O petróleo, como principal fonte de energia do planeta e recurso não renovável, assume-se, no século XXI, como um factor político e económico muito importante. No entanto, já no século XX a sua importância se fazia sentir, emergindo especialmente no primeiro choque petrolífero. Em Outubro de 1973, como consequência do cartel formado pelos países exportadores de petróleo (OPEP), da proximidade à total utilização da capacidade produtiva instalada e do apoio dos Estados Unidos da América a Israel na guerra Israelo-Árabe houve um aumento dos preços e uma diminuição das exportações de petróleo. As economias ocidentais sentiram, pela primeira vez, conscientemente, a importância desta fonte de energia. Seguiram-se, ao longo do século XX, outros choques que reforçaram a importância das flutuações do preço do petróleo na economia mundial.
Nos últimos anos, o planeta vive um choque petrolífero prolongado. Se, por um lado, o aumento nos preços do petróleo pode ser, na última década, explicado pelo aumento da procura deste bem que, segundo um estudo do HSBC Bank, aumentou 80 p.p., especialmente em consequência do aumento da procura por parte da China, por outro lado, segundo outros estudos, a oferta tem mostrado capacidade para satisfazer plenamente a procura.
Na realidade, a base das flutuações do preço do petróleo é a distribuição desigual desta riqueza entre países. Nada melhor do que a actual situação no Médio Oriente para mostrar a importância desta desigualdade. Nas últimas semanas, com os conflitos vividos na Líbia, a possibilidade da diminuição das exportações tem assombrado os mercados. Segundo Mamdouh Salameh, especialista internacional em petróleo, mesmo que a Líbia pare de exportar, a OPEP tem como substituir essas exportações, no mínimo a curto-prazo. Esta situação será necessariamente temporária, pois a Líbia, mais tarde ou mais cedo, voltará a exportar. Assim, existem condições para manter o nível de oferta. No entanto, os mercados mantêm-se desconfiados e a especulação tem gerado aumento dos preços do petróleo. Esta desconfiança dos mercados, mesmo sabendo da capacidade excedentária alta da OPEP, explica a importância da distribuição desigual do petróleo no mercado, criando grande instabilidade por vezes pouco fundamentada.
Segundo alguns estudos, estima-se que a cada aumento do preço do petróleo em $10/barril está associada uma queda do PIB Mundial de 0,5 p.p. ao ano. As consequências para a economia do aumento do preço do petróleo são consideráveis. Em primeira análise, o aumento do preço deste bem provoca o aumento do preço de todos os bens e serviços, os custos das empresas são maiores e os lucros menores gerando diminuição das actividades económicas e aumento do desemprego. Por outro lado, com o aumento da inflação surge uma pressão para o aumento das taxas de juro. Na Europa, em consequência do clima vivido no Médio Oriente, esta pressão já se fez sentir e, consequência directa ou não, o Banco Central Europeu anunciou recentemente que as taxas de juro subirão mais cedo que o previsto. Cenário pouco favorável atendendo ao actual contexto económico marcado pela tentativa de recuperação de alguns países Europeus, nomeadamente Portugal.
Importa salientar que, a longo-prazo, os preços elevados do petróleo podem funcionar como incentivo para os países não produtores se libertarem da subordinação ao Médio Oriente, procurando a sua independência energética. Adicionalmente, segundo alguns estudos, a extracção petrolífera atingiu recentemente o seu ponto máximo (“Peak-Oil”) e desde então tem vindo a diminuir. Neste sentido, além do problema Geopolítico, estes países e todas as sociedades, terão que enfrentar um problema Geológico, a escassez deste bem enquanto recurso não renovável.
A solução passa inevitavelmente pela substituição do petróleo por outras fontes de energia, preferencialmente renováveis e menos poluentes. O Biodiesel, o Hidrogénio e o Etanol podem constituir energias alternativas, mas também apresentam limitações. O Biodiesel, apesar das suas potencialidades enquanto substituto do diesel sem quaisquer adaptações nos motores actuais dos automóveis, apresenta uma capacidade limitada pois depende muito da produção agrícola. O Hidrogénio, ao qual se associa a criação de automóveis onde funcionará como combustível, embora seja o elemento mais abundante no Universo, apresenta dificuldades de armazenamento à temperatura ambiente e a necessidade de ser fabricado por não existir na forma pura na natureza. Por último, o etanol, embora seja a energia alternativa mais produzida e que apresenta maiores potencialidades, exige, na sua produção, a aplicação de uma quantidade considerável de energia.
Considerando o aumento da população e da Indústria, aliado ao facto de grande parte dos “motores” da actividade humana: a electricidade, as fábricas, os plásticos, os transportes, a produção de alimentos e água, entre outros; estar profundamente dependente da utilização do petróleo, as limitações associadas às energias alternativas tornam-se problemas consideráveis. Neste sentido, a aplicação destas energias, enquanto verdadeiras alternativas ao petróleo, demorará longos anos e implicará uma importante reestruturação das Sociedades Industriais.
Vera Cruz
Nos últimos anos, o planeta vive um choque petrolífero prolongado. Se, por um lado, o aumento nos preços do petróleo pode ser, na última década, explicado pelo aumento da procura deste bem que, segundo um estudo do HSBC Bank, aumentou 80 p.p., especialmente em consequência do aumento da procura por parte da China, por outro lado, segundo outros estudos, a oferta tem mostrado capacidade para satisfazer plenamente a procura.
Na realidade, a base das flutuações do preço do petróleo é a distribuição desigual desta riqueza entre países. Nada melhor do que a actual situação no Médio Oriente para mostrar a importância desta desigualdade. Nas últimas semanas, com os conflitos vividos na Líbia, a possibilidade da diminuição das exportações tem assombrado os mercados. Segundo Mamdouh Salameh, especialista internacional em petróleo, mesmo que a Líbia pare de exportar, a OPEP tem como substituir essas exportações, no mínimo a curto-prazo. Esta situação será necessariamente temporária, pois a Líbia, mais tarde ou mais cedo, voltará a exportar. Assim, existem condições para manter o nível de oferta. No entanto, os mercados mantêm-se desconfiados e a especulação tem gerado aumento dos preços do petróleo. Esta desconfiança dos mercados, mesmo sabendo da capacidade excedentária alta da OPEP, explica a importância da distribuição desigual do petróleo no mercado, criando grande instabilidade por vezes pouco fundamentada.
Segundo alguns estudos, estima-se que a cada aumento do preço do petróleo em $10/barril está associada uma queda do PIB Mundial de 0,5 p.p. ao ano. As consequências para a economia do aumento do preço do petróleo são consideráveis. Em primeira análise, o aumento do preço deste bem provoca o aumento do preço de todos os bens e serviços, os custos das empresas são maiores e os lucros menores gerando diminuição das actividades económicas e aumento do desemprego. Por outro lado, com o aumento da inflação surge uma pressão para o aumento das taxas de juro. Na Europa, em consequência do clima vivido no Médio Oriente, esta pressão já se fez sentir e, consequência directa ou não, o Banco Central Europeu anunciou recentemente que as taxas de juro subirão mais cedo que o previsto. Cenário pouco favorável atendendo ao actual contexto económico marcado pela tentativa de recuperação de alguns países Europeus, nomeadamente Portugal.
Importa salientar que, a longo-prazo, os preços elevados do petróleo podem funcionar como incentivo para os países não produtores se libertarem da subordinação ao Médio Oriente, procurando a sua independência energética. Adicionalmente, segundo alguns estudos, a extracção petrolífera atingiu recentemente o seu ponto máximo (“Peak-Oil”) e desde então tem vindo a diminuir. Neste sentido, além do problema Geopolítico, estes países e todas as sociedades, terão que enfrentar um problema Geológico, a escassez deste bem enquanto recurso não renovável.
A solução passa inevitavelmente pela substituição do petróleo por outras fontes de energia, preferencialmente renováveis e menos poluentes. O Biodiesel, o Hidrogénio e o Etanol podem constituir energias alternativas, mas também apresentam limitações. O Biodiesel, apesar das suas potencialidades enquanto substituto do diesel sem quaisquer adaptações nos motores actuais dos automóveis, apresenta uma capacidade limitada pois depende muito da produção agrícola. O Hidrogénio, ao qual se associa a criação de automóveis onde funcionará como combustível, embora seja o elemento mais abundante no Universo, apresenta dificuldades de armazenamento à temperatura ambiente e a necessidade de ser fabricado por não existir na forma pura na natureza. Por último, o etanol, embora seja a energia alternativa mais produzida e que apresenta maiores potencialidades, exige, na sua produção, a aplicação de uma quantidade considerável de energia.
Considerando o aumento da população e da Indústria, aliado ao facto de grande parte dos “motores” da actividade humana: a electricidade, as fábricas, os plásticos, os transportes, a produção de alimentos e água, entre outros; estar profundamente dependente da utilização do petróleo, as limitações associadas às energias alternativas tornam-se problemas consideráveis. Neste sentido, a aplicação destas energias, enquanto verdadeiras alternativas ao petróleo, demorará longos anos e implicará uma importante reestruturação das Sociedades Industriais.
Vera Cruz
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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