Portugal é um país de emigrantes!
Durante vários séculos, milhões de portugueses emigraram, tendo-se espalhado por todo o mundo. Várias e distintas foram as razões que a esta conduziram, nomeadamente, razões económicas, procura de melhores condições de vida (sobrevivência), razões culturais, razões políticas, razões religiosas.
A emigração acabou por influenciar a contextualização do país e a sua realidade, quer em termos de história, da sua economia, da sua política e da própria cultura.
Assistiu-se à maior vaga de emigração do país entre a década de 50 e 70, com a deslocação de portugueses para toda a Europa. Entre 1958 e 1974, as estatísticas oficiais registam que 1,6 milhões de portugueses emigraram, em média, 82.000 emigrantes/ano. Posteriormente podemos apontar uma saída de 230.000 emigrantes, entre 1974 e 1988. A emigração portuguesa variou muito, quer no que respeita ao volume de emigrantes, bem como nos locais de eleição.
Importa contextualizar a situação económica e política com que a população portuguesa se deparava nestes diferentes momentos temporais e que justificam a necessidade de emigrar. Para além das razões internas podemos apontar as oportunidades de emprego em toda a Europa Ocidental.
Foram várias as consequências da emigração dos portugueses. Nomeadamente, a emigração afectou todo o território português tendo conduzido a uma desertificação do interior do país; aumento da entrada de remessas de divisas dos emigrantes; o desenvolvimento de comunidades de portugueses residentes no estrangeiro que contribuíram para o desenvolvimento económico dos países em que se situaram; aumento do comércio com o exterior, desenvolvimento do turismo e das actividades terciárias nas zonas urbanas mais desenvolvidas e um processo de crescimento urbano e industrial das zonas do Norte Litoral e Centro do país e massificação dos centros urbanos.
Apesar de a conjuntura do país se ter alterado, continua a existir emigração da população portuguesa. No entanto, esta emigração é distinta da anteriormente verificada. A diferença consiste no facto de que a população que agora emigra é uma população mais jovem e mais qualificada, estimando-se que esta seja de cerca de 19%.
Apesar de a massa populacional ser agora diferente, muitas das razões que levam à emigração são as mesmas. Nomeadamente, a procura de oportunidades de emprego, salários mais elevados, melhores condições de vida e o próprio espírito de aventura dos jovens. Também programas como os Erasmus e outros programas de estágios, propostos pelo próprio governo, incentivam à emigração dos jovens, mesmo que temporária, mas que possibilita o conhecimento de culturas diferentes.
Esta tendência aumenta em épocas de crise, onde se verifica menor actividade económica e logo menor criação de emprego. Veja-se que em 2005, a emigração foi de 10.680 emigrantes/ano, tendo em 2006 sido de 10.800 emigrantes/ano, em 2007 (ano de início da crise actual) foi de 26.800 emigrantes/ano, em 2008 de 20.357 emigrantes/ano e em 2009 de 16.899 emigrantes/ano.
No momento actual em que vivemos, verificámos todos os dias esta falta de criação de emprego para os mais qualificados, que acabam por ter duas alternativas. Ou aceitam empregos que nada tem a ver com a área em que se especializaram, muitas vezes com níveis de exigência muito baixos e consequentemente com salários muito menores do que aqueles que poderiam obter se estivessem a exercer a actividade para a qual investiram durante anos de estudo. Ou então procuram oportunidades noutros países. O que parece ser uma possibilidade muita mais atractiva. Conduzindo assim à perda por parte do nosso país dos indivíduos qualificados, nos quais houve um investimento não só da parte dos próprios indivíduos e famílias mas também por parte do Estado. O que vai conduzir a um empobrecimento da população residente no país, uma vez que diminui a população qualificada, comprometendo a inovação, a investigação e o desenvolvimento e consequentemente o crescimento económico do país.
É importante atender que o desenvolvimento económico de um país passa pela qualificação dos jovens porque é com estes que irão surgir novas ideias, novos processos e consequentemente o desenvolvimento. Então será necessário não só qualificar os jovens, mas também mantê-los no país. Para isto será necessário criar uma série de condições que os cativem. Nomeadamente a criação de mais e novos postos de trabalho, a criação de melhores condições de trabalho, o surgimento de novos centros de investigação e desenvolvimento, a criação de incentivos para as empresas contratarem jovens licenciados, entre tantas outras possibilidades.
Conforme defende Daniel Bessa, a competitividade do nosso país terá como motor a qualificação da população. Sendo que a falta de qualificação e a qualificação tardia, a qual tem vindo a aumentar conforme o verificado nos últimos anos, são um entrave ao desenvolvimento da nossa competitividade. Então será ainda mais preocupante que esta fuja do país. Assim, o mais importante será o travar esta saída de população qualificada do país, a qual foi considerada a geração mais qualificada que Portugal já teve e que tanta falta faz e fará a Portugal.
Helena Maria Veloso Dias
Fontes:
http://www.ub.edu/geocrit/sn-94-30.htm, Aspectos da Emigração Portuguesa, Prof. Dr. Jorge Carvalho Arroteia, Universidade de Aveiro.
[artigo de opinião produzido no âmbito da u.c. "Economia Portuguesa e Europeia", do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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