sexta-feira, 27 de maio de 2011

Endividamento das famílias portuguesas: até quando?

Todos os dias ouvimos falar da crise, preocupamo-nos com ela e é certo que nos devemos preocupar uma vez que está instalada no nosso país!
Actualmente, o pesadelo do desemprego, a diminuição dos salários reais e o maior endividamento das famílias são indicadores que espelham a falta de liquidez e de solvabilidade das famílias portuguesas.
Portugal está a passar por um dos piores momentos de sempre ao nível do endividamento, quer pela deterioração dos termos da balança comercial quer pelo progressivo aumento das taxas de esforço das famílias e empresas.
Desde a década de 90 o peso das dívidas das famílias portuguesas passou de 19,5% para 124%, ao passo que a taxa de poupança caiu de aproximadamente 20% para 8,3%. Dados assustadores que propiciam a conjuntura económica actual do país!
Como se explica que num país como o nosso, em que a pobreza está aos olhos de todos se tenha vindo a verificar um aumento bastante considerável do consumo?
Só existe uma justificação viável. Os portugueses adoram ostentar, viver para as aparências e acima de tudo viver muito acima das suas possibilidades, colocando-se em situações de risco extremo quase irreversível.
O problema é que o fácil, o agora, o imediato, o consumo sem regras sobrepõem-se ao esforço difícil, à paciência para esperar e à poupança. As pessoas consomem hoje sem pensar no amanhã e muitas vezes consomem o desnecessário, consomem por consumir tornando o próprio acto de consumir em puro consumismo!
O grande problema associado a este consumismo é o endividamento por parte das famílias (o endividamento das empresas e do estado dariam outros artigos…).
Na verdade, para satisfazerem as suas necessidades, muitas vezes supérfluas, os portugueses recorrem com maior frequência a créditos ao consumo que actualmente se manifestam cada vez com menos regras, com mais facilidade de acesso e com menor exigibilidade de garantias apesar da inversão recente. É uma tentação que aparece repetidamente na televisão, na internet, na rádio, apresentando-se como a solução para todos os problemas. São exemplos bem conhecidos as instituições somente creditícias ou os produtos bancários (contas ordenado e todo o tipo de cartões de crédito). Enfim, empresas/produtos que aliciam ao consumo através do uso de uma publicidade enviesada, garantindo facilidade de obtenção de créditos com baixas prestações.
Fruto da constante publicidade ardilosa por parte das referidas entidades, os portugueses vão pedindo empréstimos para comprar bons carros, roupas, electrodomésticos, férias, etc., sem que analisem convenientemente, o seu retorno e o custo inerente ao endividamento.
Este cenário põe em causa a solvabilidade das famílias e a sua estabilidade familiar, colocando em risco não só as próprias como a economia em que se inserem.
É minha opinião, que embora as pessoas tenham receio da crise e de todas as consequências que dela possam advir, ainda não a sentiram a 100% nem têm plena consciência dos efeitos reais da mesma.
Importa cada vez mais que os portugueses sejam racionais no acto de consumir!

Isabel Mesquita

[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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