segunda-feira, 21 de março de 2011

Renda/Empréstimo: um pesadelo no fim do mês

Portugal está perante uma carnificina económica e, como pequenas presas indefesas, os portugueses tentam fugir às garras da crise. Um pequeno número consegue fugir ileso enquanto o resto da sociedade sofre na pele as consequências de medidas governamentais ineficientes e inadequadas. A crise começa por atingir apenas alguns sectores mas, com o tempo, alastra-se para toda a economia tendo consequências desastrosas. Os desempregados começam a surgir aos milhares, os preços dos combustíveis e dos bens alimentares aumentam e para piorar a situação surge outro problema: a renda ou a “prestação da casa”.
Está cada vez mais difícil para os portugueses pagar a renda da casa ou o empréstimo bancário para a habitação. Alguns, com medo de ficarem sem tecto para dormir, procuram ajuda entre algumas organizações, sendo uma delas a Caritas Portuguesa. Eugénio Fonseca, presidente desta instituição, relata que "Portugal atravessa uma situação muito difícil e a Cáritas Portuguesa tem visto aumentar de forma muito significativa os pedidos de ajuda, apresentando dificuldades crescentes para dar resposta a todos". Acrescenta também que o aumento rondou os 40%, havendo mais pedidos em zonas com maiores taxas de desemprego, nomeadamente o norte, a zona da grande Lisboa e o Algarve.
Para combater as dificuldades nos pagamentos foi criada a moratória do Estado, medida que entrou em vigor em Julho de 2009 e que terminou em Dezembro de 2010. Dos 3928 desempregados, 2551 viram o seu pedido aprovado, podendo receber no máximo 500 euros por contrato. Em termos de prolongamento desta medida existem diversos argumentos contra e a favor. O economista e professor universitário João César das Neves diz que "medidas dessas fazem todo o sentido, como apoio aos mais atingidos pela crise, e são de apoiar". Contudo acredita que o governo não irá para a frente com esta medida, tendo em vista uma redução da despesa. Já João Cantiga Esteves, igualmente economista e professor universitário, pensa o contrário: "A estrutura histórica do nosso crédito à habitação não é a ideal. Prefiro soluções mais duradouras do que ter de andar a apagar fogos". O economista lembra-nos o facto de que a larga maioria do crédito em Portugal está indexado às taxas Euribor, o que transfere o risco da subida das taxas de juro dos bancos para os clientes. Acrescenta também: "Desconheço outro país no mundo com esta abrangência de taxa variável no crédito à habitação. Acho que o Banco de Portugal deveria manifestar-se quanto a esta situação, sugerindo uma maior utilização da taxa fixa".
A minha opinião relativamente a este assunto é um pouco semelhante à do senhor João Cantiga Esteves. Portugal precisa de soluções permanentes e não de “paninhos quentes”, pois a situação para muitos portugueses é intolerável tanto a curto como a longo prazo. Penso que este problema tem uma grande vertente psicológica, isto é, a maneira como os mercados estão dispostos leva a que o indivíduo, como consumidor, tome decisões inadequadas à sua situação financeira. Compreendo que é aliciante adquirir algo (um carro por exemplo) recorrendo a um crédito com taxas de juro baixas. Contudo é aqui que se encontra a base do problema, uma vez que o indivíduo vai acumulando dívidas e juros até ao momento em que é-lhe impossível pagar as prestações. Seria aqui que o governo deveria tomar uma acção mais preventiva, ao tentar controlar o acesso ao crédito, que muitas vezes provem de empresas financeiras que aparecem na televisão e que “enganam” o consumidor. Julgo também que seria bastante eficiente da parte do governo ou do Banco de Portugal iniciar uma certa promoção ao uso da taxa fixa, possibilitando ao consumidor, um maior controlo e maior resistência a flutuações económicas.

Telmo Rodrigues

[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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