A crescente terciarização dos países avançados constitui um dos traços mais marcantes da actualidade. Portugal não fugiu à regra e, nas últimas décadas, este fenómeno evidenciou-se com a transferência do pessoal dos meios rurais para os grandes centros e, consequentemente, a transferência do sector primário para o secundário e terciário.
Mas, para começar, é necessário clarificar o conceito de terciarização do emprego. Qualquer economia pode ser dividida em três sectores (critério original de Colin Clark): o sector primário engloba a agricultura, silvicultura, pesca, pecuária e muitas outras actividades ligadas à natureza - são actividades económicas que extraem ou produzem matéria-prima; o sector secundário, sendo o responsável por transformar matéria-prima em produtos de consumo, engloba a construção, produção de energia, indústrias transformadoras, entre outras; por último, o sector terciário é o sector dos serviços, englobando o comércio, turismo, transportes, ensino, etc.
Sendo assim, podemos definir terciarização do emprego como a transferência de grande parte dos trabalhadores do primeiro e do segundo sectores para o terceiro – o sector dos serviços.
Segundo dados do observatório das desigualdades, entre 1988 e 2008, o número de trabalhadores em empresas portuguesas aumentou em mais de um milhão, passando de 1,997,560 para 3,271,947 (é de notar que este aumento é mais significativo no sexo feminino). No entanto, mesmo com este aumento exponencial, a percentagem de população empregada nos sectores de actividade primário e secundário decresceu – fenómeno de terciarização – sendo que esta transferência entre sectores foi particularmente acentuada nas mulheres (a percentagem de mulheres empregadas no sector terciário aumentou, no período referido, de 50% para 71%). Outra alteração que merece referência é a grande evolução do nível de habilitações dos trabalhadores das empresas portuguesas que foi, também, mais acentuada entre as mulheres, sendo que os últimos dados mostram que a percentagem de indivíduos do sexo feminino com elevados níveis de escolaridade é superior à percentagem de indivíduos do sexo masculino com elevados níveis de escolaridade - facto que pode ser explicado pelo aumento do número de mulheres nas universidades a partir dos anos 80.
Dos dados apresentados podemos, então, concluir que, nas últimas décadas o mercado de trabalho português sofreu uma forte terciarização, acompanhada de uma feminização e escolarização.
Na minha opinião, estes dois últimos fenómenos apresentam-se como causa e efeito do primeiro. Isto porque, com o aumento das mulheres no mercado de trabalho e com os maiores níveis de escolarização da sociedade em geral, não só o capital humano se torna mais forte como também se desenvolve mais a economia, o que leva, por sua vez, ao desenvolvimento do terceiro sector.
Sabendo que existe uma relação entre a distribuição dos trabalhadores de um país pelos 3 sectores e o seu grau de desenvolvimento, ou seja, países menos desenvolvidos vêem grande parte da sua mão-de-obra empregue no primeiro sector e, por outro lado, países mais desenvolvidos vêem a maior parte do factor trabalho distribuído pelo segundo e terceiro sectores, é importante referir que o nosso país demonstra uma tendência de desenvolvimento nas últimas décadas, reflectindo-se ao nível económico e social. Contudo, nos últimos anos o ritmo de convergência com a União Europeia abrandou e as disparidades regionais ainda são demasiado importantes.
Ana Luisa Gonçalves e Vale Meira
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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