A bolha no mercado imobiliário, a falência do Lehman Brothers, as fraudes financeiras e as economias mundiais em recessão. Como se tudo isto não bastasse surge agora a tensão no Norte de África.
Portugal está doente e à espera de uma cura milagrosa que o salve de um fim conjecturável – o recurso à ajuda financeira externa.
Exportar, exportar, exportar. Eis o lema central para a recuperação da economia portuguesa. Por um lado para reduzir os efeitos na procura interna resultantes do plano de austeridade em curso e, por outro, para regularizar o desequilíbrio das contas externas, um dos nossos défices estruturais mais crónicos.
Nos últimos anos tem sido feito um esforço para diversificar os países destino das exportações. Há menos de um ano o Governo atribuiu uma prioridade política indiscutível à relação com os países do Norte de África. Descreveu estes países como economias que mereciam toda a confiança, com regras claras, com estabilidade política e com um quadro regulatório que incentivava o negócio e que melhorava as condições para desenvolver os negócios.
Porém, o tiro saiu pela culatra. Um ano depois o cenário mudou completamente com a queda dos governos na Tunísia e no Egipto, com a tensão crescente na Líbia e com os sinais de desconforto popular em Marrocos e na Argélia.
A instabilidade no Norte de África é preocupante. Os preços do petróleo aumentam e o receio do risco de contágio a outros países da região tem impulsionado o preço da matéria-prima. As exportações portuguesas para os cinco países do Magrebe (Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Egipto) ascenderam a 785 milhões de euros em 2010 que correspondem a 1,5% do total. Por seu lado, as importações foram bem mais elevadas, ultrapassando os 1,3 mil milhões de euros, correspondentes a cerca de 2% do total. O peso dos países do Norte de África na estrutura de importações e exportações nacionais é relativamente pequeno, mas todas as fatias do bolo contam.
Focando o caso da Líbia (3º maior exportador petrolífero de África e o 12º maior em todo o mundo), as relações económicas com Portugal têm sido historicamente desequilibradas, devido à elevada factura da importação de petróleo por parte dos portugueses (em 2010 os combustíveis e lubrificantes representaram cerca de 99% do total das importações vindas da Líbia, segundo dados do INE). Esta forte exposição levou ao insucesso da missão do governo português em reduzir o desequilíbrio da balança comercial. Portugal é o segundo país da Europa que, em termos de peso no total, mais importa do país liderado por Kadhafi. Só a Itália importa mais em termos relativos. Em quatro anos as exportações portuguesas para a Líbia cresceram quase 60%, mas a balança permaneceu no vermelho.
Todos os investimentos e vendas de milhões estão sujeitos a uma resposta com um grande ponto de interrogação. É mais um golpe violento para um país que está com a economia em queda, com uma falta de controlo das finanças públicas, que importa todo o combustível que consome e que tem as empresas descapitalizadas.
A aposta da “diplomacia económica” portuguesa em países cuja balança comercial portuguesa é deficitária foi uma deliberação correcta do presente Governo. Portugal seguiu uma estratégia de diversificação estimulada pela colossal dependência do comércio com os países da União Europeia. Todavia, os resultados não foram esplêndidos. Mas, sustentar e fortalecer este esforço faz todo o sentido para uma economia que se apresenta debilitada e que para fazer renascer o ânimo precisa de exportar mais para pagar o seu mar de dívidas.
Aproximadamente 80% daquilo que Portugal exporta tem como destino os parceiros europeus (tendência que foi acentuada desde a adesão à União Europeia). Que ilações se pode retirar? Por um lado, Portugal está demasiado exposto aos mercados do Velho Continente e, por outro lado, não está devidamente preparado para tirar benefício das taxas de crescimento comparativamente mais altas que se averiguam noutros locais do mundo. A diversificação dos destinos dos bens e serviços produzidos por Portugal leva à obrigatoriedade de lidar com poderes políticos que consideram que a liberdade, a democracia e os direitos humanos de nada valem. Por isso, é de extrema importância não confundir as relações de negócio com o apoio político prestado a personagens sem sombra de escrúpulos.
Portugal está doente e à espera de uma cura milagrosa que o salve de um fim conjecturável – o recurso à ajuda financeira externa.
Exportar, exportar, exportar. Eis o lema central para a recuperação da economia portuguesa. Por um lado para reduzir os efeitos na procura interna resultantes do plano de austeridade em curso e, por outro, para regularizar o desequilíbrio das contas externas, um dos nossos défices estruturais mais crónicos.
Nos últimos anos tem sido feito um esforço para diversificar os países destino das exportações. Há menos de um ano o Governo atribuiu uma prioridade política indiscutível à relação com os países do Norte de África. Descreveu estes países como economias que mereciam toda a confiança, com regras claras, com estabilidade política e com um quadro regulatório que incentivava o negócio e que melhorava as condições para desenvolver os negócios.
Porém, o tiro saiu pela culatra. Um ano depois o cenário mudou completamente com a queda dos governos na Tunísia e no Egipto, com a tensão crescente na Líbia e com os sinais de desconforto popular em Marrocos e na Argélia.
A instabilidade no Norte de África é preocupante. Os preços do petróleo aumentam e o receio do risco de contágio a outros países da região tem impulsionado o preço da matéria-prima. As exportações portuguesas para os cinco países do Magrebe (Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Egipto) ascenderam a 785 milhões de euros em 2010 que correspondem a 1,5% do total. Por seu lado, as importações foram bem mais elevadas, ultrapassando os 1,3 mil milhões de euros, correspondentes a cerca de 2% do total. O peso dos países do Norte de África na estrutura de importações e exportações nacionais é relativamente pequeno, mas todas as fatias do bolo contam.
Focando o caso da Líbia (3º maior exportador petrolífero de África e o 12º maior em todo o mundo), as relações económicas com Portugal têm sido historicamente desequilibradas, devido à elevada factura da importação de petróleo por parte dos portugueses (em 2010 os combustíveis e lubrificantes representaram cerca de 99% do total das importações vindas da Líbia, segundo dados do INE). Esta forte exposição levou ao insucesso da missão do governo português em reduzir o desequilíbrio da balança comercial. Portugal é o segundo país da Europa que, em termos de peso no total, mais importa do país liderado por Kadhafi. Só a Itália importa mais em termos relativos. Em quatro anos as exportações portuguesas para a Líbia cresceram quase 60%, mas a balança permaneceu no vermelho.
Todos os investimentos e vendas de milhões estão sujeitos a uma resposta com um grande ponto de interrogação. É mais um golpe violento para um país que está com a economia em queda, com uma falta de controlo das finanças públicas, que importa todo o combustível que consome e que tem as empresas descapitalizadas.
A aposta da “diplomacia económica” portuguesa em países cuja balança comercial portuguesa é deficitária foi uma deliberação correcta do presente Governo. Portugal seguiu uma estratégia de diversificação estimulada pela colossal dependência do comércio com os países da União Europeia. Todavia, os resultados não foram esplêndidos. Mas, sustentar e fortalecer este esforço faz todo o sentido para uma economia que se apresenta debilitada e que para fazer renascer o ânimo precisa de exportar mais para pagar o seu mar de dívidas.
Aproximadamente 80% daquilo que Portugal exporta tem como destino os parceiros europeus (tendência que foi acentuada desde a adesão à União Europeia). Que ilações se pode retirar? Por um lado, Portugal está demasiado exposto aos mercados do Velho Continente e, por outro lado, não está devidamente preparado para tirar benefício das taxas de crescimento comparativamente mais altas que se averiguam noutros locais do mundo. A diversificação dos destinos dos bens e serviços produzidos por Portugal leva à obrigatoriedade de lidar com poderes políticos que consideram que a liberdade, a democracia e os direitos humanos de nada valem. Por isso, é de extrema importância não confundir as relações de negócio com o apoio político prestado a personagens sem sombra de escrúpulos.
Jorge Miguel Costa Oliveira
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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