quarta-feira, 9 de março de 2011

Querido défice: a quanto obrigas…

Desde o inicio de 2008, muitos foram os cenários indesejáveis mas previsíveis que assombraram a Economia Portuguesa. O exagerado endividamento público e privado era do conhecimento de todos, assim como a consciência de que mais tarde ou mais cedo teríamos de pagar a factura. No entanto, poucos eram aqueles que se atreviam a pronunciar a palavra “pagar”, pensava-se nos gastos, muito na perspectiva Keynesiana, como amigos fiéis para o crescimento económico.
No presente ano de 2011, pedem à nossa geração, à actual população activa (e não só) que apertem o cinto, que paguem a todo o custo os gastos e investimentos passados, ou que pelo menos façam com que o Estado consiga reduzir o défice no presente ano, mas como poderá ser isto sustentável? O consumo das famílias é cada vez menor, assim como a sua confiança e para agravar a situação o crescimento da produtividade é praticamente nulo. Uma década sem crescimento, agravada pela crise internacional e consequente recessão, coloca Portugal numa situação bastante delicada, recuamos à década de 90!
Ao longo dos últimos meses tem sido pedido às famílias Portuguesas vários sacrifícios em prol da recuperação Económica. Estes sacrifícios são necessários e comuns em quase todos os países da União Europeia. Entretanto, existe um factor que tem sido esquecido com a obstinação do alcance dos números, esse factor somos todos nós, as pessoas. Os Homens como seres sociais, gostam e necessitam da vida em sociedade e como seres racionais reclamam a compreensão da envolvente. Agora pergunto, será que a maioria da população sabe o objectivo real do seu sacrifício? E se sabe, será que acredita que poderá ser alcançado? É aqui que está, na minha opinião, o centro da questão. É necessário explicar o porquê dos sacrifícios e qual o objectivo. As famílias precisam de entender que apesar do seu rendimento real ser menor, os salários não podem aumentar porque a estagnação da produtividade assim o exige, e que os impostos aumentaram porque as pressões externas não nos deixam margem de manobra.
Nesta contextualização, para que as famílias cooperem e acreditem na razão do seu sacrifício, quem lhes traz esta mensagem tem de ser credível. Credível, é o que o nosso governo e os partidos da oposição não são neste momento, parecem estar mais preocupados com guerras internas e orientam-se por objectivos egoístas, em vez de cooperarem neste período que a tanto exige.
Finalizando esta reflexão, considero que a mensagem que tem de prevalecer é a importância do sentido de missão que se exige à nossa população e a certeza de que tal missão será cumprida. Esta certeza tem de ser respirada pelos órgãos de comunicação social e plantada pela estabilidade politica. Só assim os especuladores dar-nos-ão tréguas e as famílias portuguesas voltarão às suas actividades normais. Desta forma, aliviaremos a urgência dos mercados e alcançaremos a estabilidade económica propícia ao seu crescimento.

Cátia Cristina Afonso Cerqueira

[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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