quinta-feira, 3 de março de 2011

A mulher no mercado de trabalho europeu

Numa sociedade moderna e globalizada como a que vivemos seria de esperar que toda a espécie de discriminação, especificamente no mercado de trabalho, já pertencesse ao passado. No entanto, as notícias com que somos confrontados no dia-a-dia, levam-nos a crer que este fenómeno apesar de ter vindo a perder importância, ainda persiste em mercados desenvolvidos, como se trata o mercado de trabalho na União Europeia. É particularmente notória a diferença que existe entre homens e mulheres no que respeita aos lugares de topo das empresas.
Dados publicados pela Comissão Europeia confirmam que as mulheres representam apenas 12 % dos membros dos conselhos de administração das maiores empresas cotadas em bolsa na União Europeia e só 3% delas são presidentes (CEO) dessas instituições. Acresce ainda que na UE, uma mulher tem de trabalhar, em média, mais 54 dias por ano do que um homem para ganhar o mesmo, estando a disparidade salarial entre os sexos a rondar os 17,5 p.p. Perante estes dados, estaremos perante um cenário de discriminação no mercado de trabalho europeu? A resposta a esta questão não é assim tão linear. Aparentemente podíamos afirmar que sim, no entanto não podemos desprezar o facto da produtividade da mulher ser condicionada pela ausência do emprego em caso de licença de maternidade ou em caso de doença dos filhos, um papel que está ainda maioritariamente associado ao sexo feminino. Estes factos trazem mais dificuldades à mulher para conquistar salários mais elevados (que numa economia de mercado está associado à produtividade marginal) e alcançar lugares de topo nas empresas. Apesar disto, acredito seriamente que persiste discriminação no que toca à contratação de mulheres, visto que muitas empresas não estão dispostas a suportar encargos associados por exemplo à licença de maternidade e é provável que também exista receio em colocar a mulher em postos de chefia por uma questão de autoridade. O sector empresarial é claramente ainda um mundo de homens, visto que as mulheres representam apenas 33% dos empresários europeus.
Os factos apresentados anteriormente entram claramente em contradição com as estatísticas que nos afirmam que na Europa, há mais mulheres licenciadas do que homens (59 % contra 41%). A Suécia e a Finlândia são os países com maior número de mulheres com lugar nos conselhos de administração das empresas (26 %), contra 2% de Malta. O problema da desigualdade no mercado de trabalho europeu não tem ficado alheio à Comissão Europeia, que com diversos parceiros está a discutir se os 27 devem avançar no sentido da regulação da representação feminina nos cargos de chefia empresarial.
A situação em Portugal é ainda mais grave do que na generalidade da Europa, pois somente 5% dos cargos nas administração das empresas, que integram o PSI 20, são ocupados por mulheres. Apenas Ana Maria Fernandes, da EDP Renováveis, chegou a presidente executiva. Relatórios de 2009 apontam que nos países latinos a proporção de mulheres em cargos de administração de empresas é menor, ao contrário de países nórdicos como a Suécia e a Finlândia. Em Itália a realidade é idêntica à portuguesa, sendo que a Grécia chega aos 6% de mulheres executivas e a Espanha é a excepção à regra, já que a percentagem de administradoras femininas no índice espanhol Ibex 35 atinge os 9,6%. Tem havido alguma evolução neste domínio ainda que muito insuficiente, pois estudos que analisaram as maiores empresas de 13 índices accionistas europeus, incluindo Portugal, concluíram que nos últimos dez anos, a proporção de mulheres nas administrações das cotadas europeias aumentou 10%.
O recente Fórum Económico Mundial (FEM) em Davos, que reúne os políticos e empresários mais poderosos do mundo, também se destacou pela reduzida presença feminina.Com o objectivo de aumentar a paridade de géneros em termos de participação no FEM, a organização ambiciona impor uma quota às empresas representadas. Será exigido aos diversos parceiros do FEM que incluem uma mulher por cada cinco delegados presentes no evento. Para além de promover a igualdade, esta medida procura também diversificar o debate. O objectivo desta medida é claramente positivo, no entanto na segunda década do século XXI é preocupante que este tipo de medidas ainda tenham de ser tomadas.
Estudos realizados por diversas empresas (McKinsey, Goldman Sachs, …) afirmam que “as mulheres são uma grande oportunidade económica perdida”. Isto acontece porque as economias beneficiariam de uma melhor utilização do talento feminino (o Reino Unido podia gerar mais 23 mil milhões de libras – 2% do PIB se aproveitasse melhor o talento da mulher). Consta também que as empresas com maior número de mulheres no Conselho de Administração têm melhor desempenho do que as restantes (estudos de 2007 para as empresas da “Fortune 500” apontam que as empresas com mais de três mulheres no Conselho de Administração têm um retorno por acção 83% superior e um retorno de vendas 73% superior).
O papel que a mulher assume enquanto consumidora não pode também ser desprezado pela economia, sendo que nos EUA, as mulheres realizam 80% das decisões de compra, número que não deve diferir muito da realidade europeia. Existem vozes que apelidam a mulher como sendo o consumidor mais importante do mundo e que o sexo feminino não é apenas um nicho de mercado, mas “o mercado”.

Raquel Rodrigues Alves

Fontes:
http://economia.publico.pt/Noticia/apenas-tres-por-cento-dos-ceo-das-maiores-empresas-europeias-sao-mulheres_1482760
http://economico.sapo.pt/noticias/nprint/111664.html
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=462979

[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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