No memorando de entendimento a que o governo chegou com a Troika consta “o objectivo crítico do nosso programa para estimular a competitividade: baixar fortemente as contribuições do empregador para a Segurança Social. Esta grande redução da taxa pode ser feita a dois passos, mas o primeiro passo, que deve ser o mais forte, será implementado já no orçamento de Estado para
Como se sabe, actualmente os trabalhadores descontam 11% do seu salário para a Segurança Social, enquanto a entidade empregadora contribui com 23,75% da totalidade dos salários. Estas contribuições são utilizadas para pagar aposentações, subsídios de desemprego e outras prestações sociais.
Tanto o PS como o PSD pretendem reduzir a TUS com o argumento de aumentar a competitividade das empresas. Contudo esta redução terá de ser significativa, caso contrário teria um efeito irrisório nos custos das empresas, e por consequência na sua competitividade. Nas empresas, actualmente, as despesas com o pessoal rondam os 30% da estrutura de custos. Logo um corte nos custos salariais de 10%, por hipótese, apenas diminuiria os custos totais das empresas em 3% (apenas para as empresas exportadoras, que vivem num ambiente concorrencial muito elevado, seria um valor bastante significativo). Uma grande redução na TSU levaria a uma pequena redução dos custos das empresas que poderia ser imediatamente anulada com uma valorização do euro, no caso das empresas exportadoras. O PS fala numa redução de 0,25 p.p. até ao limite de 1 p.p. O PSD, no seu programa eleitoral, afirma que a «TSU será reduzida até 4%». Poul Thomsen, que esteve em Portugal a chefiar o FMI, afirma que o governo está a considerar “efectuar uma dramática e severa redução da TSU, na ordem dos
A polémica actual entre o PS e o PSD centra-se em como compensar a redução das receitas devido à redução da TSU. O PS acusa o PSD de querer aumentar os impostos, o PSD contra ataca, acusando o PS de mentir aos portugueses e desafiando-o a esclarecer como obterá a receita para a Segurança Social.
Tendo em consideração que o total das receitas das contribuições patronais e dos trabalhadores corresponde, segundo o Orçamento de Estado
Em suma, com a redução da TSU em 4 p.p. compensada com o aumento do IVA, verificar-se-ia um aumento deste imposto no valor de 1624 milhões de euros, que seriam pagos fundamentalmente pelos consumidores com rendimentos mais baixos, que gastam a maioria do seu orçamento familiar em bens de primeira necessidade. Esta medida teria o mesmo efeito que um corte nos salários nominais: reduz o poder de compra dos consumidores, que pode acentuar a recessão e o desemprego. Os portugueses com rendimentos mais baixos teriam de pagar mais 1624 milhões de euros de IVA para as empresas pagarem menos 1624 milhões de euros em contribuições para a Segurança Social. Essa redução iria aumentar a competitividade das empresas? Os efeitos de uma redução tão baixa são discutíveis, mas um factor é certo: determinaria um agravamento das desigualdades em Portugal, que já são das mais elevadas de toda a União Europeia.
Para finalizar deixo uma proposta para compensar uma eventual redução da TSU: quem está aposentado, desempregado ou de baixa média a auferir rendimentos elevados deixa de contribuir para a Segurança Social. Em vez de se seguir o caminho mais fácil (aumentar o IVA ou o IRS) a solução pode passar pela contribuição de quem recebe prestações sociais elevadas, superiores a determinado rendimento.
João Miguel Cunha Pereira
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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