As parcerias público privadas (PPP) têm tido, nos últimos
anos, um grande impacto nas despesas da administração central.
As PPP são contractos administrativos de vários anos
celebrados entre entidades públicas e parceiros privados e têm como objectivo
assegurar o financiamento, a construção, a gestão e a exploração de uma infra-estrutura
de interesse público ou assegurar a prestação de um serviço público. Nestes
contratos, a entidade privada compromete-se a executar a obra e a suportar os
seus custos de investimento, em contrapartida o Estado entrega-lhe a concessão
desta obra durante um longo período de tempo.
Portugal recorreu imenso a este tipo de contractos como
forma de financiar várias obras de interesse público. É o país que mais usa
este tipo de parcerias em
toda Europa , sendo que, em 2011, o valor das PPP em percentagem
do PIB ascendia os 10,6%, ultrapassando mesmo o Reino Unido, pais pioneiro
neste tipo de contractos, cujo valor se encontrava nos 8,5% do PIB. Saúde e
transportes são os sectores onde o governo tem recorrido mais a este tipo de
contractos, no entanto o Governo também estabeleceu parcerias público-privadas
na área da energia e segurança interna.
Um dos argumentos mais utilizados pelos agentes políticos
a favor das PPP é a redução de custos baseada numa maior eficiência da gestão
privada. Porém, é necessário ter em mente que o custo de financiamento das PPP
é bastante superior ao da dívida pública que financiaria os mesmos projectos em
contratação tradicional. Os investimentos do sector privado em PPP exigem
prémios de risco, ou seja, implicam taxas de rentabilidade acima da média e,
por último, os custos de transação são bastantes superiores que os custos de
transação dos projetos convencionais. Um outro problema é a longa duração
destes contratos, que leva à constituição de monopólios nestes sectores e à
consequente redução da qualidade dos serviços prestados.
Um relatório da comissão de inquérito às PPP que foi
entregue este ano no parlamento, concluiu que um dos principais problemas
destes contratos foram os estudos encomendados pelo Governo que serviram de
base à celebração dos mesmos. Estes assentavam em “cenários inflacionados e
pouco realistas”. O estudo afirma ainda que os políticos aproveitam-se destes
contratos para realizarem obras sem que estes investimentos fizessem aumentar a
dívida pública. O relatório afirma mesmo que foi um “aproveitamento politico
pernicioso”, proveniente do facto destes tipos de contratos não se refletirem
na dívida pública.
No sector rodoviário, os contratos relativos às parcerias
público-privadas têm sofrido vários reequilíbrios financeiros que têm conduzido
a encargos adicionais para o Estado.
Tomando como exemplo o contrato estabelecido com a
Lusoponte, cujo objetivo incide na construção da ponte Vasco da Gama e a
concessão da ponte 25 de Abril. Este contrato sofreu vários ajustamentos desde
que foi celebrado. Em Junho deste ano estes ajustamentos já tinham
custado aos cofres do Estado cerca de 847 milhões de euros. Parte destes
ajustamentos são resultado do erro de cálculo do volume de tráfego nas 2
pontes. Na altura da celebração do contrato, o Governo assumiu crescimentos
elevados de tráfego, que não se concretizaram e que obrigou a uma compensação
financeira por parte do Estado. O mais curioso é que esse crescimento de
tráfego assumido pelo Governo não era de todo previsível. Por outro lado, a
onda de contestação contra o aumento das portagens na Ponte 25 de Abril obrigou
o Governo a rever sucessivamente todo o contrato.
Um outro exemplo é o contrato estabelecido com o Metro
Sul do Tejo. Os encargos financeiros com esta concessão, em 2009, já tinham
ultrapassado os 350 milhões de euros, devido, novamente, a erros de cálculos
dos níveis de utilização. Estes são bastante inferiores aos inicialmente
previstos.
As parcerias público privadas na área da saúde têm o
objetivo de importar para a saúde as várias vantagens da gestão privada sem, no
entanto, condicionar a qualidade e universalidade dos serviços prestados. Neste
momento, existem quatro hospitais que foram construídos e são geridos segundo este
modelo: os hospitais de Loures, Cascais, Vila Franca de Xira e Braga. Os
encargos com estas parcerias, no final deste ano, vão situar-se nos 388,5
milhões de euros, representando um acréscimo de 12,3 milhões de euros em
relação ao inicialmente previsto. A razão apresentada são o início do pagamento
de renda do edifício nalguns casos e o crescimento da renda do edifico noutros.
Os contratos foram, entretanto, revistos e, para o próximo ano, terão um
reforço de cerca de 8,5 milhões de euros.
No cômputo geral, os encargos com as PPP custaram este
ano ao Estado cerca de 869 milhões de euros, e no orçamento de Estado para 2014
prevê-se um gasto com este tipo de parcerias a rondar os 1645 milhões de euros,
sendo o sector rodoviário o responsável por a maior fatia deste valor: cerca de
70,8 % são destinados às parcerias público privadas do sector rodoviário.
Ana
Isabel Vilaça da Costa
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário