Quando reflectimos sobre as mudanças, temos a tendência de
considerar as mais recentes como as mais revolucionárias, o que é contestado
pelos factos. Assim sendo, a internet não é tão importante como a máquina de
lavar e outros electrodomésticos que vieram reduzir substancialmente o número
de horas gasto no desempenho das tarefas domésticas, permitindo às mulheres
entrar no mercado de trabalho.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho, estima-se
que 8 % da força de trabalho do Brasil e 9% do Egipto tenham como emprego a
prestação de serviços domésticos. Por outro lado, os valores correspondentes
são de 0.7% na Alemanha, 0.6% nos EUA, 0.3% em Inglaterra, 0.05% na Noruega e
0.005% na Suécia (valores referentes à década 2000). Por conseguinte,
concluímos que em termos proporcionais existem muito menos empregados
domésticos nos países ricos. Confesso que estes dados me suscitaram dúvidas,
visto que não corroboravam as minhas expectativas iniciais. Todavia, com o
desenvolvimento económico, a mão-de-obra tornou-se mais cara, pelo que o
serviço doméstico tornou-se um bem de luxo.
Não é fácil obter estatísticas, mas um estudo de meados dos
anos 40, realizado pela Autoridade de Electrificação Rural dos EUA, conclui
que, com a introdução da máquina de lavar eléctrica e do ferro eléctrico, o
tempo necessário para lavar 17kg de roupa reduziu-se quase seis vezes (de 4h
para 41min). O surgimento dos electrodomésticos,
bem como da electricidade, a água canalizada e do gás canalizado, transformou
totalmente a forma como as mulheres vivem e, consequentemente, também dos
homens. A título de exemplo, nos EUA, a proporção de mulheres em idade activa a
trabalhar fora de casa aumentou, passando de poucos pontos percentuais, em
1890, para quase 80% actualmente.
A internet transformou, evidentemente, a forma como as
pessoas passam os seus tempos livres – navegando na rede, teclando com os
amigos no facebook,
falando com eles no Skype,
participando num jogo electrónico com alguém que está a milhares de km de distância.
Também melhorou a eficiência com que encontramos informação. Todavia, no que
respeita a processos de produção, não é claro que os impactos tenham sido assim
tão revolucionários. Sem dúvida, que para algumas pessoas a internet alterou a
forma como trabalham. Sei isso por experiencia própria. Estudos sobre o assunto
deparam-se com adversidades de forma a detectar o nível de impacto sobre a
Economia – “a evidência está em todo o lado menos nos números” (Robert Solow).
Em suma, não devemos olhar para o passado usando “o
telescópio ao contrário”, uma vez que leva-nos a tomar decisões erradas
relativamente à política económica nacional, bem como às políticas empresariais
e às nossas carreiras. Poder-se-á dizer que a comparação relatada aqui é
injusta. Os electrodomésticos de forma generalizada tiveram algumas décadas
para fazer obrar a sua magia, contudo julgo que a internet não terá tanto
impacto em termos de produtividade, pelo que devemos aprender a relativizar as
transformações.
André Silva
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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