proporção diminuiu entre 2016 e 2018.


Nas economias desenvolvidas, o setor financeiro assume particular relevância na alocação de recursos da economia e na gestão e redistribuição dos riscos. Assim sendo, pode promover o fluxo de instrumentos financeiros para o desenvolvimento e implementação de modelos de negócio e projetos sustentáveis e a redução do investimento noutros projetos. Esta mudança fez com que, por exemplo, grandes empresas, como a Royal Dutch Shell, estabelecessem metas ambientais pela primeira vez.
É importante salientar que alguns investimentos são, provavelmente, mais "verdes" do que outros, e que não há uma definição universal para o que deve ser considerado como “green finance”. Existe, portanto, a possibilidade de alguns fundos se rotularem como verdes ou éticos mesmo que sejam prejudiciais para o meio ambiente.
Se pensarmos no contexto político europeu, “Green finance” pode ser encarado como o financiamento que apoia o crescimento económico, ao mesmo tempo que reduz a pressão sobre o meio ambiente e tem em consideração aspetos sociais. A União Europeia está a apoiar fortemente a transição para uma economia mais eficiente em termos de recursos. O Acordo de Paris, em particular, inclui o compromisso de alinhar os fluxos financeiros para que o sistema financeiro apoie o desenvolvimento sustentável. Considera-se que este setor tem um papel fundamental a desempenhar para alcançar os objetivos propostos, uma vez que pode reorientar os investimentos para tecnologias e negócios mais sustentáveis.
Para tornar isto possível, foi criado um plano de ação. Alguma das medidas propostas são a criação de um sistema de classificação detalhado para atividades sustentáveis e a consolidação da transparência das empresas quanto às suas políticas ambientais e sociais. Na minha opinião, estas medidas assumem elevada importância pois ajudarão a criar uma linguagem comum para todos os atores do sistema financeiro, permitindo-lhes perceber quais são, realmente, os investimentos mais sustentáveis, através da análise de informação correta.
Conclui-se que o “Green finance” é um padrão financeiro inovador ligado à proteção ambiental e à utilização sustentável dos recursos. Se considerarmos que os mercados financeiros são racionais, é possível orientar o fluxo de fundos e alcançar uma gestão eficaz dos recursos ambientais. No entanto, a meu ver, é necessário apostar na regulamentação, evitando problemas de assimetria de informação e risco moral. Parece-me, portanto, que esta tendência continuará, já que os setores público e privado podem trabalhar juntos para construir uma economia mais verde.

Nádia Oliveira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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