O golpe militar, em Abril de 74, permitiu um aumento nas liberdades de cada um. Os partidos políticos, outrora clandestinos, irromperam surgindo com eles as juventudes partidárias tendo em vista a necessidade que os partidos sentiram em conhecer de perto os problemas com que os jovens se deparavam. As principais motivações, na altura, para os jovens ingressarem nas fileiras das jotas estavam ligadas às referências políticas da época (Mário Soares, Álvaro Cunhal e Sá Carneiro) e o facto de se reverem nos ideais de cada partido. Hoje em dia, o tema política é encarado com desprezo (abstenções elevadas) e os actuais líderes não têm o mesmo carisma e a mesma força de mobilização, pelo que sobra a inclinação ideológica ou a vontade de participação activa na vida política.
Dos partidos com assento parlamentar, o Bloco de Esquerda é o único que não tem uma juventude partidária por não concordar com a divisão política entre jovens e adultos fazendo isto com que seja o partido com mais jovens militantes. Os restantes partidos políticos têm juventudes partidárias activas, sendo a JSD a maior. As jotas dizem-se autónomas, no entanto não são independentes do partido, sobretudo a nível financeiro estando sujeitas à Lei de Financiamento dos Partidos. Porém, seguem, como é óbvio, os ditames do partido, a sua matriz ideológica e funcionam como uma estrutura que o apoia garantindo, entre outras coisas, a renovação e o futuro do mesmo. Ou seja, as juventudes partidárias fornecerão grande parte dos futuros líderes políticos do país.
A população em geral e os jovens em particular vivem alheados da política e isso reflecte-se no nível de abstenção. Nas últimas presidenciais a abstenção superou a barreira dos 50%, um aumento de mais de 10% em relação à anterior. Nas últimas legislativas a abstenção situou-se nos 40% mas o resultado supera os 60% quando se trata de eleições para o Parlamento Europeu. Assumindo que uma parte considerável destas percentagens se deve aos mais jovens, os resultados demonstram a falta de interesse com que vêem a luta política. Esta falta de interesse leva a que os jovens não saibam distinguir se são de esquerda ou de direita ou até mesmo diferenciar os vários partidos. Neste aspecto as juventudes partidárias, que integram, normalmente, jovens entre os 14 e os 30 anos, têm um importante papel: consciencializar os jovens para a política.
Porém, existe sempre o lado negativo. As juventudes partidárias funcionam como uma “escola da política” ou uma “fábrica de políticos” com tudo de mau que daí advém (jogos de poder, rede de contactos, influências, etc.). E uma das maiores críticas que se faz é que elas são um meio para atingir um fim, isto é, servem como trampolim para obter um lugar de topo na actividade política. O que vulgarmente se apelida de “tacho”. Alguns dos seus educandos não chegam sequer a desempenhar uma profissão antes de se tornarem políticos “profissionais” e muitos entram para as juventudes partidárias porque não têm perspectivas de carreira noutro sector. Pelas jotas passaram muitos dos políticos que tomam as decisões do país contemporâneo. Aliás, muitos dos ex primeiros-ministros começaram a sua actividade política nas jotas: José Sócrates começou na JSD, mudando-se depois para a JS escalando de seguida até ao topo do partido e do país; Durão Barroso que, curiosamente, começou numa juventude partidária de extrema-esquerda; Santana Lopes que frequentou a JSD; e, provavelmente, o próximo da lista será Pedro Passos Coelho. Isto não falando de muitos mais que compõem as listas dos partidos. A triste realidade é que a política atrai cada vez menos gente com qualidade.
É necessário acabar com a ideia de que é fácil chegar ao poder, de que basta pertencer a uma juventude partidária e colar uns cartazes para se ter um cargo garantido. Actualmente, as juventudes partidárias são instrumentos dos partidos políticos e isso é notório durante as campanhas. Os partidos políticos usam as juventudes partidárias e a sua “irreverência” para dizer aquilo que não podem e para atacar os adversários, isto é, para fazer o jogo sujo e como são jovens o atrevimento é sempre perdoado. As jotas são também usadas para o partido medir o pulso da opinião pública sobre assuntos fracturantes (casamento homossexual, legalização das drogas, aborto, etc.) sendo que estes assuntos são depois abordados pelo partido de forma mais leve e moderada. As jotas tendem a não discutir os temas mais comuns que são deixados para o partido e estão sujeitos à disciplina deste (recordo o caso da tentativa gorada da JS de levar a referendo o Tratado de Lisboa). Nas juventudes partidárias os jovens são instrumentalizados pelos partidos, estão subordinadas a este.
É essencial a existência de uma estrutura que permita aos mais jovens terem contacto e consciência da vida política, isso apenas traz benefícios ao futuro do país, mas as juventudes partidárias precisam de ser mais credíveis e não podem limitar a sua discussão aos assuntos fracturantes. Necessitam de ser entidades transparentes nos processos e de não se envolverem em relações pouco claras (por exemplo, o contacto com as associações de estudantes onde exercem grande influência nas listas de escolas secundárias e universitárias). Acima de tudo é premente a necessidade na política de pessoas com formação intelectual de qualidade, capazes e com autonomia de pensamento.
Tiago Fernandes Vieira
Bibliografia:
• http://jpn.icicom.up.pt/2005/01/02/formacao_e_historia_das_jotas.html
• http://jpn.icicom.up.pt/2005/01/02/os_homens_que_vieram_das_jotas.html
• http://jpn.icicom.up.pt/2005/01/02/os_rostos_das_jotas.html
• http://jpn.icicom.up.pt/2005/01/02/por_dentro_das_juventudes_partidarias.html
• http://jpn.icicom.up.pt/2005/01/05/juventudes_partidarias_quem_as_move.html
• www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=477455
• www.portaldoeleitor.pt/Paginas/HistoricodeResultados.aspx
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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