quarta-feira, 9 de março de 2011

O preço do “Pão nosso de cada dia”

O ser humano alimenta-se diariamente de diversas maneiras. Pode consumir desde carne e peixe, até mesmo uma salada recheada de vários legumes e frutos. As hipóteses são incalculáveis e, supostamente, só o gosto do consumidor poderia afectar as suas escolhas. Contudo, os mercados mundiais dificultam todo o processo de consumo e, pelo que vemos constantemente nos jornais e televisões, continuam a prejudicar o quotidiano de todos os consumidores.
Trata-se de uma matéria extremamente delicada e importante, uma vez que a fome, infelizmente, continua a ser uma das causas de morte da população mundial. Sempre se lutou contra este problema mas continuamos ainda muito longe de o resolver. Segundo o Banco Mundial, no período de Outubro de 2010 a Janeiro de 2011, o preço dos bens alimentares aumentou 15 por cento em média, tendo como consequência mais 44 milhões de pessoas na pobreza e em risco de passar fome.
Na minha opinião é algo chocante o que se vê nas facturas, mas, no entanto, compreendo os vários argumentos que nos são dados: - o crescimento da população mundial, que resulta num aumento da procura; - a crise financeira internacional, que provocou um tumulto por parte dos especuladores financeiros para o sector agrícola sobrevalorizando o preço dos produtos alimentares; - as restrições às exportações impostas pelos países exportadores de produtos agrícolas (como forma de assegurar a procura interna), mantendo os preços altos; - e principalmente o preço do petróleo. Os preços elevados dos combustíveis resultam num aumento dos custos, o que terá repercussões no preço dos produtos transaccionados.
Maria Antónia Figueiredo, a presidente do Observatório dos Mercados Agrícolas e das Importações Agro-Alimentares, relatava que os preços dos alimentos iriam aumentar, o que seguia o crescente aumento dos custos do petróleo, algo essencial para o combustível, tão precioso na área dos transportes como na produção de fertilizantes e pesticidas.
Toda esta situação é agravada graças a incidência dos aumentos sobre os produtos que Portugal importa e não sobre os que exporta. Claramente é visível que se importarmos produtos mais caros que os produtos que exportamos, o défice alimentar português sai prejudicado. Citando o antigo ministro da Agricultura e empresário do sector, Armando Sevinate Pinto, “O consumo de alimentos é de cerca de 10 mil milhões de euros por ano em Portugal. Caso se registe um aumento dos preços alimentares de base - cereais e oleaginosas - que são logo 40 por cento das importações, arriscamo-nos a perder entre 30 e 50 por cento, valores entre 750 milhões e 1.250 milhões de euros".
Penso que Portugal e o mundo precisam de mudar de mentalidades e tomar acções mais altruístas. Só se pensa em preencher as carteiras de grandes empresários deixando o pequeno trabalhador de lado. As acções governamentais deveriam concentrar-se mais em políticas de redistribuição de rendimentos, ignorando os luxos supérfluos desta sociedade cheia de consumidores compulsivos. Porque razão é que deveremos construir mais estradas e centros comerciais, se dentro das nossas próprias cidades existem pessoas que não têm dinheiro para alimentar a família, quanto mais para comprar um carro? O nosso governo deveria apostar numa produção interna mais eficiente, com o objectivo de se conseguir sustentar em alguns sectores. Entendo que é um objectivo um pouco impossível mas sem vontade e espírito de prosperar, Portugal irá seguir o rumo que muitos países seguiram e iremos cair num buraco social onde a fome e a pobreza caracterizam grande parte da população.

Telmo Rodrigues

Fonte:
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=1797717&page=-1

[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Sem comentários: